segunda-feira, 27 de julho de 2015

É a «flexibilidade», lembram-se? (Parte 2)

(DUAS adendas no final deste texto.)
Foi – e ainda é – um dos momentos marcantes, mais memoráveis, dos debates televisivos entre Barack Obama e Mitt Romney para a eleição presidencial de 2012: criticando a asserção do candidato republicano de que a Rússia era – aliás, continuava a ser – o principal rival («foe») geoestratégico dos EUA, o presidente, considerando-a errada… e antiquada, saiu-se com esta: «os anos 80 ligaram, querem a sua política externa de volta».
Três anos depois, ocorre um facto notável – e que, obviamente, não foi practicamente noticiado nos órgãos de comunicação social de «referência»: a 9 de Julho o General Joseph Dunford, nomeado pela Casa Branca para substituir o general Martin Dempsey como chefe do Estado Maior das Forças Armadas norte-americanas («chairman of the Joint Chiefs of Staff»), declarou, numa audiência de confirmação no Senado, que a Rússia é «a maior ameaça à nossa segurança nacional». Uma opinião, e uma posição, que seria reiterada nas semanas seguintes por (pelo menos) dois outros militares em funções de chefia, os generais Mark Milley e Paul Selva.
Não se sabe se o Sr. Hussein reconheceu entretanto que o seu opositor em 2012 estava certo, e se as suas escolhas para cargos castrenses reflectem essa mudança, ou se estes homens de armas, apesar de apontados por ele, têm e revelam um pensamento próprio. Porém, eles mais não fazem do que reagir à realidade. E não só por causa da invasão da Ucrânia e da anexação da Crimeia: em Abril e em Maio surgiram notícias de que Moscovo teria ordenado ataques informáticos à Casa Branca – mais concretamente, ao correio electrónico de BHO! – e ao IRSTambém há dois meses foi relatado que a actual administração estaria a considerar aplicar «punições» à Rússia por esta violar continuamente os tratados sobre armas nucleares assinados pelos dois países. Tudo isto considerado, não surpreende que o próprio «arquitecto» do famigerado – e falhado - «reinício» («reset») das relações protagonizado por Hillary Clinton, o então embaixador em Moscovo Michael McFaul, acredite agora que aquela não foi propriamente uma boa iniciativa… e não deve ser repetida. No entanto, a «culpa» não foi dele mas sim de quem prometeu a Vladimir Putin que teria mais «flexibilidade» caso fosse reeleito em 2012…
… O que, infelizmente (e injustamente), aconteceu, privando os EUA de terem um presidente verdadeiramente experiente, com bom carácter, competente, que ama de facto o seu país, e perspicaz: na verdade, não foi unicamente quanto à Rússia que Mitt Romney fez uma previsão que se revelaria acertada: também o fez quanto à China. Há quatro anos, aquando de um dos primeiros debates presidenciais (com os seus rivais do GOP), o ex-governador do Massachusetts alertou pela primeira vez para o facto de já então chineses estarem a atacar computadores – empresariais e governamentais – norte-americanos, roubando informações e propriedades intelectuais. Um alerta que foi previsível e generalizadamente ridicularizado à esquerda… incluindo Katherine Archuleta, directora do Gabinete de Gestão Pública, que classificou o nomeado republicano como uma pessoa com «um conhecimento reduzido do que se passa no século XXI». Pois bem (ou mal), neste ano descobriu-se que aquela senhora e aquele (muito importante) organismo do governo federal permitiram que, efectivamente, sistemas informáticos estatais sob a sua alçada fossem invadidos por hackers do «Império do Meio»… mas a incompetência não se limitou a não implementarem as protecções adequadas: também, imagine-se, concederam a manutenção daqueles sistemas a empresas chinesas, aos quais providenciaram os respectivos meios de acesso! Eu poderia dizer que este constitui o exemplo mais extremo, o ponto mais baixo, da estupidez e da irresponsabilidade «obamistas», mas não o digo... convictamente e agora, porque falta ano e meio numa presidência desastrosa, catastrófica, para os EUA, e sabe-se lá o que ainda pode acontecer...
O cuidado que se deve (devia) ter com a China e com a Rússia não se justifica por aqueles dois países serem, por eles próprios, (enormes) ameaças para os norte-americanos: é por eles poderem dar – e de facto dão – ajuda a outros inimigos daqueles. Tal como o Irão: em Abril último foram noticiados dois acordos, um de Moscovo e outro de Pequim, com Teerão; o primeiro sobre a venda de mísseis terra-ar e o segundo sobre a (colaboração na) construção de (cinco novas) centrais nucleares; entretanto, e igualmente naquele mês, também houve alguém na Califórnia interessado em exportar tecnologia de ponta para a terra dos «ai-as-tolas» mas foi preso pelo FBI… Enfim, apenas «aperitivos» do que viria a ser o – perigoso e vergonhoso – «acordo» com o Irão alcançado este mês… que não vai impedir aquele país de obter armas nucleares, que obriga Washington a defender Teerão de Tel-Aviv (!), que estipula que as inspecções são feitas com um aviso prévio de 24 dias e nos locais escolhidos pelos iranianos, que não proporcionou a libertação dos (quatro) norte-americanos presos naquele país. No entanto, para melhor se ter a certeza de quanto o «acordo» é mau não se ouçam os seus opositores mas sim os seus defensores: Barack Obama disse que ele «não está dependente de o Irão começar a actuar de repente como uma democracia liberal»; Susan Rice disse que «devemos esperar» que parte dos (acrescidos) meios financeiros agora ao dispor do Irão sejam aplicados não só nas forças armadas daquele mas também no (reforço do) apoio a actividades terroristas; Joseph Dunford (ele outra vez) disse que a morte de cerca de 500 militares dos EUA no Afeganistão e no Iraque podia atribuir-se ao Irão…
… O que aliás está em consonância com o – constante, não contido – apelo, e objectivo, do regime de Teerão de «morte à América» (e a Israel), entoado em coro nos comícios do «ai-a-tola» Khamenei. Bem pode queixar-se John Kerry de que tais palavras de ordem «não ajudam» e são «bastante estúpidas», tanto mais depois das assinaturas rubricadas em Viena; todavia, é (mais um)a consequência de a actual administração, a começar pelo seu chefe, mostrar demasiada «flexibilidade» para com criminosos nacionais e estrangeiros, ditadores e terroristas.
(Adenda – Barack Obama é «arrogante» e «profundamente ofensivo» na sua defesa do acordo com o Irão, diz Joe Scarborough? Não, que ideia! ;-) Aliás, «nunca» o Sr. Hussein foi arrogante e ofensivo durante a sua presidência. Agora, verdadeiramente «ofensiva» - para os democratas (mas não só) – foi a afirmação de Mick Huckabee de que, com este acordo, BHO está a conduzir os israelitas para o «forno». De onde é que ele poderia tirar esta ideia «absurda», da qual ele não só não se arrependeu como até reiterou? De certo que «não» é das – repetidas – declarações de líderes religiosos, civis e militares iranianos que continuam a querer «apagar» Israel do mapa… e, aparentemente, a «convidarem» o Sr. Hussein a cometer suicídio; enfim, são de facto parceiros nos quais se pode «confiar»… tanto que Ashton Carter, secretário da Defesa, acredita que Teerão continua(rá) a ser o principal apoiante mundial do terrorismo – aliás, o caso mais recente neste âmbito ocorreu no Bahrain, com as autoridades deste país a acusarem o Irão de estar por detrás de um atentado bombista a uma escola feminina a 28 de Julho último. Apesar de tudo, e conforme confirmou John Kerry, com os «ai-as-tolas» celebraram-se «(sub)acordos laterais secretos» que a generalidade dos norte-americanos não tem autorização de conhecer.)
(Segunda adenda – Mais dois exemplos de como a «flexibilidade» passiva dos EUA induzida por Barack Obama, pela sua administração e pelo Partido Democrata possibilitou, e continua a possibilitar, a «flexibilidade» activa da China e da Rússia: hackers desta utilizaram, para atingir computadores do governo federal norte-americano, fotografias colocadas no Twitter (!); e hackers daquela, além de penetrarem nos sistemas de departamentos estatais e de seguradoras, também o fizeram nos da United Airlines.)   

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