(Nota prévia - No meu (outro) blog Octanas informo sobre as - desagradáveis - circunstâncias deste texto, originalmente destinado para edição no jornal Público.)
Apesar de já não ser
necessário para muitos, faço aos leitores, para começar, um aviso, uma
recomendação, uma sugestão: no que se refere à política nos Estados Unidos da
América (e não só…), desconfiem sempre do que lêem, ouvem, vêem, nos principais
órgãos de comunicação social da Europa… incluindo os de Portugal.
Não é de agora, com a
eleição e a tomada de posse como presidente de Donald Trump, que as
desinformações, descontextualizações, deturpações, as puras e simples mentiras,
por acção ou omissão, resultantes de preferências e de preconceitos
ideológicos, abundam em jornais, rádios e televisões deste lado do Atlântico.
Sem duvida que a vitória do milionário nova-iorquino, e o início do seu
(primeiro?) mandato enquanto comandante-em-chefe, exacerbou uma tendência para
o alarmismo, o exagero, o ridículo; sim, a histeria está a ser… histórica, e
ele só se mudou para a Casa Branca há um mês! Porém, o favoritismo dado ao
Partido Democrata em detrimento do Partido Republicano vem de trás, vem de
longe, e é injusto. Resulta ou de ignorância ou de ignomínia, porque o primeiro
foi, e continua a ser, o partido do racismo (ontem foi a escravatura e a
segregação de negros, hoje é a luta contra o «privilégio branco», que justifica
crescentes ataques, retóricos e literais, contra caucasianos), da violência e
do crime. O segundo foi, e continua a ser, o partido da defesa dos direitos
humanos, da liberdade, da dignidade. Não por acaso, o seu primeiro membro a
tornar-se presidente foi Abraham Lincoln. Não por acaso, o primeiro
afro-americano e a primeira mulher a tornarem-se congressistas em Washington
(senador ele, representante ela) eram do GOP. Este, e todos os que o integram e
o apoiam, começaram a ser (mais) demonizados depois de Watergate; no entanto,
Barack Obama, e/ou os elementos da sua equipa, cometeram muito mais
ilegalidades e abusos de poder do que Richard Nixon e todos os seus «homens do
presidente» - quem tem dúvidas que consulte o meu blog Obamatório, no qual, desde 2009, apresentei sucessivamente
provas disso. Ralph Nader – insuspeito de ser um direitista - afirmou que nunca
houve um vigarista maior na Casa Branca do que o Sr. Hussein… que saiu daquela
com um índice de popularidade médio total inferior ao de «Tricky Dicky»!
Donald Trump é,
inquestionavelmente, um caso especial. O seu estilo, o seu percurso, as suas
afirmações e acções foram, e são, polémicas, polarizadoras. Todavia, e desde a
madrugada de 9 de Novembro, ao fazer o discurso de vitória em Nova Iorque, não
pode ser acusado de não ter apelado a todos os americanos, de não ter prometido
ser o presidente de todos, de trabalhar em prol de todos – o que não implica,
obviamente, prescindir das suas ideias, dos seus objectivos, das suas
políticas. Não acreditem nos que dizem que a sua presidência, até agora, tem
sido um «caos»: este, sim, está instalado nas fileiras dos opositores – quer os
gabinetes de democratas quer as redacções de jornalistas – que nitidamente não
têm estofo para aguentar, deixando-os confundidos, desorientados, quiçá
apoplécticos, a quantidade, a velocidade e a intensidade das suas actividades, das
suas decisões, das suas iniciativas, … todas elas, note-se, em cumprimento das
suas promessas eleitorais! Ninguém pode dizer que não se sabia o que ele queria
fazer, pois ele repetiu-o sucessivamente… mas, pelos vistos, nem todos
acreditaram que ele iria mesmo (tentar) fazer.
Será que, depois de todo
este tempo, ainda não se aperceberam de que Donald Trump não é um político como
os outros? E que todas as «notícias» (previsões) sobre a sua «morte política»
se revelaram (para citar Mark Twain) muito exageradas? Primeiro, não
acreditaram que ele pudesse ganhar; depois, assim que ele ganhou, multiplicaram
os esforços para diminuir o seu triunfo, tirar a legitimidade àquele e ao seu
mandato. Realçaram o facto de ele não ter ganho o voto popular - «argumento» de
maus perdedores, porque sabiam quais eram as regras antes do «jogo», e, se
discordavam daquelas, deviam tê-lo dito e tentado alterá-las antes… mas ainda
bem que o colégio eleitoral vigora, porque a vantagem de Hillary Clinton no
total de votos deveu-se à sua vantagem na Califórnia, Estado que não oferece
qualquer garantia de que só cidadãos, e não imigrantes ilegais, votam. Além
disso, nem sempre, ou raramente, os vencedores nos EUA têm 50% + 1 dos votos
expressos… lá as eleições presidenciais não têm «segunda volta»; Bill Clinton,
por exemplo, teve, nas suas duas vitórias, menos de 50%, e Hillary, em 2016, teve
menos votos do que a soma dos votos de Trump, Jill Stein e Gary Johnson. Alegaram
a existência de irregularidades na contagem, em especial em (três) Estados
fulcrais (Michigan, Pensilvânia, Wisconsin) em que DJT ganhou… mas as poucas
recontagens feitas deram-lhe mais votos! Tentaram convencer os membros do
colégio eleitoral a não o escolherem… mas foram mais os que renunciaram a
Hillary Clinton do que a ele! Acusaram a Rússia – isto é, Vladimir Putin e os
seus serviços secretos – de terem influenciado as eleições a favor de Trump…
mas nunca qualquer prova disso foi apresentada. Afirmaram que «falsas notícias»
tinham contribuído para o triunfo dele… mas, desde que ganhou, praticamente
todas as (inequívocas) «falsas notícias» - quase 100 segundo uma contagem
recente – foram feitas contra o novo presidente, sendo delas um exemplo a
retirada do busto de Martin Luther King da Sala Oval - «notícia» dada por um
repórter da Time que, claro, não era verdade.
A dualidade de critérios, a
hipocrisia e a memória curta são, como habitualmente em tudo o que se relaciona
com os EUA, imensas e insultuosas; são tantas as indignações selectivas. A
ordem executiva, que não é «anti-imigração», que determinou, não o
(erradamente) denominado «banimento de muçulmanos» mas sim um controlo
fronteiriço mais apertado durante quatro meses, apenas afecta sete países (de
maioria muçulmana, mas só uma pequena parte dos praticantes daquela religião a
nível mundial), dos quais efectivamente vieram, em dez anos, bastantes indivíduos
– mais de 70 – acusados e condenados por terrorismo, tentado ou concretizado; contudo,
talvez nem todos os que protestam sabem que a decisão resulta de uma lista
elaborada pela administração de Barack Obama, que, aliás, em 2011 proibiu a
entrada de iraquianos durante seis meses; e talvez desconheçam também que seis
daqueles sete integram uma outra lista – a dos (16) países que proíbem, não
temporária mas sim permanentemente, a entrada de israelitas nos seus
territórios… e onde estão as manifestações contra aqueles por tão flagrante
discriminação e objectiva xenofobia? Por falar em manifestações, as ditas «das
mulheres», realizadas, nos EUA e em outros países, a 21 de Janeiro, no dia
seguinte ao da tomada de posse de Donald Trump, por este ter feito em privado
alguns comentários brejeiros em… 2005 (e pelos quais o então candidato pediu
desculpa, o que é muito raro nele), teriam ganho uma outra, e maior,
credibilidade, se tivessem sido direccionadas igualmente contra as nações – as que
têm o crescente na bandeira – que discriminam, maltratam, oprimem as mulheres
(e não só)… embora tal nunca seja de esperar por parte de esquerdistas, sempre
receosos de serem acusados de «islamofobia», e onde se inclui Linda Sarsour,
uma das organizadoras do «ajuntamento» principal, em Washington, uma muçulmana
apoiante de terroristas, defensora da «sharia», e que considera irrelevante que
as senhoras conduzam automóveis.
Ainda neste âmbito, é de
assinalar que o diferente tratamento dado a mulheres consoante a sua ideologia
é outra marca da hipocrisia. Objectivamente, Kellyanne Conway mereceria sempre
ser enaltecida por ter sido a primeira mulher a dirigir uma campanha
presidencial vencedora. Porém, e injustamente, está a ser caluniada e caricaturada
como (um)a personificação de desonestidade. Muitos criticaram e ridicularizaram
a agora conselheira de Donald Trump por ter falado em «factos alternativos» -
um evidente lapso, porque ela quereria dizer «fontes (noticiosas) alternativas»
- mas não fizeram o mesmo quando o New York Times inventou a expressão
«promessas incorrectas» para defender Barack Obama, desmascarado como mentiroso
(uma vez entre várias) por ter assegurado falsamente que, com o «ObamaCare»,
todos manteriam os seus planos de saúde e os seus médicos. Voltaram à carga
contra a «elefante» por causa do alegado «Bowling Green Massacre», mas nada se
ouve quando duas idosas representantes «burras» da Califórnia, Maxine Waters e
Nancy Pelosi, dizem idiotices – a primeira desconfia da Rússia por ter invadido
a «Coreia» (pois… foi a Crimeia) e a segunda recusa colaborar com o «Presidente
Bush» (pois… agora é Trump). Enfim, acusam Conway – desta vez com alguma razão
– de ter infringido normas de conduta ao apelar à compra de produtos (de Ivanka
Trump, que está a ser alvo de um boicote comercial por motivos políticos) mas
não acusaram Michelle Obama quando esta fez praticamente o mesmo.
Nenhuma acusação contra
Donald Trump, os seus familiares, os membros da sua administração, os seus
apoiantes e o Partido Republicano, todavia, é mais ridícula do que a de eles
serem «racistas» apoiantes do Ku Klux Klan, «supremacistas brancos», «neonazis»
e «anti-semitas».
A sério?! Vejamos… O actual
presidente dos EUA promoveu, enquanto empresário, o fim da discriminação contra
judeus em clubes na Flórida; tem um genro judeu (que se tornou um dos seus
conselheiros mais próximos e confiáveis) e uma filha que se converteu ao
judaísmo aquando do casamento; mostrou-se favorável à mudança da embaixada dos
EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O seu filho Eric afirmou que David
Duke, ex-líder nacional do KKK, «merecia (levar com) uma bala». Jeff Sessions,
agora procurador-geral dos EUA, enquanto procurador no (depois senador do)
Alabama, e entre outros feitos, promoveu o fim completo da segregação nas
escolas daquele Estado, acusou (e conseguiu a condenação à morte de) um líder
local do KKK… e em 2009 recebeu um prémio do NAACP! A Breitbart, de onde provém
o tão (imerecidamente) vilipendiado Stephen Bannon, é o espaço na Internet que
mais denuncia e combate o islamismo e que mais defende e elogia Israel – eu sei
isso porque consulto aquele sítio quase todos os dias há quase dez anos.
Obviamente, é na esquerda
que se encontram os verdadeiros neonazis – aliás, convém nunca esquecer que os
nazis originais integravam o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães. Qual é a ideologia dos que – e não só na América – constantemente
vituperam a nação de David, única (e exemplar) democracia no Médio Oriente, e,
ao mesmo tempo, desculpabilizam – nem que seja pelo silêncio – as nações de
Maomé, incluindo os muçulmanos mais fundamentalistas, radicais? Qual é a
ideologia dos que praticam a violência contra opositores, em especial (e desde
há vários anos, tendo-se agravado durante a presidência de Barack Obama) nas
universidades, várias das quais autênticas fábricas de fascistas que
«ilegalizam» a liberdade de expressão, com hordas de alunos doutrinados por
professores «progressistas» a impedirem – ou pelo menos a dificultarem – as presenças
e as palestras de oradores conservadores, de direita, internos ou externos a
essas universidades, com recurso a ameaças, a agressões físicas tentadas ou concretizadas,
à destruição de propriedade pública e privada? O recente motim ocorrido na
Universidade de Berkeley, na Califórnia, contra a visita, para um discurso e um
debate (que acabaram por ser cancelados), de Milo Yannopoulos, estrangeiro
(inglês) com ascendência judaica, e homossexual que regularmente confessa a sua
preferência por homens negros, ilustrou ironicamente, e absurdamente, como os
esquerdistas são «especialistas» em projecção, como têm atitudes e
comportamentos que criticam e condenam (falsamente) noutros. Enfim, os
democratas não mudaram assim tanto, pois continuam a (tentar) barrar a entrada
de certas pessoas nas escolas que têm por exclusivamente suas: até aos anos 60
eram os afro-americanos, depois foram e são os que pensam de maneira diferente.
Evidentemente, não são
apenas de (indecentes) docentes e discentes que vem a validação do vandalismo. Também
vem de políticos como Tim Kaine, senador da Virgínia que foi «running mate», candidato a
vice-presidente, de Hillary Clinton, que apelou a que se «proteste nas ruas».
Também vem de «artistas» e de «celebridades» como: Madonna, que «sonhou» em
fazer explodir a Casa Branca (desde que Donald Trump e a sua família se mudaram
para lá), sem dúvida porque a sua promessa (não cumprida) de fazer fellatios a todos os homens que votassem
em Hillary não teve o resultado desejado (por ela); de Sarah Silverman, que
pediu um golpe de Estado militar; de Robert de Niro, que por mais do que uma
vez expressou a sua vontade de esmurrar o actual presidente. Pior, também vem
de «jornalistas» como India Knight (Sunday Times), Monisha Rajesh (The
Guardian) e Steven Borowiec (Los Angeles Times), que desejaram, mais ou menos
explicitamente, o assassinato de Trump, tal como os editores das revistas
Village (irlandesa) e Der Spiegel (alemã), que em capas recentes colocaram, a
primeira, uma fotografia de DJT com um alvo sobre a cabeça e as palavras
«Porque não», e, a segunda, uma caricatura do mesmo com, numa mão, uma faca
ensanguentada, e, na outra, a cabeça decepada da Estátua da Liberdade.
A verdade é que Donald Trump está a ser
objecto de mais manifestações, protestos e irritações do que Abu Bakr Al-Baghdadi.
O que constitui um motivo de reflexão… e de preocupação. (Transcrição no Cedilha. Referência no Amigo de Israel.)