O Obamatório, nunca é demais recordá-lo, foi criado em reacção, e como «compensação», à grande, constante e escandalosa distorção que a maior parte dos órgãos de comunicação social portugueses faz da realidade – política, principalmente, mas não só – dos Estados Unidos da América. Obviamente, há excepções, mas muito poucas, constituídas por jornalistas e/ou analistas que têm conhecimento e lucidez suficientes para saberem destrinçar, à partida, os factos das fantasias, e não se deixarem manipular pelos preconceitos e pela propaganda. Porém, até mesmo as pessoas que pensávamos estarem nessa categoria podem surpreender-nos desagradavelmente. Relatarei em seguida três exemplos ocorridos neste ano.
O primeiro vem de Henrique Raposo. O investigador em política internacional e cronista do Expresso escreveu um livro, «Um Mundo sem Europeus», cujo primeiro capítulo «é uma crítica ao conceito de "Guerra ao Terror" e uma desvalorização (estratégica) do 11 de Setembro: "o 11 de Setembro não mudou o mundo". Obrigado, Barack.» Pelo que lhe enviei uma mensagem em que lhe pergunto «você acredita mesmo que “o 11 de Setembro não mudou o Mundo” e... agradece a Barack Obama?! Você não tem acompanhado o que tem acontecido nos EUA em especial nos últimos dois anos, pois não?» Foi enviada a 28 de Maio e até hoje não obtive resposta.
O segundo exemplo vem de Manuel Halpern. A «crítica», publicada no Jornal de Letras, Artes e Ideias, que o auto-intitulado «homem do leme» fez do filme «The Blind Side» (que proporcionou um Óscar de melhor actriz a Sandra Bullock) levou-me a enviar-lhe uma mensagem: «(...) Você parece não se aperceber de como é ridículo acusar um filme de significar um... “retrocesso civilizacional” (!!) por abordar uma história (verdadeira) de altruísmo! Mas, lá está, como é “branco, republicano e cristão”, só pode ser “reaccionário”, e logo, condenável, censurável. Do que se deduz, do seu “pensamento”, que mais valia ter aquela família branca, republicana e cristã (que “horror”!) não se ter interessado por aquele jovem, não o ter ajudado, para assim ele poder ter, muito provavelmente, uma vida infeliz e miserável e uma morte prematura e violenta. Aí sim, seria uma história “edificante”, exemplar, nada “reaccionária”! (...) Não, “antes de tudo o resto” ele é alguém que precisa(va) de ajuda, e não interessa(va) a côr da pele dele nem a côr da pele dos que o ajudaram. Acha que ele só podia, devia, ser ajudado por uma família negra? Ou por uma família branca apenas se fosse democrata e não cristã?» Foi enviada a 1 de Abril e até hoje não obtive resposta (provavelmente pensou que era mentira).
O terceiro exemplo vem de João Lopes. No blog Sound & Vision que partilha com Nuno Galopim, também jornalista do Diário de Notícias, aquele conhecido crítico de cinema e de televisão escreveu que «basta seguirmos as divertidas análises de Jon Stewart (The Daily Show) para compreendermos o funcionamento da Fox News no interior do espaço televisivo dos EUA.» Pelo que lhe enviei uma mensagem em que me permito «traduzir» aquela afirmação: «para analisar um determinado canal de televisão não é preciso vê-lo; basta ver as paródias – assentes na deturpação, caricatura e descontextualização – feitas por um programa de comédia, que é declaradamente (ao nível político-partidário, ideológico, cultural) hostil ao referido canal.» E continuei: «O João Lopes nunca viu, ou vê, a Fox News, pois não? Pois então, antes de emitir as suas opiniões, aconselho-o a vê-la... e a não seguir exclusivamente as “análises” do humorista Jon Stewart. E, ao fim de algum tempo a ver este canal, chegará à conclusão – incontestável – de que a Fox News não “demoniza” “tudo aquilo que, com maior ou menor justificação, possa ser apresentado como efeito da administração de Barack Obama.” O que ela faz é revelar, divulgar os – muitos e verdadeiros! – factos negativos, desfavoráveis, sobre BHO e a sua administração, que praticamente todas as outras estações e grandes jornais ditos “de referência” omitem ou distorcem... porque são todos, em maior ou menor grau, afectos ao Partido Democrata. E esses órgãos de comunicação social estão todos, ou quase, com graves problemas financeiros ou em pré-falência – devido exactamente à sua parcialidade e pouca fiabilidade. Ao mesmo tempo, a Fox News vê as suas audiências e receitas aumentarem (e muito), e já existem até estudos (feitos por instituições não afectas ao Partido Republicano) que a colocam como a organização noticiosa mais credível junto dos americanos. (...) Jon Stewart pode proporcionar muito riso mas não necessariamente muito siso. » Foi enviada a 8 de Fevereiro e até hoje não obtive resposta; no entanto, é de notar que, desde então, e pelo que tenho observado, João Lopes não voltou a pronunciar-se sobre a política e os media nos Estados Unidos; talvez tenha passado a ver, e sem «intermediários», a Fox News!
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