sexta-feira, 15 de julho de 2011

«PALINfrasia»* (Parte 2)

Estreia hoje nos Estados Unidos da América o filme «The Undefeated». Realizado por Stephen K. Bannon, é um documentário sobre a vida e a carreira política de Sarah Palin, em especial enquanto governadora do Alaska. Trata-se de um projecto, e de uma obra, fundamental, não só enquanto contraponto de outros no mesmo género – como os já «clássicos» (e fraudulentos) «Fahrenheit 9/11» e «Uma Verdade Inconveniente» - mas também enquanto relato mais credível, porque factual, do percurso pessoal e profissional da ex-candidata à vice-presidência dos EUA: a sua «matéria-prima» é constituída, na sua maioria, por peças televisivas – entrevistas, notícias, reportagens – dos canais do 49º Estado antes de John McCain ter apresentado a sua parceira na convenção republicana de 2008.
Na verdade, já há muito se tornara necessário, e até indispensável, que Sarah Palin pudesse dispor de uma «arma» audiovisual de «grande calibre» com que pudesse ripostar ao «fogo cerrado» de que é alvo há três anos. Muitos norte-americanos (e não só...) continuam a confundir a «Mama Grizzly» com a caricatura que Tina Fey criou para o Saturday Night Live, e o efeito daquela foi multiplicado porque há um preconceito persistente em relação a mulheres de direita – elas «só podem ser» arrogantes, estúpidas, ultrapassadas… Logo, «não há problema» em que elas sejam objecto de «piadas» ofensivas: Sarah é para Bill Maher uma «dumb twat», e, para Tracy Morgan, «good masturbation material» e «MILF», demonstrando mais uma vez as diferentes concepções de «humor» existentes em Hollywood. E também «não é muito grave» que sobre elas se inventem as insinuações e as mentiras mais mirabolantes e inverosímeis: só no primeiro semestre deste ano de 2011, MSNBC (através de Rachel Maddow), US Weekly, Time, Politico e Salon já foram «apanhados» a repetir citações falsas de Sarah relativas a temas como («atacar») o Egipto, («deportar») Christina Aguilera, (criticar) Michele Bachman ou (condenar) Casey Anthony – a mulher acusada de ter morto a filha e que foi recentemente ilibada em tribunal.
Ironicamente, o que é verdade é que se acaba por provar que ela está certa em questões, tanto da História como da actualidade, nas quais inicialmente vários «espertalhões» proclamam precocemente a sua ignorância – vejam-se os «casos» do «momento Sputnik», dos «blood libels», de Paul Revere e da situação no Médio Oriente. E o que interessa que Andrew Sullivan, britânico e homossexual, comentador supostamente «conservador e católico», a ataque (recorrendo a mentiras de Levi Johnston!) … quando, a defendê-la, vem Ed Koch, norte-americano e homossexual, democrata, judeu e antigo mayor de Nova Iorque? Nunca é de mais recordar que Sarah Palin já não ocupa um cargo público há dois anos, desde Julho de 2009. Então, e se ela é regularmente (des)classificada como irrelevante e insignificante, porque é que, por outro lado, continua a merecer a atenção e o esforço de practicamente toda a «lamestream media», que não hesitam em montar, eles sim, autênticos «circos» - como a «perseguição ao autocarro» - sempre que Palin tem uma iniciativa mais visível? Porque, no fundo, eles sabem que a tal imagem deturpada não corresponde à realidade; sabem da força e das qualidades dela, e continuam à espera de uma oportunidade decisiva em que lhe possam dar uma «estocada» final, dar um «tiro»… sem misericórdia.
Muitos foram os que pensaram que essa oportunidade seria a divulgação das quase 25 mil mensagens de correio electrónico do período em que foi governadora. Só que.. nada de comprometedor foi encontrado, bem pelo contrário. A expressão «justiça poética» justifica-se inteiramente, porque ao Guardian, jornal de referência da esquerda inglesa, pouco mais restou do que fazer «versos» com frases de Sarah Palin. Mas coube ao New York Times e ao Washington Post a «honra» de «ratificarem», definitivamente, a relevância dela, ao pedirem aos seus leitores ajuda (!) na leitura e na análise das mensagens. Repare-se que os dois jornais não fizeram idêntico pedido, por exemplo, em relação aos registos escolares e profissionais de Barack Obama (os que não estão selados, pelo menos…) nem quanto aos milhares de páginas do «plano de estímulo à economia» e do «ObamaCare». Mas há «males» que vêm por bem: uma das mensagens «descobertas» foi uma «carta de Deus» escrita a propósito do nascimento de Trig, tão comovente que levou um dos leitores do Los Angeles Times a perguntar: «Será que alguém poderia dar-me uma pista sobre porque é suposto nós todos odiarmos tanto esta mulher?» Talvez seja a partir de agora que essa estranha «doença» que designámos como «PALINfrasia» comece finalmente a ser debelada.
(Adenda – Ao contrário do que alguns, habituais, «Palin haters» norte-americanos insinuaram, e dos quais pelo menos um nosso «colega», ingénuo e inexperiente, fez eco, «The Undefeated» não está a ser um fracasso nem comercial nem crítico – uma sessão à meia-noite de quinta para sexta-feira não constitui propriamente um indicador fiável... Considerando que se trata de um documentário político, produzido e promovido com verbas reduzidas e estreado em poucas salas, não se deve compará-lo com outros filmes, de ficção, com maior orçamento e capacidade de atracção, exibidos em milhares de cinemas. E uma prova irrefutável do seu sucesso é o facto de ter registado, no fim-de-semana de estreia, a segunda melhor média de assistência (número de espectadores por sala)… só superada pela do último filme da saga «Harry Potter»!)
(* palinfrasia s. f. MEDICINA perturbação da elocução caracterizada pela repetição da última sílaba das palavras e, às vezes, de todas as sílabas de cada palavra (principalmente no atraso mental e na demência precoce) (Do gr. pálin, «de novo» + phrásis, «elocução» + ia) ) (Dicionário da Língua Portuguesa 2006, Porto Editora, página 1240)        

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