A esqu… erda norte-americana é, definitivamente, esqu… izofrénica. Desde 2008 que os seus diversos «porta-vozes», na política, na comunicação social e no entretenimento, se esforçam por convencer os EUA de que Sarah Palin é imbecil, incompetente, irrelevante... Porém, acabam sempre por demonstrar, com alguma frequência, que ela é exactamente o oposto. Um dos mais recentes exemplos é um anúncio da campanha de Barack Obama em que ela é a «vilã» - e convém sempre recordar que ela não exerce actualmente qualquer cargo público nem está a concorrer para um. Outro exemplo, ainda mais eloquente quanto a esse sentimento (não correspondido) de «amor-ódio» sentido pelos «progressistas» em relação à ex-governadora do Alaska, é o filme «Game Change», estreado no passado dia 10 de Março…
… No canal HBO, que há quem acredite significar, na verdade, «Home of Barack Obama». Os principais nomes da equipa daquele filme - produtor, realizador, argumentista e actores – são todos de democratas e apoiantes de democratas: Tom Hanks, Jay Roach, Danny Strong, Ed Harris, Julianne Moore e Woody Harrelson não só votam e apelam ao voto no PD como costumam contribuir financeiramente para ele e para os seus candidatos. Importa igualmente esclarecer, ou lembrar, que Roach e Strong foram em 2008 também, respectivamente, realizador e argumentista de «Recount», igualmente da HBO, sobre a controvérsia da (re)contagem de votos na Flórida na eleição presidencial de 2000 – e, segundo todas as recensões, aquele filme mostrou-se mais favorável a Al Gore do que a George W. Bush. Repare-se, pois, nesta (mais do que) aparente tendência de lançar filmes anti-PR em anos de eleições presidenciais… uma «coincidência», claro!
Antes de saber se o que está em «Game Change» é verdadeiro ou não, deve-se saber o quanto está, por comparação com o livro «Game Change – Obama and the Clintons, McCain and Palin, and the Race of a Lifetime», de John Heilemann e Mark Halperin, em que o filme é baseado. E a resposta… está desde logo no título: a obra original foi sobre toda a campanha de 2008, tanto do lado democrata como do lado republicano; aliás, nem foi bem metade-metade para cada um, porque a disputa entre Barack e Hillary, e até as peripécias de John Edwards, ocuparam mais páginas do que a nomeação do senador pelo Arizona e a escolha da sua «running mate». Então, por que motivo os responsáveis pelo filme decidiram não adaptar (pelo menos) 50% do material de base, ainda para mais envolvendo aqueles que estão agora no poder, como presidente e como secretária de Estado (ministra dos Negócios Estrangeiros) dos EUA? A resposta mais básica, e correcta, é «porque eles querem (sempre) favorecer os democratas e prejudicar os republicanos»; mas, desta vez, trata-se de algo mais complexo… e maquiavélico: os autores do filme partiram do pressuposto de que Sarah Palin não só se candidataria à nomeação pelo Partido Republicano mas que também, neste momento, poderia estar já na liderança da «corrida» - note-se que «Game Change» estreou poucos dias depois da recente «super terça-feira».
Se na «forma» há alguma surpresa, no «conteúdo» nem por isso: apenas outro «hit job» que, ao contrário dos precedentes, dispõs de mais meios; repleto de mentiras, meias-verdades, deturpações, exageros, omissões; a «consagração» de todos os (falsos) clichés - só faltou Katie Couric e Tina Fey fazerem uma aparição. Heilemann e Halperin nunca estiveram em qualquer comício do PR, nunca falaram com John McCain nem com Sarah Palin; esta não só – obviamente! – se negou a «auxiliar» a HBO como desmentiu veementemente, tal como várias pessoas que a acompanharam de perto em 2008, que o «retrato» corresponde à realidade. Mas não todas: houve duas excepções, dois «informadores» que tentaram fazer de Palin o bode expiatório do fracasso de há quatro anos e assim ocultar as suas culpas na (má) condução da campanha de McCain, em especial pela insuficiente, ou mesmo inexistente, denúncia do passado duvidoso de Barack Obama, e pela má resposta ao eclodir da crise financeira. Trata-se de Steve Schmidt e de Nicolle Wallace, respectivamente estratega e conselheira principal da candidatura McCain-Palin, que assim assumem aquilo que de facto são: traidores. Para cúmulo, Meghan McCain afirma que Wallace nem sequer votou no pai!
No entanto, e porque, como se costuma dizer, «tudo o que é de mais é moléstia», até na «lamestream media» parece começar a registar-se algum enfado com tantos excessos anti-Sarah Palin. O Washington Post não tardou em noticiar que «Game Change» constituiu um relativo fracasso de audiência. E, no ano passado, o New York Times, cinco dias depois de ter elogiado (!) um discurso da ex-governadora, criticou (muito) desfavoravelmente um livro sobre ela, repleto de rumores, escrito por um voyeur ordinário e sensacionalista… que, curiosamente, foi tido como credível, em Portugal, por Diário de Notícias, Público e SIC. Sim, ainda há muito a fazer para combater essa estranha doença a que demos o nome de «PALINfrasia».
(* palinfrasia s. f. MEDICINA perturbação da elocução caracterizada pela repetição da última sílaba das palavras e, às vezes, de todas as sílabas de cada palavra (principalmente no atraso mental e na demência precoce) (Do gr. pálin, «de novo» + phrásis, «elocução» + ia) ) (Dicionário da Língua Portuguesa 2006, Porto Editora, página 1240)
(Ler também: «Palin Power»; «PALINfrasia»; «PALINfrasia (Parte 2)».)
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