segunda-feira, 9 de julho de 2018

Obama veio ao «Oporto»

(Uma adenda no final deste texto.)
Barack Obama visitou Portugal pela primeira vez quando ainda era Presidente dos Estados Unidos da América: foi há quase oito anos, a 19 de Novembro de 2010, e a recebê-lo em Lisboa estava alguém que, pelas várias semelhanças no seu percurso pessoal e profissional com o do então ocupante da Casa Branca, podia quase ser considerado como que um «irmão espiritual»: José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa. No passado dia 6 de Julho veio ao nosso país pela segunda vez, mas já como cidadão privado; não esteve na capital mas sim no (O)Porto; não se encontrou com um vigarista nacional mas defendeu uma vigarice internacional – as «alterações climáticas» entendidas como «aquecimento global» antropogénico.  
Vamos recorrer a dois textos publicados no blog Blasfémias para resumir e caracterizar o acontecimento. De Rui Albuquerque: «(…) Falou durante uma hora, não se deixou filmar nem gravar, e limpou-nos 500 mil euros, que não serão certamente tributados em Portugal mas nos EUA, provavelmente através de uma Fundação ou ONG da sua coutada, para que ele possa gozar melhor o imenso trabalho que aqui teve. E o que veio dizer-nos este extraordinário guru dos tempos modernos? Pelo que ouvimos na TSF, meia-dúzia de banalidades sobre as transformações do clima, outras tantas sobre o poder democrático, enfatizando sempre que este deve ser exercido “de baixo para cima”, a partir do “cidadão comum”, expressão que, de acordo com a emissora televisiva, repetiu ad nauseam. Ora, havendo “cidadãos comuns” logo se depreende que, na iluminada mente de Obama, existirão “cidadãos excepcionais”, ou, para não quebrar inteiramente o tom democrático e humanista, “cidadãos incomuns”. Nestes últimos certamente que se colocará o ex-presidente Obama, já que um “cidadão comum” dificilmente conseguirá extorquir 500 mil euros por uma hora de paleio a alguns papalvos dispostos a pagarem-lhe essa obscena importância. Apenas falhou, no raciocínio de Obama, um pequeno pormaior: é que foram esses mesmos “cidadãos comuns” que mandaram Hillary Clinton, e ele mesmo, pastar caracóis. (…) Nem depois da derrota humilhante que teve Obama é capaz de um exercício de alguma humildade. (…)». De José Silva: «(…) Ninguém percebeu ao certo ao que é que ele vinha cá e menos ainda quem pagou. Vem para uma conferência sobre o clima chamada “(Climate Change Leadership) Summit”. (…) Não veio logo a estrela da tarde, foi precedida por um curioso orador que se apresentou como assessor do Presidente Obama e que mais tarde o entrevistaria com perguntas difíceis. E pronto, seriam uma três e tal, lá veio o senhor Obama no meio de uma enorme salva de palmas. Dois sofás, ele e o senhor assessor. A oratória fácil de Obama foi facilitada pela tendência futebolista iniciada de manha: perguntas redondas, chuto de cá para lá e respostas redondas. Acha que os jovens devem seguir a carreira política? Sim, veja o exemplo maravilhoso do Mandela. Acha que as empresas devem tomar iniciativas por causa do clima? Claro, isso é maravilhoso, etc e tal. E as organizações internacionais? Ah isso é muito importante (faça-se justiça, não elogiou Guterres possivelmente com medo que fosse demais). Aqui e ali uma alusão ao seu sucessor que a plateia inteligentemente interpretava como sendo Trump e respondia com palmas ou com sorrisos de aprovação. Ninguém percebeu que a última pergunta era a última. Era só mais uma igual às outras. E portanto o assessor lá teve de dizer que acabou e a plateia brindou o orador com uma salva de palmas a que ele magnânimo respondeu “obrigado”. Saiu e com ele saíram os seguranças que passaram o tempo todo de costas para o palco a ver o público. (…)»
Mais ninguém, nenhum jornalista, nenhum dos empresários ou dos políticos presentes no Coliseu, pôde fazer-lhe perguntas, para além do dito «assessor». Seria pouco provável que, de entre uma audiência aparentemente aprovadora do carácter e do currículo de Barack Obama, alguém se atrevesse a colocar uma questão verdadeiramente difícil, embaraçosa ou hostil. Porém, e de facto, para quê correr riscos? Se «controlar o clima» é agora o objectivo primordial do Nº 44, porque não fazê-lo também a um nível mais restrito e não propriamente literal? Afinal, poderiam pedir-lhe para comentar, por exemplo: a decisão de ignorar ou, pelo menos, de desvalorizar os avisos que recebeu sobre as tentativas russas de desestabilizar o sistema político norte-americano; a acusação de que tentou conceder ao regime iraniano regalias e benesses, em especial financeiras, proibidas segundo as sanções então em vigor; o facto de a «separação das famílias» na fronteira com o México ter começado na presidência dele, de crianças terem sido «retiradas» aos pais imigrantes ilegais e colocadas em jaulas sob a sua administração, e não a de Donald Trump; a alegação de que o Departamento de Justiça e o FBI, com o seu consentimento, espiaram o então candidato DJT e a sua campanha; a ocultação que foi feita, durante mais de dez anos, dos contactos que teve com Louis Farrakhan; a circunstância de em Chicago as críticas, quando não a oposição, à construção da biblioteca que terá o seu nome não diminuírem e até aumentarem; enfim, o facto de o seu sucessor registar uma taxa de popularidade superior no mesmo ponto do mandato.
Nada disto, no entanto, lhe suscitará agora muito interesse. Actualmente, assume-se como guardião do planeta e do seu ambiente – apesar de, ao contrário do que prometeu quando foi eleito, o nível dos oceanos não ter descido… nem, verdade seja dita, subido. Entretanto, é de duvidar que o Acordo de Paris, que ele subscreveu sem o submeter à ratificação do Senado, e que Donald Trump acertadamente renegou, esteja a ter os resultados pretendidos: é que as emissões de gases com «efeito de estufa» estão a diminuir nos EUA e a aumentar na Europa!
(Adenda - E porque não há duas sem três, eis um terceiro texto no blog Blasfémias sobre a visita de Barack Obama ao Porto que merece ser lido, escrito desta vez por Sérgio Barreto Costa.