quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Predador, porque esquerdista

Há um aspecto fundamental da vida e da carreira de Harvey Weinstein que não tem sido mencionado (tanto quanto eu me tenho apercebido, e, se estiver errado, agradeço a correcção) nos órgãos da comunicação social portugueses (e não só, certamente, deste lado do Atlântico) que têm abordado o (grave) caso, o (grande) escândalo, recentemente (este mês) eclodido, de assédio sexual perpetrado por um dos mais importantes, influentes, poderosos produtores cinematográficos de Hollywood, durante mais de 30 anos, a dezenas – e a lista vai aumentando quase diariamente, pelo que o número poderá em breve vir a ultrapassar a centena – de mulheres (maioritariamente actrizes, mas não só), e não apenas norte-americanas (autêntico adepto da «globalização», o co-fundador da Miramax também estendeu a sua lascívia a, pelo menos, britânicas, francesas e italianas): o de ele ser, e igualmente desde há muito tempo, um dos maiores apoiantes financeiros – doando o seu próprio dinheiro e organizando «colectas» junto de outras pessoas do meio – do Partido Democrata, de políticos, candidatos, democratas, de causas «liberais» e «progressistas». Aliás, é precisamente o facto de ele ser um esquerdista que explica porque é que conseguiu manter durante décadas o seu comportamento criminoso e não ser denunciado e punido mais cedo.
Um artigo de um «crítico de cinema» do Público, Jorge Mourinha, «Harvey Weinstein, ou o lado negro da lua», publicado no passado dia 12, é uma demonstração eloquente da incrível ignorância, ou enervante estupidez, que certas pessoas continuam a exibir, apesar de, supostamente, terem a obrigação de estarem, serem, mais e melhor informadas. Reparem em, e riam de, este excerto: «A pergunta, no entanto, continua sem resposta. Como é que um defensor das causas liberais, que não hesitou em ir contra os desejos dos seus patrões da Disney ao distribuir Larry Clark ou Michael Moore, que lançou as carreiras de Affleck, Damon, Gwyneth Paltrow, Roberto Benigni, era ao mesmo tempo um predador sexual?» Que a pergunta não continue sem resposta, que eu a darei: é exactamente por ele ser um «defensor das causas liberais» que mais confiante se sentiu em (pros)seguir a sua «carreira paralela» enquanto predador sexual; ele próprio admitiu que se tornou assim por ter crescido nos anos 60 e 70, em que a dita «revolução sexual» facilmente resvalava para a pura e simples, abjecta, libertinagem – de que, aliás, Larry Clark foi cronista, qundo não protagonista; e quando se é, como Harvey Weinstein, um aliado de abortistas e de LGBT’s, o que são uns apalpões, exibições e ejaculações para plantas senão uns pecadilhos sem importância? Porém, a surpresa, e mesmo o choque, de Jorge Mourinha perante a situação deveras escabrosa em que se encontra envolvido o homem que também lançou a carreira de Quentin Tarantino expressa(m)-se ainda numa outra perspectiva: «E para quem achava que eram só os republicanos e o seu eleitorado branco, idoso, conservador e temente a Deus a ter este tipo de comportamento e que o liberalismo da esquerda consciente e artística não era capaz disto – tcharã!» Seria interessante perguntar a este «crítico de cinema» do Público quantos republicanos, e não apenas brancos, idosos, conservadores e tementes a Deus (que, note-se, todos juntos não seriam suficientes para permitir o triunfo em especial de Donald Trump para a Casa Branca, e do GOP em geral a todos os níveis do poder dos EUA), ele conhece que tenham cometido – e não necessariamente a uma escala idêntica – os crimes cometidos por Weinstein; o mais provável é J. Mourinha estar a confundir a realidade com a ficção, a tomar como factos as – imaginárias – perversões de cristãos brancos direitistas frequentes em séries televisivas e filmes feitos em… Hollywood, por (argumentistas, produtores, realizadores, actores) esquerdistas; enfim, muito curiosos e reveladores exercícios de projecção, e em mais do que um sentido…
… E que mais não demonstram, em última análise, do que a vergonhosa (ou, mais correctamente, sem vergonha), ofensiva, descarada, hipocrisia dos «criadores» que fizeram da Califórnia a sua «reserva natural», de Los Angeles e de São Francisco as suas «coutadas de caça», muitos dos quais têm o atrevimento de, com regularidade, se permitirem admoestar os seus compatriotas que vivem nos «bárbaros» territórios situados entre as costas Oeste e Leste a propósito dos seus «antiquados» e «ofensivos» (pre)conceitos sobre casamento, imigração, impostos, armas – estas são sempre de mais nas mãos de cidadãos comuns e membros da NRA mas não das dos guarda-costas das «estrelas». No entanto, é de salientar e de saudar a (momentânea?) sinceridade de uma daquelas, Jessica Chastain, que admitiu que em Hollywood são muito rápidos a «apontar os dedos a outros» e que há uma grande diferença entre «o que se pratica e o que se prega». É curioso que seja uma das actrizes (relativamente) mais novas a ter esta atitude e não outras mais velhas, mais «veteranas», como Jane Fonda, Meryl Streep e Ashley Judd, que não só não denunciaram e não condenaram há mais tempo e com mais veemência Harvey Weinstein (e Judd foi uma das suas vítimas!) e todos os outros tarados que infestam as «fábricas de sonhos» do «Sunshine State» como se têm destacado pela estridência e pelo exagero – enfim, pelo ridículo – com que vituperam Donald Trump… que, nunca é demais referir, quando em 2005 (há doze anos!) falou em «grab them by the pussy» (até agora não está provado, e ele desmente-o constante e categoricamente, que tenha passado das palavras aos actos sem consentimento) era filiado no Partido Democrata!
O facto é que quase todos, ou mesmo todos, que em Hollywood e em Washington se movimentam nos ambientes que colocam em contacto o entretenimento e a política sabiam o que Harvey Weinstein fazia, e foram muito, muito poucos os que tentaram de alguma forma impedir ou avisar para o que estava a acontecer; e ele não é o único, e talvez até nem seja o pior. Todavia, mais do que aos «artistas», é aos «estadistas» que cabe a maior responsabilidade pelo agravar deste caso, e, entre os segundos, nenhuns o são mais do que os Clinton e os Obama, que (relativamente) tarde reagiram, e não muito convincentemente, às revelações sobre HW, de cujas ajudas financeiras foram os maiores beneficiados. Aliás, Harvey foi um dos que então contribuiu com o máximo valor possível para o «fundo de defesa» de Bill Clinton aquando do processo de impugnação daquele; depois, proporcionou a Hillary avultadas quantias nas corridas presidenciais em que participou. Por parte da ex-primeira-dama não espanta a sua forte ligação a outro agressor sexual – afinal, continua casado com um e como que manteve na sua órbita Anthony Weiner, (ex?) marido da sua assistente Huma Abedin, e que irá cumprir pena de prisão ao ter admitido conduta imprópria («sexting») com uma menor. Mas o que dizer do anterior Presidente dos EUA, que permitiu que a sua filha mais velha fosse estagiária na Weintein Company? Das duas uma: ou o Serviço Secreto demonstrou (inquietante) incompetência ao não descobrir e não comunicar os riscos de trabalhar naquela empresa, ou, conhecendo-os, os pais de Malia demonstraram (inquietante) indiferença pela segurança dela. De qualquer forma, Barack fica, mais uma vez, muito, mas mesmo muito mal visto.  

2 comentários:

João Seixas disse...

Bees do it, birds do it...

Olá Octávio,

Nunca pensei ver-te a alinhar com uma witch hunt dos lefties.

Abraço,

Seixas

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

João,

é suposto que as abelhas, os pássaros... e, especialmente, os humanos o façam com consentimento mútuo. A violência sexual não devia ter - aliás, não tem - ideologia política. Quem a exercer deve ser punido, ponto. E se forem os esquerdistas a denunciarem-se uns aos outros... melhor ainda.