Começam hoje,
em Londres, os Jogos Olímpicos de 2012. Apesar de a vertente desportiva dever
ser sempre a mais importante e a que mais atenção, interesse e participação
deve suscitar, é quase inevitável que outras questões, polémicas e
controversas, especialmente de âmbito político ou económico, surjam ocasionalmente.
Felizmente, e nas últimas edições, nenhuma foi tão grave e drástica como os
boicotes consecutivos aos jogos de 1980, em Moscovo, e de 1984, em Los Angeles…
… Mas desta
vez há uma controvérsia que traz incontestavelmente um leve «aroma» de «outros
(bons e velhos?) tempos», de «guerra fria». Qual? Soube-se recentemente que os
uniformes da representação dos Estados Unidos da América foram fabricados… na
China! E este facto originou protestos de alguns políticos, quase todos
democratas, indignados por as roupas não terem sido produzidas no próprio país,
por empresas norte-americanas e por trabalhadores norte-americanos. O mais
veemente foi Harry Reid, líder da maioria democrata no Senado, que declarou
inclusivamente que o comité olímpico dos EUA «deveria ter vergonha» e que todas
aquelas peças de vestuário deveriam ser amontoadas e queimadas! «Ecos» desta
«bronca» chegaram a Pequim: a agência noticiosa (ou seja, de propaganda) Xinhua denunciou a «hipocrisia»
e a «irresponsabilidade» da política norte-americana – que, recorde-se, e ao
contrário da chinesa, (ainda) permite mais do que um ponto de vista.
Não consta –
pelo menos tal não foi referido explicitamente – que o desagrado dos democratas
também se devesse às (re)conhecidas deficientes condições de trabalho de muitas
unidades industriais chinesas, habituais fornecedoras de várias empresas
estrangeiras, incluindo norte-americanas – algumas, como a Apple e a Nike, já
se ressentiram nas suas imagens devido a essas «ligações (algo) perigosas». E é
de perguntar se, antes de terem decidido protestar, se sabiam – ou se
recordavam – que a pessoa responsável pela decisão de fabricar na China os
uniformes olímpicos norte-americanos é Ralph Lauren, famoso estilista e
empresário, multimilionário, e que é também um dos mais notórios apoiantes e
financiadores do Partido Democrata!
Há quem, como
Ben Shapiro, suspeite que esta atitude dos democratas contra este «outsourcing
têxtil-desportivo» mais não é do que a preparação de outra fase da campanha deles
contra Mitt Romney sobre o mesmo tema: em 2002, os atletas norte-americanos que
participaram nos Jogos Olímpicos de Inverno em Salt Lake City terão envergado
uniformes fabricados… no Canadá. Porém, deve-se fazer duas ressalvas: Romney
foi «apenas» o responsável máximo do evento, e, como tal, pouca ou nenhuma
influência teve na escolha do equipamento das equipas; e, fazendo a comparação
em termos políticos e económicos, com enfoque em «direitos, liberdades e
garantias», antes o «grande vizinho do Norte» (cujos habitantes, entretanto, já são mais ricos do que os americanos) do que o «Império do Meio»…
De qualquer
forma, e também neste âmbito, a vantagem é toda do ex-governador do Massachusetts:
a sua acção enquanto CEO dos Jogos de 2002, com inegáveis e consideráveis
custos pessoais, levando ao sucesso desportivo e financeiro uma organização
que, antes de ele entrar, parecia inevitavelmente condenada ao fracasso, é uma
enorme mais-valia no seu currículo profissional… e eleitoral. Por seu lado,
Barack Obama limitou-se a ser o «padrinho» de uma candidatura fracassada de
Chicago aos Jogos de 2016 (perdeu para o Rio de Janeiro). Assim, e se forem bem
aproveitados pela sua campanha, estes Jogos Olímpicos que hoje se iniciam na capital inglesa
poderão, mesmo que indirectamente, funcionar como uma poderosa
manobra de promoção a favor de Mitt Romney nos seus... jogos políticos.
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