Ao contrário do que disseram os admiradores habituais ou ocasionais, o discurso do «Estado da União» proferido por Barack Obama no passado dia 25 de Janeiro perante o Congresso não foi propriamente animador, consistente, inspirador... nem original. Muito menos irrepreensível.
As incongruências começaram logo no «lema» (da campanha de reeleição em 2012?) que constituiu como que o tema ou o título «oficioso» do discurso: «Winning the Future», ou seja, «Ganhando o Futuro». Porém, esse é também o título de um livro de Newt Gingrich editado em 2005; a expressão também foi usada várias vezes por Michael Steele; e há (também com extensões «.org» e «.net») um sítio «winthefuture.com» que é propriedade de um... republicano. No entanto, as imitações não se limitaram ao título: para Alvin Felzenberg – que demonstra a sua asserção com vários exemplos – as citações copiadas de outros discursos presidenciais (isto é, de outros presidentes) foram tantas que se pode falar em plágio. Na Bloomberg, Calvin Woodward encontrou bastantes factos a requererem confirmação... ou desmentido. Kevin McCullough fez uma lista dos «momentos mais marcantes», do mais surpreendente ao mais ridículo. Sarah Palin, por sua vez, achou que houve muitos «momentos WTF» no discurso...
... E os menores desses momentos não terão sido, de certeza, as referências feitas pelo presidente à necessidade de «investir» - na verdade, «gastar» (dinheiro por parte do Estado) – como forma preferencial e prioritária de... «ganhar o futuro». Ann Coulter e Bill O’Reilly chamaram, e muito bem, a atenção para este eufemismo perigoso... e dispendioso. Barack Obama continua a acreditar que é ao Governo que cabe liderar a «competitividade» da nação... e endividar-se ainda mais para suportar os custos, por exemplo: do comboio de alta velocidade... melhor que o avião porque dispensa os «apalpões» proporcionados pelos funcionários da TSA; das «energias limpas»... das quais o seu secretário para o sector, Steven Chu, parece estar precisado, já que, de tão cansado (ou entediado?) adormeceu durante o discurso! Enfim, entre lá e cá, e como já se viu, há obsessões em comum.
Todavia, o momento mais «memorável» do discurso foi sem dúvida o «momento Sputnik». Tratou-se talvez de uma analogia infeliz por parte de alguém que «reorientou» a NASA, não para (voltar a) viajar até à Lua mas sim para «viajar» até aos muçulmanos. Contudo, o seu significado e o seu alcance foram claramente perceptíveis: os EUA arriscam-se a perder a sua supremacia global porque há países que estão a emergir, e a assumir-se, enquanto (novas) superpotências... nomeadamente, e obviamente, a China. Contudo, e a avaliar pela «recepção» dada a Hu Jintao na semana passada durante a visita oficial que ele fez à «capital do imperialismo», é de duvidar que a actual atitude da administração norte-americana seja a mais correcta. Houve mesmo quem declarasse que o «tigre chinês» comeu a «pomba americana» ao almoço. Continuando na comida, Donald Trump não duvida de que (normalmente) «não se dá jantares ao inimigo»; e este também não deve(ria) ser elogiado durante o discurso do Estado da União. Mas foi o que Obama fez. Mais: a Casa Branca enalteceu o facto de uma das filhas dele ter falado mandarim com Jintao (para praticar o que aprende na escola), e desvalorizou o facto de o pianista Lang Lang ter tocado, no tal jantar, uma música que é utilizada há décadas como uma peça de propaganda anti-americana – no que pode ser entendido como uma provocação, e um insulto, ao «anfitrião». Estará a presidência dos EUA «daltónica» em relação à «marca amarela»?
Em conclusão, e como sugere Greg Gutfeld, este discurso terá servido principalmente para Barack Obama se convencer de que a América é, apesar de tudo, «grande». Já a respectiva audiência televisiva não foi... grande coisa: menos espectadores do que no ano passado. Estarão eles perdendo tempo... e o futuro?
2 comentários:
Naturalmente, como de costume, discordo de tudo o que disseste. O discurso de Obama não foi fácil, foi difícil, e foi responsável, consistente e inteligente. Mas para já queria acima de tudo dar-te os parabéns atrasados pelos dois anos de blogoforça! Abraço, Bruno Martins Soares
Obrigado, Bruno, pelos parabéns... e pelo comentário, mesmo que em discordância. Espero que este seja o primeiro de vários, não só sobre novos mas também sobre antigos textos meus aqui. Talvez concordes com alguns...
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