Está-se num
momento de «transição» entre as convenções nacionais dos dois principais partidos políticos dos Estados Unidos da América. A republicana, realizada em
Tampa, na Flórida, terminou na passada quinta-feira, dia 30 de Agosto, e confirmou
Mitt Romney e Paul Ryan como candidatos aos cargos, respectivamente, de
presidente e de vice-presidente. A democrata, que vai realizar-se em Charlotte,
na Carolina do Norte, começa amanhã, dia 3 de Setembro, e confirmará Barack Obama e
Joseph Biden como recandidatos aos mesmos cargos.
Porém, os
dois eventos não são, obviamente, imunes a acontecimentos políticos prévios
mais ou menos relevantes. E um «incidente verbal» - mais um entre muitas
dezenas (a justificarem, provavelmente e proximamente, um texto especial) –
protagonizado há cerca de duas semanas precisamente por Joe Biden exemplifica,
simboliza perfeitamente as diferenças de atitude não só entre as duas
candidaturas mas também entre os dois partidos. A 14 de Agosto, num comício de
campanha em Danville, na Virgínia, frente a uma audiência predominantemente
afro-americana, o vice-presidente «avisou» que os republicanos, se vencerem,
«vão voltar a pôr-vos em correntes». É preciso explicar até que ponto isto é
ofensivo, estúpido e quase criminoso? Um alto dirigente de um partido que tem
na sua essência e no seu historial a escravatura, o racismo e a segregação a
dizer que os herdeiros dos abolicionistas é que querem «acorrentar» negros?
As reacções,
as respostas, multiplicaram-se (houve em Portugal algum outro local, sem ser no
Obamatório, onde tenham tido conhecimento disto?), umas mais previsíveis do que
outras. Os democratas, obviamente, a começar por Barack Obama, desculparam,
desvalorizaram este (mais um) vómito verbal de Biden (porque, como se sabe, há
uma «competição» permanente no campo azul para expelir o mais repelente), mas o
que mais continua a surpreender (ou já nem isso…) é a atitude de alguns (talvez
representando a maioria, mas não todos) afro-americanos do PD perante
alarvidades como esta. Douglas Wilder foi uma das (muito) poucas vozes que
não chegam para compensar, para contrabalançar as fracas figuras de Emanuel Cleaver, Russell Simmons e William Keen, autênticos «Tios Tomás» dos tempos
modernos, novos e voluntários escravos dos seus «donos e senhores» democratas,
que renunciam a ser pessoas e se contentam em serem coisas, adereços, de
disputas políticas dos «patrões brancos». E esta «reprodução» de miserabilismo
(mental, pelo menos) continua: repare-se em Touré Neblett, quiçá sobrevivente
da Planned Parenthood (apesar de tentarem incansavelmente, os continuadores de
Margaret Sanger não conseguem abortar todos os «bebés pretos feios»), tão novo
e já tão sacana, a dizer que Mitt Romney promove a «escarumbização»
(«niggerization», no original) de Barack Obama! E porquê? Porque o candidato
republicano, defendendo-se das inacreditáveis e injustas acusações de que tem
sido alvo (que incluem assassinato e fuga aos impostos), caracterizou, e
correctamente, a campanha do seu adversário como sendo animada por sentimentos
de «divisionismo, zanga e ódio»… e, para aquele fedelho, um homem branco
equipara «zangado» a «negro»! Atente-se nisto: Biden faz uma afirmação
realmente racista… mas os democratas dizem que não foi; Romney riposta, e por o
fazer os democratas dizem que ele é racista! Claro que eles querem que os
republicanos fiquem calados, porque só assim talvez não haja «perigo»… por exemplo,
de os «Novos Panteras Negras», tão «conhecedores» da história dos EUA, atacarem ou até matarem aqueles. Infelizmente, homens como Allen West ainda são
excepções à regra.
No entanto, e
no dia seguinte, 15 de Agosto, aconteceu um acto pior do que quaisquer
palavras: um indivíduo entrou no escritório de Washington do Family Research
Council, uma instituição católica, conservadora, que se opõe ao aborto e ao
«casamento» entre pessoas do mesmo sexo; depois de afirmar que se opunha às
posições do FRC, sacou de uma pistola (tinha igualmente dezenas de munições) e,
no átrio, disparou sobre um segurança que, apesar de ferido, conseguiu desarmar
e imobilizar o atacante com a ajuda posterior de alguns colegas – impedindo
assim, quase de certeza, a concretização de um massacre com dezenas de vítimas caso
o invasor tivesse conseguido aceder aos gabinetes.
As reacções,
as respostas, multiplicaram-se (houve em Portugal algum outro local, sem ser no
Obamatório, onde tenham tido conhecimento disto?), umas mais previsíveis do que
outras. Como as dos principais membros da lamestream media, que pouca, nenhuma – ou muito atrasada – cobertura deram ao assunto. Soube-se depois o mais que
provável motivo: o criminoso é, ou tinha sido até recentemente, voluntário em
organizações LGBT, organizações essas que haviam classificado o FRC como… um
«hate group», um «grupo que promove o ódio» por… ser contra o «casamento» entre
pessoas do mesmo sexo! Decididamente, há ironias mais perigosas do que outras…
Não será demais lembrar que essas organizações LGBT, que classificam de
«odiosas» outras que têm ideias diferentes das suas e que são (i)moralmente
responsáveis pelo ataque ao FRC, estão agora plenamente integradas no Partido
Democrata – e serão sem dúvida bem visíveis na convenção que começa amanhã –
devido à «conversão», ao «sair do armário» de Barack Obama a favor do
«casamento» gay – no que representou, na verdade, pelo menos a sua segunda
mudança de posição («flip-flop») sobre este assunto enquanto político. Porque,
como fizeram notar, respectivamente, Rahm Emanuel e Chuck Todd, o dinheiro dos
judeus e o de Wall Street (nas campanhas eleitorais democratas) foram, ou estão a
ser, substituídos pelo dinheiro dos homossexuais.
Esta é,
aliás, outra área em que se podem estabelecer analogias entre José Sócrates e Barack
Obama: tanto Portugal como os EUA estão, ficaram, muito piores depois da
passagem de ambos pelo poder, mais fragilizados financeira e socialmente, mais
deprimidos anímica e materialmente; só numa matéria se verificaram «avanços»,
«progressos», e essa é a dos «direitos LGBT», pelo que não surpreende que seja
entre os activistas da homossexualidade que tanto Sócrates como Obama têm os
seus defensores mais empenhados; todavia, há que reconhecer que, por exemplo,
Eduardo Pitta e Miguel Vale de Almeida, apesar de serem intelectualmente
desonestos, nunca, até agora (que eu saiba), atingiram os extremos de abjecção de
que, por exemplo, Andrew Sullivan e Dan Savage mostraram ser capazes… tal como alguns dos
seus «companheiros de luta» convidados a visitar a Casa Branca em Junho último e
que decidiram «posar», à maneira deles, frente ao retrato de Ronald Reagan. (Adenda: e há outros daqueles... activistas portugueses, também intelectualmente desonestos, que defendem o actual presidente norte-americano.)
E que «bom»
que seria que os democratas limitassem os seus comportamentos desviantes às
campanhas eleitorais. Contudo, e para cúmulo, estendem-nos ao próprio acto de
votar. Uma das suas maiores «taras» é contestar, combater, a obrigatoriedade de
apresentar um cartão de identificação com fotografia aquando de eleições,
porque isso, para eles, significa «discriminar» os eleitores mais
desfavorecidos, em especial os das minorias («racismo»!) e impedi-los de ir às
urnas! É claro que esse requisito é também exigido para tarefas tão prosaicas
como, entre muitas outras, alugar um DVD, comprar bebidas alcoólicas e tabaco…
e entrar na convenção democrata! Face a estes argumentos, Bernard Whitman,
«estratega» dos «azuis», limitou-se a desconversar, e não respondeu quando Sean
Hannity lhe perguntou: «você não tem vergonha? Vocês (democratas) não têm vergonha?!» Não, não têm. Nem todos querem respeitar as mais básicas convenções… da civilidade. Todd Akin fez afirmações
gravíssimas? Sim, e todos os principais dirigentes do GOP foram inequívocos em
criticá-lo, em condená-lo… e em «convidá-lo» a desistir da sua candidatura ao
Senado; do outro lado, o mesmo não aconteceu com as afirmações de Joe Biden… a
começar com o actual presidente dos EUA. E esta é (um)a grande diferença.
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