Há quase exactamente dois meses (a 19 de Outubro), comentando os «ocupas de Wall Street» (e de outros locais), escrevi: «A questão principal que deve ser colocada é se a violência continuará a ser apenas (pouco mais do que) verbal (além das “palavras de ordem”, ameaças, actos de vandalismo, roubos, desobediência e consequentes detenções, (alegadas) violações)… ou se passará a ser literal e mais grave, isto é, com feridos e mortos. Há quem pense que isso é muito provável (e desejável?)»
Pois é: a violência deixou de ser apenas verbal; houve mesmo feridos e mortos; houve mesmo casos de violação, de assalto e de assédio sexual; venda e consumo de droga; perturbação geral da ordem pública e vandalismo. O que começou por ser (apenas, aparentemente) ingenuidade, irresponsabilidade e imbecilidade, degenerou em criminalidade. E chegou-se a um ponto em que até mayors democratas disseram «basta!» Aos «flea-baggers» foi dito que tinham de sair. Mas não o fizeram – não o estão a fazer – silenciosamente e pacificamente. E quando se recusam… arriscam-se a serem espancados, gaseados e presos.
Não se deve ter pena deles: a lista completa de ilegalidades é longa, diversificada… e assustadora. Porém, de entre o quadro geral há casos particulares que devem ser salientados: há quem apele a que… não sejam denunciados crimes; há crianças que são amedrontadas quando vão para a escola; outras que estão em tendas onde se comercializa heroína; ameaças de lançamento de cocktails Molotov… contra lojas cheias de pessoas; (tentativas de) paralisação de portos, impedindo assim o transporte de mercadorias… para todos, e não só para os «ricos»; interrupções de intervenções públicas de candidatos republicanos, como Michele Bachman e Newt Gingrich; despedimentos em empresas prejudicadas pelas ocupações. Aliás, a questão do trabalho é tão só uma das várias em que se verificam contradições e incongruências – umas hilariantes, outras nem tanto – por parte dos «ocupas»: dizem não ter – e querer – empregos, mas rejeitam uma iniciativa que pretende precisamente solucionar esse problema; vociferam contra os bancos, mas não deixam de fazer depósitos neles; preconizam (?) a igualdade, mas subdividem-se em «classes» situadas em zonas diferentes!
Entretanto, e por causa de todos estes episódios desagradáveis e degradantes, a esquerda em geral, o Partido Democrata em especial e a (cúmplice) comunicação social têm vindo a alterar o seu posicionamento perante os supostos representantes dos «99%»: há sinais de distanciamento e até mesmo de alguma «autofagia» - é sempre útil desmascarar os hipócritas de Hollywood… Enfim, a ocupação (de Wall Street e não só) é um falhanço: pretendia ser a resposta «progressista» ao Tea Party mas os dois movimentos não poderiam ser mais diferentes. E não só em civismo e em eficácia: um foi claramente mais protegido, e até privilegiado, em relação ao outro. Enquanto os «ocupas» puderam permanecer gratuitamente, e durante semanas, em espaços que sujavam ou mesmo destruíam, deixando a outros a «conta», os «fartos de impostos» («Taxed Enough Already») pagaram os custos, e submeteram-se aos formalismos burocráticos, inerentes à utilização legal – sempre por um dia – desses espaços. Pelo que, cada vez mais, e compreensivelmente, se fala em (exigir a) devolução do dinheiro despendido. Então uns são «filhos» e outros são «enteados»? No entanto, não há dúvida: os primeiros têm falta de «chá». E muita!
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