(Uma adenda no final deste texto.)
As palavras têm significados, têm causas, e podem ter consequências. Em 2012, pouco antes de ser reeleito em Novembro daquele ano, e depois de ter concordado com (e eventualmente causado) a prisão de um cineasta que realizou um (obscuro) filme que alegadamente ofendia os muçulmanos e que, segundo a actual administração norte-americana – pelas vozes, nomeadamente, de Hillary Clinton e de Susan Rice – teria causado o ataque ao consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia em que morreram quatro compatriotas, incluindo o embaixador naquele país, Barack Obama declarou durante um discurso na assembleia geral da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, cenário (não exclusivo) dos atentados de 11 de Setembro de 2001: «O futuro não deve pertencer àqueles que insultam o profeta do Islão.»
As palavras têm significados, têm causas, e podem ter consequências. Em 2012, pouco antes de ser reeleito em Novembro daquele ano, e depois de ter concordado com (e eventualmente causado) a prisão de um cineasta que realizou um (obscuro) filme que alegadamente ofendia os muçulmanos e que, segundo a actual administração norte-americana – pelas vozes, nomeadamente, de Hillary Clinton e de Susan Rice – teria causado o ataque ao consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia em que morreram quatro compatriotas, incluindo o embaixador naquele país, Barack Obama declarou durante um discurso na assembleia geral da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, cenário (não exclusivo) dos atentados de 11 de Setembro de 2001: «O futuro não deve pertencer àqueles que insultam o profeta do Islão.»
No
passado dia 7 de Janeiro, em Paris, terroristas islâmicos levaram aquelas
palavras aos actos ao atacarem a sede do jornal Charlie Hebdo e ao assassinarem
dez membros da redacção do jornal (e dois polícias então no local) que,
efectivamente, e repetidamente, haviam insultado Maomé, Alá, o Islão… e também
Jesus e o Cristianismo, Maomé e o Judaísmo, o Deus destas duas religiões, e
muitos, muito mais indivíduos e instituições; para eles deixou de haver futuro,
este deixou de lhes pertencer. A liberdade de expressão, valor fundamental das
sociedades ocidentais democráticas e desenvolvidas, é isso mesmo: o direito – e
até o dever – de, se for isso que se quiser, insultar tudo e todos. Bill Maher
– ironicamente, um grande apoiante de Barack Obama – sabe isso, entende isso. E
tem razão ao dizer que não é suficiente para os muçulmanos «moderados»
condenarem este ataque na França em particular e todos os outros cometidos
pelos seus irmãos «radicais» em todo o Mundo: é necessário que eles aceitem, e reconheçam, que a sua religião pode ser satirizada sem haver o perigo de
represálias. E, já agora, que reconheçam também que as mulheres são pessoas com
igual dignidade e regalias, que os apóstatas não devem ser executados, que os
adúlteros não devem ser apedrejados, que os homossexuais não devem ser
enforcados…
Neste
âmbito, qualquer manifestação de pesar, qualquer comunicado de condenação, por
parte do Sr. Hussein e dos seus comparsas não deve, pois, ser tomado (inteiramente)
a sério. Por mais do que uma vez eles mostraram dar mais importância ao apaziguamento de muçulmanos do que à defesa da liberdade de expressão. Aliás,
também já em 2012 a Casa Branca, pela «voz do dono» Jay Carney, havia criticado o Charlie Hebdo! Mais: a presidência de Barack Obama tem sido apontada – por jornalistas
da esquerda à direita – como a mais hostil à comunicação social na história
contemporânea dos EUA, e não faltam os exemplos (ameaças, escutas, processos
judiciais, restrições de acesso) disso mesmo. Porém, muito dos detentores do
«quarto poder» do outro lado do Atlântico provaram que não merecem muita
solidariedade porque demonstraram novamente, sem surpresa, a sua cobardia e a
sua hipocrisia, agora perante o massacre de colegas seus ocorrido em França: não
mostrando as caricaturas do Charlie Hebdo, dando mais importância a
«represálias» imaginadas ou empoladas contra as comunidades muçulmanas,
invocando supostas atrocidades equivalentes cometidas por cristãos… Além da Fox
News, o Washington Post é (desta vez), nos média mais importantes, uma excepção à regra seguida pela ABC e pela NBC, pela MSNBC, pelo New York Times - uma e outra vez; e pela Associated Press e pela CNN,
que não mostram imag(inaçõ)e(n)s de Maomé mas que mostram (e até vendem
reproduções de) imagens de uma «obra artística» que consiste num crucifixo dentro
de um recipiente com urina…
O
atentado em França nem foi, no entanto, o mais mortífero ocorrido no dia 7: no Iémen cerca de 40 pessoas foram mortas e cerca de 60 foram feridas por outros terroristas
muçulmanos – uma designação que, entre muitos outros no «eixo transatlântico»
Washington-Bruxelas, Howard Dean se recusa a utilizar, apesar de eles
invariavelmente gritarem «Alá é grande!» aquando dos ataques. Mas, sim, embora (muito) maus, eles
são muçulmanos, e verdadeiros. Quase tão perigosa quanto a afirmação homicida
de uns é a negação suicida de outros.
(Adenda
– Antes de, tal como o irmão, ter levado com uma bala na testa que infelizmente
impediu uma punição mais lenta e dolorosa, Chérif Kouachi ainda conseguiu falar para um canal de televisão e revelou que atacaram o Charlie Hebdo por indicação
da Al Qaeda. Então esta, segundo Barack Obama, não tinha sido destroçada, destruída, «decimada»? Não estavam os seus elementos «em fuga»? Pelos vistos
estavam… para a Europa. Mais: os Kouachi receberam treino de armas no Iémen… o país em que o Nº 44 afirmara terem sido concluídas com sucesso
operações antiterroristas. Considerando tudo isto, e ainda o facto de o Sr.
Hussein ter vindo a libertar recente e regularmente terroristas de Guantánamo,
até se compreende que ele tenha decidido não comparecer à grande marcha de 11 de Janeiro em Paris – ao contrário de outros líderes mundiais, como o
primeiro-ministro israelita e o presidente palestiniano, que desfilaram lado a
lado.)
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