Um facto incontestável: a decisão, tomada a 28 de Junho pelo Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, de considerar constitucional o «Affordable Care Act», mais conhecido como «ObamaCare», representou uma grande – e inesperada – victória para Barack Obama, a sua administração e o Partido Democrata. Outro facto tão ou mais incontestável: tratou-se de uma «victória de Pirro», uma «victória com sabor a derrota», cujas desvantagens a médio e a longo prazo serão muito maiores para os liberais do que as (virtuais?) vantagens imediatas e de curto prazo. Eles vão desejar – aliás, quase de certeza desejavam, antes da decisão – terem sido derrotados…
… Porque assim têm agora menos uma «força de bloqueio», o ST, contra a qual possam protestar e
«motivar as tropas» nas «batalhas» desta «guerra eleitoral» que vai durar até 6
de Novembro. E o triunfo implica aceitar, mesmo que implicitamente, mesmo que
contrariados, o argumento utilizado pelo tribunal para aprovar o «ObamaCare»: o
mandato individual é um imposto. Habituados ao «hoje é verdade, amanhã é
mentira», a mudarem de posições conforme as conveniências, a quererem «sol na
eira e chuva no nabal», a não aceitarem as consequências pelos seus actos, os
democratas ainda têm o descaramento de dizer que não se trata de um imposto. Esforço
inútil, mas compreensível. Tal como os de George H. Bush (o pai) há 20 anos (a famosa e funesta frase «read my lips, no new taxes»),
leiam os lábios dele: Barack Obama tinha dito e prometido – em especial numa entrevista a George Stephanopoulos em 2009 – que o AFA não constituía um novo
imposto. Mas é, e vai afectar principalmente os menos ricos, ou seja, os que
ganham menos de 250 mil dólares por ano – ou até mesmo os que ganham menos de
120 mil, sobre os quais, segundo algumas previsões, vão incidir 75% dos custos.
Na verdade, e mais correctamente, a aplicação da «reforma da saúde» vai
traduzir-se no aumento e/ou na introdução de sete impostos; centenas de biliões de dólares em novas despesas; maior carga fiscal sobre os militares; e, sim, estão previstos «painéis da morte» (embora não com esse nome, claro). Como se
apercebeu imediatamente Rush Limbaugh após o veredicto, está-se perante «o maior aumento de impostos da história mundial».
Naturalmente decepcionados,
desanimados, desiludidos, com a decisão do Supremo Tribunal, os republicanos pouco
ou nada beneficiarão questionando e criticando John Roberts, que, para surpresa
geral, desempatou a favor dos «azuis», confirmando, aparentemente, as reservas
que a sua nomeação suscitou, nomeadamente, a Ann Coulter e a Ben Shapiro. Terá
o chief justice sucumbido às ameaças e às pressões dos democratas? Terá o juízo
do juiz sido afectado pelos medicamentos contra a epilepsia? Nem deve o
GOP deixar-se perturbar e provocar pelas comemorações dos «burros»,
previsivelmente caracterizadas pela arrogância e pela ordinarice de que até o presidente deu mostras – embora alguns mais lúcidos, como Ed Rendell e Geraldo Rivera, pressintam o perigo. O importante para os conservadores, para a direita
norte-americana, é saber se, num contexto em que a reforma da saúde se tornará
o assunto mais importante da campanha eleitoral, Mitt Romney, autor do
«RomneyCare», será o candidato, o «porta-estandarte» ideal do movimento político contra
o «ObamaCare». As dúvidas nunca desapareceram, e a recente, e desastrada,
intervenção do seu conselheiro Eric Fehrnstrom apenas veio aumentá-las. Decididamente, é
difícil não pensar que Rick Santorum tinha (alguma) razão.
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