Não, não foi uma gaffe… Uma gaffe é um erro, algo que se diz ou se faz que é, objectivamente, incorrecto, e que não é deliberado. Pelo contrário, ao prometer a Dmitri Medvedev que, caso seja reeleito presidente dos EUA, poderá ter «mais flexibilidade» - isto é, fazer (mais) cedências – em futuras discussões sobre (des)armamento com a Rússia, Barack Obama não estava a cometer qualquer erro… pelo menos, na sua perspectiva. Era exactamente isso que ele pensa(va) e que queria transmitir…
… Só que, infelizmente para ele, um «microfone indiscreto» captou a conversa entre os dois chefes de Estado. Já foi há mais de duas semanas mas os seus efeitos ainda se fazem sentir… porque tal «revelação» é extremamente grave. Porém, não é totalmente surpreendente: está em consonância com o que tem sido a retórica e a práctica políticas do Sr. Hussein. Aliás, já em 2001 ele afirmava que não acreditava num sistema de defesa com mísseis; mais de dez anos depois, já presidente, fez com que a Polónia «partilhasse», para receio e prejuízo daquela nação, a sua «falta de fé» naquele sistema. Não que, evidentemente, a actual administração não tenha as suas «crenças» no que respeita às relações com o estrangeiro, sejam elas civis ou militares: Leon Panetta afirmou que a permissão da comunidade internacional – representada na ONU – é mais importante, tem prioridade sobre a permissão do Congresso para se iniciarem acções das forças armadas norte-americanas em outros países; e Michael McFaul, embaixador dos EUA na Rússia, declarou que «apoiamos os valores universais (quais?), não os valores americanos». Pouco tempo depois, o Sr. McFaul terá recebido a primeira reacção significativa àquela sua demonstração de «boa vontade»… através de uma infiltração, alegadamente perpetrada por jornalistas da televisão estatal russa (!), no seu telefone e no seu correio electrónico.
Para os actuais ocupantes do Kremlin, practicamente todos ainda «educados» na boa e velha escola comunista da União Soviética, «flexibilização» significa, senão «rendição», pelo menos «condescendência(s)». Que Barack Obama é bastante flexível já não restam quaisquer dúvidas, depois de vermos as vénias que ele fez a vários chefes de Estado estrangeiros. Está por verificar se ele também curvará a espinha perante Vladimir Putin, mas, por enquanto, vai tentando brincar com o incidente (voltou a fazê-lo há poucos dias), desvalorizá-lo, esperando, talvez, que a opinião pública o esqueça. Ele que não tenha ilusões: aquela gravação será repetida regularmente até à eleição de Novembro. Porque aquilo que revela é inquietante, e Charles Krauthammer e Karl Rove, entre outros, explicam porquê. Mitt Romney não deixou igualmente de criticar o presidente… e, em consequência, foi por sua vez criticado pelo Pravda, jornal que prefere – que surpresa! – que o Sr. Hussein se mantenha na Casa Branca, e que considera o ex-governador do Massachusetts como «inelegível» e «desactualizado» por considerar que o regime de Moscovo ainda é um adversário do de Washington. E é, porque: externamente, contemporiza com as ditaduras norte-coreana, iraniana e síria; internamente, impede aos seus cidadãos o pleno exercício das liberdades de expressão e de manifestação… e organiza eleições muito pouco credíveis.
Na minha modesta opinião, aquilo que Barack Obama disse a Dmitri Medvedev é, pura e simplesmente, causa e justificação suficiente para um impeachment, para um processo de destituição – aliás, há uma proposta de lei entregue no Congresso que prevê essa possibilidade, mas que resultou das declarações de Leon Panetta citadas acima. O Nº 44 já fez, antes e depois (atente-se nas inacreditáveis, inadmissíveis ameaças feitas esta semana ao Supremo Tribunal quanto à próxima deliberação daquele sobre o ObamaCare), outras declarações (de intenções) de grande gravidade e mesmo anti-democráticas; nenhuma dessas, no entanto, punha em causa a segurança nacional.
Muito se divertiram os democratas quando acreditaram – e ainda acreditam – que Sarah Palin tinha dito que conseguia ver a Rússia da sua casa (no Alaska) – na verdade, como nunca é demais repetir, foi Tina Fey quem o disse. Todavia, a visão que a Casa Branca tem actualmente do maior país do Mundo está ao nível de um sketch humorístico do «Saturday Night Live»… e não dá vontade de rir.
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