Aqueles (e são muitos) que costumam criticar Barack Obama pelo que (não) diz e pelo que (não) faz no que respeita à política externa em geral, e no que se refere, mais concreta e recentemente, às sublevações populares no Norte de África em particular, têm de ter em atenção que (mais) uma gaffe da parte dele pode ter sérias consequências. Se ele parece ter só «lábia» diplomática para a Líbia em vez de «labor» militar, é talvez por recear cometer mais um erro do tipo... confundir o Iraque com o Afeganistão. Ou então ter que dar mais explicações sobre porque decidiu prolongar o Acto Patriota e manter aberta a prisão de Guantanamo... ao contrário do que prometeu.
Porém, as hesitações e atrasos do presidente norte-americano em, mais do que criticar por palavras, retaliar por actos a violência cometida por Mouammar Kadhafi contra o seu próprio povo, podem dever-se a outros motivos. Antes de mais, o torcionário de Tripoli não é um «ditador suave» como eram Ben Ali na Tunísia e Hosni Mubarak no Egipto mas sim um facínora da estirpe de um Saddam Hussein no Iraque... pelo que «falar grosso» com ele não deve chegar para o convencer a abandonar o poder. Estará Barack Obama (ainda) inibido pelos elogios que o homem-que-dorme-em-tendas lhe fez? Estará (ainda) condicionado pelo Prémio Nobel da Paz que injustamente – ou, pelo menos, prematuramente – recebeu? Estará (ainda) convencido de que só a conversa é suficiente para lidar com o Islão e os seus diversos «profetas de desgraças»?
A Casa Branca está decidida a agir... mas em conjunto com os seus aliados europeus e nunca antes de falar com eles. É pois de surpreender que em Londres e em Paris exista quem demonstre ter uma capacidade de iniciativa e de liderança – e até de análise – que não parece existir em Washington? Quando já até a Liga Árabe se mostra favorável à criação de uma zona de exclusão aérea na Líbia, não há desculpa nem justificação para se manter a inacção. E se Mouammar Kadhafi triunfar, a responsabilidade por esse fracasso caberá, em última instância, à administração norte-americana. E esta até teria um motivo (e uma legitimidade) inquestionável para intervir: Lockerbie. No entanto, e sabendo-se que Barack Obama não se terá oposto à libertação de Abdelbaset al-Megrahi, nem é de surpreender este «lavar daí as mãos». Que, depois, estarão aptas para voltar a agarrar o taco de golfe.
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