Este texto
começou por ser uma adenda ao post anterior, mas o tema é suficientemente
importante para merecer um post próprio… Ao contrário de outros, eu não «salto»
logo a «declarar» o vencedor. Não é novidade – e esta semana isso foi novamente
confirmado – que se deve esperar até à manhã seguinte a um debate político para
se saber, com toda a certeza, o que de mais importante dele resultou… e ficou. Do
segundo entre Barack Obama e Mitt Romney, realizado em Nova Iorque, mais do que as mentiras habituais por parte do incumbente, essa ideia –
essa certeza – principal foi a de que o moderador, o «árbitro», entrou no
«jogo» para beneficiar um dos contendores: o actual presidente.
Foi precisamente
isso que Candy Crowley, jornalista da CNN, fez na passada terça-feira. Ao,
inacreditavelmente, arrogar-se «corrigir» um dos candidatos em favor do outro, algo
inédito (tanto quanto julgo saber) em toda a história política norte-americana,
ela efectivamente «despiu» a capa de «imparcialidade», de «isenção», de
«equidistância», e mostrou, e confirmou, aquilo que é: (mais) um(a)
operativa(o) democrata sob um disfarce de observador. Note-se que ela seria
merecedora de igual crítica e de condenação se, inversamente, tivesse
beneficiado, ajudado, Mitt Romney. Mas sinceramente: é de acreditar que isso
alguma vez pudesse acontecer? Pode-se e deve-se recordar afirmações anteriores
por parte de Crowley que denunciavam a sua «inclinação», em especial a de que a
adição de Paul Ryan ao ticket republicano poderia significar como que um «death wish». A sua actuação desastrosa, vergonhosa, só mostrou que os (pre)conceitos
que os conservadores têm em relação a grande parte dos media estão correctos…
… E o mais
irónico, em última análise, é que Candy Crowley estava errada, que Mitt Romney
tinha razão, como aliás ela própria acabou por admitir depois! Barack Obama
não afirmou, especificamente, que o ataque ao consulado em Benghazi, era um
«acto de terror», ou «terrorismo» - antes o designou, concretamente, como «(um)
este tipo de violência insensata». Violência essa que seria consequência de um
vídeo, disponível no YouTube, que «incitou à violência» dos muçulmanos, que na
Líbia se traduziu inclusivamente na morte de quatro
norte-americanos, incluindo o embaixador… Mentira, como agora se sabe; porém, o
próprio presidente, a sua secretária de Estado Hillary Clinton, a sua
embaixadora Susan Rice, o seu porta-voz Jay Carney, e outros na administração,
durante semanas repetiram essa mentira, de que o ataque não fora planeado, que
não tinham informação sobre possíveis ataques, que não tinham recebido pedidos
de reforço da segurança…
Tudo isto
existe (ou existiu, aconteceu), tudo isto é triste, e tudo isto não tinha de
ser o «fado» da política norte-americana, desta campanha e deste debate. Mas foi, é, e há que reconhecê-lo. No entanto, há quem tenha escolhido destacar
daquele um outro momento mais… «importante». Concretamente, o de quando Romney
se referiu aos «binders (arquivos, ficheiros) full of women». Decididamente,
para alguns, nunca nada do que o ex-governador do Massachusetts – e qualquer
republicano em geral – possa dizer ou fazer será positivo. É «preso por ter
cão» e «preso por não o ter»! Então em vez de o elogiarem, de o louvarem, por
ter tomado a iniciativa de procurar e de contratar mulheres competentes e
qualificadas para o seu gabinete em Boston, contestam-no por causa da expressão
que utilizou… e que corresponde exactamente, prosaicamente, ao que aconteceu? Uma
medida concreta de (tentativa de) diminuição das «desigualdades de género», que
supostamente deveria agradar aos «progressistas de trazer por casa», é
desvalorizada por não ser protagonizada pela «pessoa certa», e reduzida como
que à condição de «piada de mau gosto» que «denuncia» o alegado «pouco respeito» que Romney
e o GOP têm pelo «belo sexo». Enfim, é a «guerra às mulheres» que assim continua…
em prejuízo dos «burros» que, por este andar, e a continuarem a insistir em insignificâncias (outra foi a do «Big Bird», o «Poupas» da «Rua Sésamo»), arriscam-se a perder e por larga margem.
Se querem
escolher e destacar verdadeiras gaffes cometidas no segundo debate, que tal a
de Barack Obama a dizer que um baixo preço de gasolina é sinal de uma má economia? Ou a de que – ecoando, mais uma vez, o «complexo de Messias» inerente
ao seu culto da personalidade – ele terá, pela oração, recuperado, e curado, um
jovem ferido? Não convém, pois não? Tal como não convém informar, divulgar, que
nos três debates até agora realizados - «coincidência», claro! – os candidatos republicanos falaram menos tempo e foram mais vezes interrompidos (pelos opositores
e pelos «moderadores») do que os seus congéneres democratas. Talvez porque - como ridiculamente sugeriu o chefe de Candy Crowley na CNN tentando desculpabilizar
a sua colega - Barack Obama é mais lento a falar e, logo, diz menos palavras do
que Romney… Estará a chamar «preguiçoso» ao presidente? «Racista»!
Também em
Portugal se deu destaque ao ataque – a tiro! – a uma das delegações da campanha
democrata. Todavia, não me parece que alguma vez tenham falado de incidentes
semelhantes envolvendo instalações republicanas, nem vi, até ao momento,
qualquer referência às (muitas) ameaças de morte contra o governador, e de
motins, caso ele ganhe a eleição. Soube-se disto em Portugal sem ser no
Obamatório? E quem é que soube, sem ser aqui, que houve «jornalistas» na Universidade
de Hofstra que aplaudiram Barack Obama numa «sala ao lado», tal como Michelle
no próprio auditório, assim desrespeitando as regras? Recuando mais um pouco no
tempo, quem é que sabe que no tão «respeitável» New York Times há o hábito de
enviar textos para a Casa Branca a fim de se obter «aprovação prévia»? Que na
NBC há já uma «tradição» de editar vídeos enviesadamente? Que a CNN «revelou»
que os economistas apoiam «relutantemente» Mitt Romney numa proporção de três
para um? Estes são apenas alguns, poucos, exemplos, dos muitos, dezenas, quiçá centenas
possíveis, que vêm sendo acumulados há décadas, e que o Media Research Center
diligentemente tem descoberto, exposto e denunciado. Contudo, a situação nunca
esteve tão má como agora. Para Patrick Caddell, consultor eleitoral democrata
que trabalhou para George McGovern, James Carter e Gary Heart, o problema já
não é «apenas» de bias mas sim de um autêntico comportamento criminoso que põe em causa o futuro do país; os media tornaram-se inclusivamente num «inimigo do povo americano».
Sim, os media
mentem, imediatamente ou posteriormente, por acção ou por omissão, mas nem
sempre é deliberadamente, maliciosamente. Por vezes é por ignorância ou por
estupidez. Assim como houve gente capaz de acreditar que Mitt Romney queria
abrir as janelas de aviões, também há os que acreditam que ele dançou «Gangnam Style» na convenção republicana. Claramente, não costumam ver «The Tonight Show»
com Jay Leno nem sabem as brincadeiras que, com recurso à manipulação de
imagens, regularmente se fazem por lá… Porém, e pelo menos, essas manipulações, por serem humorísticas, não são eticamente reprováveis.
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