segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Distorções portuguesas

O Obamatório, nunca é demais recordá-lo, foi criado em reacção, e como «compensação», à grande, constante e escandalosa distorção que a maior parte dos órgãos de comunicação social portugueses faz da realidade – política, principalmente, mas não só – dos Estados Unidos da América. Obviamente, há excepções, mas muito poucas, constituídas por jornalistas e/ou analistas que têm conhecimento e lucidez suficientes para saberem destrinçar, à partida, os factos das fantasias, e não se deixarem manipular pelos preconceitos e pela propaganda. Porém, até mesmo as pessoas que pensávamos estarem nessa categoria podem surpreender-nos desagradavelmente. Relatarei em seguida três exemplos ocorridos neste ano.
O primeiro vem de Henrique Raposo. O investigador em política internacional e cronista do Expresso escreveu um livro, «Um Mundo sem Europeus», cujo primeiro capítulo «é uma crítica ao conceito de "Guerra ao Terror" e uma desvalorização (estratégica) do 11 de Setembro: "o 11 de Setembro não mudou o mundo". Obrigado, Barack.» Pelo que lhe enviei uma mensagem em que lhe pergunto «você acredita mesmo que “o 11 de Setembro não mudou o Mundo” e... agradece a Barack Obama?! Você não tem acompanhado o que tem acontecido nos EUA em especial nos últimos dois anos, pois não?» Foi enviada a 28 de Maio e até hoje não obtive resposta.
O segundo exemplo vem de Manuel Halpern. A «crítica», publicada no Jornal de Letras, Artes e Ideias, que o auto-intitulado «homem do leme» fez do filme «The Blind Side» (que proporcionou um Óscar de melhor actriz a Sandra Bullock) levou-me a enviar-lhe uma mensagem: «(...) Você parece não se aperceber de como é ridículo acusar um filme de significar um... “retrocesso civilizacional” (!!) por abordar uma história (verdadeira) de altruísmo! Mas, lá está, como é “branco, republicano e cristão”, só pode ser “reaccionário”, e logo, condenável, censurável. Do que se deduz, do seu “pensamento”, que mais valia ter aquela família branca, republicana e cristã (que “horror”!) não se ter interessado por aquele jovem, não o ter ajudado, para assim ele poder ter, muito provavelmente, uma vida infeliz e miserável e uma morte prematura e violenta. Aí sim, seria uma história “edificante”, exemplar, nada “reaccionária”! (...) Não, “antes de tudo o resto” ele é alguém que precisa(va) de ajuda, e não interessa(va) a côr da pele dele nem a côr da pele dos que o ajudaram. Acha que ele só podia, devia, ser ajudado por uma família negra? Ou por uma família branca apenas se fosse democrata e não cristã?» Foi enviada a 1 de Abril e até hoje não obtive resposta (provavelmente pensou que era mentira).
O terceiro exemplo vem de João Lopes. No blog Sound & Vision que partilha com Nuno Galopim, também jornalista do Diário de Notícias, aquele conhecido crítico de cinema e de televisão escreveu que «basta seguirmos as divertidas análises de Jon Stewart (The Daily Show) para compreendermos o funcionamento da Fox News no interior do espaço televisivo dos EUA.» Pelo que lhe enviei uma mensagem em que me permito «traduzir» aquela afirmação: «para analisar um determinado canal de televisão não é preciso vê-lo; basta ver as paródias – assentes na deturpação, caricatura e descontextualização – feitas por um programa de comédia, que é declaradamente (ao nível político-partidário, ideológico, cultural) hostil ao referido canal.» E continuei: «O João Lopes nunca viu, ou vê, a Fox News, pois não? Pois então, antes de emitir as suas opiniões, aconselho-o a vê-la... e a não seguir exclusivamente as “análises” do humorista Jon Stewart. E, ao fim de algum tempo a ver este canal, chegará à conclusão – incontestável – de que a Fox News não “demoniza” “tudo aquilo que, com maior ou menor justificação, possa ser apresentado como efeito da administração de Barack Obama.” O que ela faz é revelar, divulgar os – muitos e verdadeiros! – factos negativos, desfavoráveis, sobre BHO e a sua administração, que praticamente todas as outras estações e grandes jornais ditos “de referência” omitem ou distorcem... porque são todos, em maior ou menor grau, afectos ao Partido Democrata. E esses órgãos de comunicação social estão todos, ou quase, com graves problemas financeiros ou em pré-falência – devido exactamente à sua parcialidade e pouca fiabilidade. Ao mesmo tempo, a Fox News vê as suas audiências e receitas aumentarem (e muito), e já existem até estudos (feitos por instituições não afectas ao Partido Republicano) que a colocam como a organização noticiosa mais credível junto dos americanos. (...) Jon Stewart pode proporcionar muito riso mas não necessariamente muito siso. » Foi enviada a 8 de Fevereiro e até hoje não obtive resposta; no entanto, é de notar que, desde então, e pelo que tenho observado, João Lopes não voltou a pronunciar-se sobre a política e os media nos Estados Unidos; talvez tenha passado a ver, e sem «intermediários», a Fox News!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Inversão de marcha

E é também assim que uma democracia pode transformar-se, quase sem se dar por isso, numa ditadura: nos Estados Unidos da América um juíz federal decidiu que é inconstitucional a denominada «Proposition 8», uma medida aprovada no ano passado em referendo na Califórnia que proíbe os chamados «casamentos entre pessoas do mesmo sexo». Ou, por outras palavras, a vontade de uma pessoa valeu mais – por enquanto... – do que a vontade de sete milhões.
O que praticamente quase ninguém deste lado do Atlântico deve saber é que o juíz (ir)responsável por esta «inversão», Vaughn Walker, é homossexual! Só quem seja muito ingénuo é que acreditará que não houve qualquer influência dessa circunstância nesta decisão. É isto que a «seita do arco-íris» toma por uma «grande victória»? Algo obtido por alguém com o poder de decidir, literalmente, em causa própria?
Sejamos claros: os «homossexualistas» – isto é, os activistas da homossexualidade, aqueles que fazem da sua privacidade uma questão pública e ideológica – não constituem uma minoria discriminada que carece de direitos básicos mas sim um grupo supremacista que exige privilégios exorbitantes, e que não hesitam em ameaçar e (tentar) prejudicar quem se lhes opõe. Nos EUA a sua influência é cada vez maior e, politicamente, é o Partido Democrata o mais susceptível às suas pressões. Barack Obama pode ser a favor do «casamento tradicional» mas isso não impediu que ele e a sua administração tomassem decisões ou permitissem acções que vão no sentido de aumentar o poder dos LGBT’s. Como, por exemplo, as que possibilitam que se questione... o «casamento tradicional» - o Sr. Hussein até já fez promessas nesse sentido à «comunidade rosa» na Casa Branca. Ou que atribuem lugares governamentais a personagens tão sinistras como Kevin Jennings ou Chai Feldblum, que considera que o «sexo gay é moralmente bom». Ou que «abrem a porta» (do «armário»?) às chantagens dos militares queer que querem a abolição da lei «Don’t Ask, Don’t Tell». Aliás, foi um deles quem deu à WikiLeaks milhares de documentos confidenciais.
É no ensino que ocorrem igualmente situações inquietantes: um professor queixou-se de ser discriminado por ser... heterossexual; uma professora foi mesmo despedida por não dar como facto que a homossexualidade é hereditária. Pergunta Andrew Klavan: «o que vamos fazer com essa gente gay?» Resposta: porque não levá-la ao novo bar de Greg Gutfeld?

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A mais «silly» desta «season»

Mal poderia eu adivinhar (bem, dados os antecedentes, até poderia, ou deveria, adivinhar...) que, logo após ter inserido a anterior entrada no Obamatório sobre a «Silly Season» da política norte-americana, ocorreria a acção, ou a afirmação, mais «silly» desta «season»: Barack Obama a manifestar o seu apoio à construção de uma mesquita perto do «Ground Zero» de Nova Iorque... e perante uma audiência de muçulmanos a celebrar o início do Ramadão!
Esta atitude é «silly» a vários níveis. Primeiro, porque, mais uma vez, o presidente vai contra a opinião da maioria dos americanos, como na «reforma» do sistema de saúde e na lei de imigração do Arizona. Segundo, porque, apercebendo-se ele (ou algum dos seus conselheiros) da extemporaneidade (para utilizar em eufemismo) daquela declaração, tentou depois fazer um «controlo de danos», desmentido e/ou esclarecendo e/ou corrigindo o que dissera... o que só veio agravar a situação. Terceiro, veio dificultar ainda mais as campanhas – e diminuir as esperanças – do Partido Democrata e dos seus candidatos para as próximas eleições de Novembro. Para se ter a certeza do quão grande foi este erro, registe-se que até Harry Reid discorda de Obama!
Convém clarificar de uma vez por todas: os que se opõem à construção do «centro comunitário» designado por «Cordoba House» - que, segundo Nancy Pelosi, deveriam ser investigados (!) – não põem em causa a legalidade da intenção mas sim a sua sensatez... ou falta dela: é, incontestavelmente, um desrespeito pela memória dos que morreram a 11 de Setembro de 2001 e pelos sentimentos dos seus familiares e amigos. Não se está a dizer «não construam»; está-se, sim, a dizer «construam em outro sítio». Compare-se: em muitos países islâmicos não se pode construir templos de outras confissões religiosas, ao contrário do que acontece em nações ocidentais como os EUA... ou será que já nem tanto? É que, em contraste com a rapidez com que foi dada a autorização para erguer a mesquita, a igreja que existia perto do World Trade Center não deverá ser reerguida.
Porquê ser tolerante com aqueles que não são tolerantes? Sim, há quem queira implantar a Sharia nos Estados Unidos, e entre esses está Feisal Abdul Rauf, um dos cabecilhas do projecto em Nova Iorque, apoiante do Hamas e do Hezbollah, que disse que a América tinha parte da culpa pelo 9-11... mas que faz viagens pagas pelo Departamento de Estado! Entretanto, outro efeito perverso desta discussão é, espantosamente, a desvalorização – delirante - que alguns fazem do que aconteceu há nove anos: no Daily Kos escreveu-se que os ataques foram «mais uma questão de óptica»; na Time escreveu-se que o «Islão radical pode já não existir». Mas, lá está, os «intolerantes» são sempre os mesmos... os brancos e cristãos. Que também devem estranhar que, numa escola do Michigan, os treinos de futebol americano se façam de madrugada por causa do Ramadão.
Enfim, a contínua «compreensão» do Sr. Hussein pelos direitos dos muçulmanos (não fala tanto em deveres) pode estar a ter custos algo inesperados. Numa recente iniciativa de angariação de fundos em Los Angeles – que causou um enorme engarrafamento na cidade – foi notada a ausência de Barbra Streisand e de Jeffrey Katzenberg. Será que para alguns judeus, mesmo que liberais, certas coisas começam a ser demais?

domingo, 15 de agosto de 2010

«Silly Season»

Para certas individualidades da política dos EUA a «Silly Season» dura todo o ano: não é só no Verão que dizem e fazem asneiras com diferentes graus de imbecilidade e de irresponsabilidade. Porém, e seguindo a «tradição estival», vejamos que casos parecem ter sido, ou ainda estar a ser, «condicionados» pelo calor...
... E pode-se começar pela visita de férias que Michelle Obama fez a Espanha, juntamente com a filha mais nova e uma comitiva de dezenas de pessoas – uma deslocação que, pelos seus custos, foi muito mal vista num momento de dificuldades económicas no país, e criticada até por democratas. Houve quem falasse em «Antigo Regime» e «Maria Antonieta».
As opiniões não seriam tão negativas se as «Obamanomics» não tivessem falhado.. mas falharam, e isso pode provocar um «ataque de pânico democrata». No entanto, há quem continue a acreditar em «histórias da Carochinha», como o presidente da confederação sindical AFL-CIO, Richard Trumka, que afirma que os Estados Unidos não têm uma crise de défice! Ele deveria ouvir Erskine Bowles, outro apoiante de Barack Obama e por este nomeado co-líder de uma comissão formada para «examinar a dívida», a dizer que a nação irá à bancarrota se não for restaurada a «sanidade fiscal». Steny Hoyer deve ter ouvido Bowles mas não o percebeu, porque se referiu ao fim dos cortes nos impostos decididos por George W. Bush – porque, pura e simplesmente, não foram prorrogados por Obama – como um «aumento republicano dos impostos»! É mais uma variante da já famosa – ridiculamente famosa – estratégia «Blame Bush!», que, aliás, também o actual presidente continua a seguir.
Onde parece igualmente não existir qualquer sanidade... mental é em determinados sectores da esquerda norte-americana, cujas acções acabam, na prática, por prejudicar os afegãos e auxiliar a Al-Qaeda. E isto quando não estão entretidos a desejar a morte de Sarah Palin.
E que mais se pode dizer de Harry Reid, «decano dos palhaços» da política norte-americana, «a man for all silly seasons»? Ouçam-no a dizer que não sabe como é que algum hispânico pode ser republicano (!!), e melhor se compreenderá porque é que: uma mulher que morreu pediu, como um dos seus últimos desejos, que não votassem nele; e o seu próprio filho não usa o apelido na campanha eleitoral!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A excepção e a regra

Muito barulho se fez na lamestream media dos EUA – e, significativamente, até na RTP, através do sempre «fiel» Victor Gonçalves – com um caso que, supostamente, seria a demonstração definitiva da «malevolência» da Fox News em geral e de Bill O’Reilly em particular: o das alegadas afirmações racistas de Shirley Sherrod que afinal, foram descontextualizadas. O próprio O’Reilly não teve qualquer problema em assumir o erro e em explicar a situação, as suas causas e consequências (ver aqui, aqui e aqui), embora deixando bem evidente que a senhora em questão não é, ou não tem sido, propriamente um bom exemplo no que respeita a um comportamento irrepreensível. Porém, o que importa salientar é que esta é uma excepção a uma regra composta por (muitas) dezenas de notícias verídicas e incontestáveis – e (muito) desfavoráveis a Barack Obama e/ou ao Partido Democrata e/ou aos seus apoiantes – que outros canais e jornais omitem ou deturpam... e que, claro, lá em Washington, «correspondentes estrangeiros» como o «Vitinho» também não dão para cá. Mas, como sempre, as audiências demonstram quem tem razão e quem está a fazer o melhor trabalho.

sábado, 7 de agosto de 2010

Outra «tripla» de Andrew Klavan

Andrew Klavan, acutilante e hilariante comentador conservador (para além de autor de nomeada), é merecidamente uma presença assídua neste blog. Pelo que se justifica ter aqui – menos de um ano depois da primeira – uma segunda «tripla» de intervenções suas, que têm desta vez em comum a análise de determinados... «distúrbios mentais» típicos do que estão à esquerda: no que os liberais acreditam; as respostas do New York Times; o embaraço democrata.