sábado, 25 de outubro de 2014

Sinais de desespero (Parte 3)

(DUAS adendas no final deste texto.)
Antes de Jon Stewart (e/ou os seus argumentistas) terem reparado nisso, já há algum tempo que vários candidatos democratas nas próximas eleições de dia 4 de Novembro, e em especial para o Senado, andavam a dar mostras de se quererem distanciar de Barack Obama… por declarações que fazem (ou não fazem), anúncios que protagonizam e até eventos de angariação de fundos em que o presidente participa a favor deles… mas a que os beneficiados não aparecem para não serem vistos ao lado do Nº 44! Sim, a situação está má a esse ponto…
… E só tem piorado à medida que a data das eleições se aproxima. Alguns deles chegam ao cúmulo de recusarem dizer se votaram no Sr. Hussein em 2008 e em 2012. Alison Lundergran Grimes, que se candidata ao Senado pelo Kentucky (e contra Mitch McConnell) e que já divulgara um anúncio (um dos mencionados por Jon Stewart) a criticar o actual presidente e a dizer que… não é ele, tem-se destacado por se recusar sistematicamente a responder àquela pergunta, por vezes repetidamente no mesmo evento; ela prefere dizer que é uma «democrata Clinton». Outras «camaradas» que têm feito o mesmo, embora de uma forma menos veemente, são: Michelle Nunn (Geórgia), que primeiro se calou mas depois confessou; Natalie Tennant (Virgínia Ocidental), que ainda não o admitiu; Jeanne Shaheen (Novo Hampshire, contra Scott Brown), que antes evitara ser vista ao lado de Obama e que preferia que ele «ficasse em Washington», num debate posterior causou o riso da assistência ao declarar que «de algumas maneiras aprovo, noutras coisas não aprovo» o trabalho que ele tem feito; já Mark Begich (Alaska) reconheceu que votou no Nº 44 mas acrescentou que isso é irrelevante porque o presidente «já não é relevante»!
Estes são casos de candidatos que participam em disputas muito equilibradas, muito renhidas, e que enfrentam uma probabilidade elevada de derrota. Porém, outros existem que ou estão mais à vontade (isto é, bem à frente nas sondagens) nas suas corridas eleitorais ou que não vão a votos no início do próximo mês mas que, mesmo assim, não se coíbem de criticar Barack Obama, por vezes com contundência. Como, por exemplo, Al Franken, que repreendeu o «comandante-em-chefe» por admitir que não havia (ainda) uma estratégia para combater o ISIS; Elizabeth Warren, que acusou Obama de ter escolhido Wall Street em vez do povo; Robert Menendez, que alertou para a inexistência de uma reacção adequada perante a invasão da Ucrânia pela Rússia; Debbie Wasserman Schultz, que, inutilmente, procura afastar os seus candidatos e as midterms do presidente. E depois há os que não são políticos a desempenhar – ou a procurar – cargos mas sim comentadores e/ou consultores: David Axelrod censurou a afirmação do seu ex-chefe de que todas as suas políticas estariam nos boletins de voto em todos os Estados – uma «oferenda» que diversas candidaturas republicanas, previsivelmente, não demoraram a aproveitar; Joe Trippi acha que Obama é um «estorvo» («drag») para os democratas e a sua presidência pode já ser considerada «falhada»; e Leon Panetta, que, tendo deixado a chefia do Pentágono há ano e meio e ainda faltando mais de dois anos para o final do mandato desta administração, decidiu lançar o seu livro de memórias, «Worthy Fights», em cujas páginas – e também nas entrevistas que fez para o promover – não hesitou em lançar dúvidas e fazer críticas sobre a liderança do Sr. Hussein na defesa e na diplomacia, com destaque para os fracassos na Líbia e na Síria.    
Isto é o que democratas dizem assumidamente, directamente, on the record. No entanto, se atentarmos no que eles dizem off the record, sob anonimato, e as conclusões que (alguns) jornalistas tiram do que ouvem, então o panorama é muito mais preocupante… para os «burros». Julie Pace disse que os democratas estavam a «torcer-se em nós» tentando evitar Barack Obama. Bob Woodward afirmou que o presidente «alienou completamente» os democratas no Senado. Jake Tapper referiu que, para os seus «camaradas», o Sr. Hussein é um «albatroz». Segundo Ron Fournier, é antes uma «bigorna». O New York Times, a 7 de Outubro, tinha como um dos seus títulos «Nesta eleição, o partido de Obama coloca-o no banco (de suplentes)»; a 21 de Outubro, era «O pânico democrata». No National Journal reproduzia-se o seguinte comentário de um «estratega democrata para o Senado»: «A inépcia da operação política da Casa Branca afundou de aborrecida para embaraçosa». Na Bloomberg advertia-se que se aproximava, antecipando a mais que provável derrota, «o jogo de (atribuição de) culpas democrata».
Deve reconhecer-se, a bem da verdade, que Barack Obama não é o único «grande» (e agora menos «querido») líder «azul» em relação ao qual os candidatos democratas tentam demarcar-se. Harry Reid pode exprimir a sua frustração perante um «alheado» presidente, mas isso não obsta a que os seus comparsas no Senado se afastem dele – o que, considerando a sua incontinência verbal, não surpreende.  E Nancy Pelosi pode «saber», qual bruxa com uma bola de cristal, que os democratas dominarão o Congresso e a Casa Branca… em 2016, e que os republicanos têm os «dias contados», mas isso não obsta a que os seus comparsas na Casa se afastem dela – o que, considerando de onde ela vem, não surpreende.
Nenhum dos dois, todavia, deverá sentir-se actualmente tão repudiado pelos seus quanto Barack Obama. Que, no único comício eleitoral em que participou até agora, em Upper Marlboro, no Maryland, viu várias pessoas da assistência – supostamente seus apoiantes! – a abandonarem o recinto assim que ele começou a falar! E isto poucos dias depois de a sua cidade natal de Honolulu ter desistido de dar o seu nome a uma praia. Pelo que é de se pôr a hipótese de ser o Sr. Hussein a escrever as mensagens de solicitação de contribuições do DCCC, em que as mais recentes são sempre mais ridículas do que as anteriores. Pois é: nunca os sinais de desespero por parte dos democratas foram tantos e tão fortes.
(Adenda – Num «colectivo» de candidatos democratas em que as fragilidades são por demais evidentes e afectam todos os «azuis» ou quase, Mark Udall, que tenta manter o seu lugar de senador pelo Colorado, tem-se destacado como um dos mais risíveis. Como se já não fosse suficiente(mente mau) ser alvo de troça por «paineleiros» da CNN e ser preterido pelo – liberal – Denver Post a favor do seu rival republicano Cory Gardner, foi afectado por gaffes algo graves – suas e não só – em comícios de campanha. «Espalhou-se» ao citar erradamente a mais famosa frase de Martin Luther King, mas provavelmente tratou-se de uma instância de «a boca fugir para a verdade» porque os democratas, ontem como hoje, efectivamente julgam as pessoas «pelo conteúdo da sua cor (de pele)»; na mesma ocasião Michelle Obama também se enganou – ou deram-lhe a informação errada – ao dizer que Udall é «um coloradiano de quinta geração»… quando, na verdade, tal atributo pertence a Gardner. Porém, o certo é que a primeira-dama, anteriormente, havia «atingido» outro candidato democrata ao Senado, Bruce Braley, pelo Iowa, ao chamar-lhe repetidamente «Bailey».)
(Segunda adenda – Não foi só no Maryland que espectadores – e, deduz-se, apoiantes – num comício democrata saíram quando Barack Obama começou a falar: também no Wisconsin isso aconteceu! Porque será que isto acontece? E também, como perguntou Dana Milbank, porque é que o presidente suscita «tão pouca lealdade» de ex-membros do seu gabinete como Hillary Clinton, Leon Panetta e Robert Gates, todos com livros de memórias recentemente publicados e em que se fazem críticas, implícitas ou explícitas, ao Nº 44? A resposta pode ter sido dada, em outro contexto, por Chris Matthews: porque o Sr. Hussein se tornou (se é que não foi sempre) «intelectualmente preguiçoso» e «atrofiado» por culpa de pessoas como Valerie Jarrett… e Michelle Obama! Pelo que não é de prever que, nos dois anos que faltam para o fim do seu segundo mandato, ele mude e se torne um «verdadeiro chefe executivo» e deixe de ser apenas alguém que «dá bons discursos».)        

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