Hoje
assinalam-se os 150 anos do denominado «Gettysburg Address», discurso, ou
dedicatória, que Abraham Lincoln proferiu aquando da inauguração do cemitério onde
foram enterrados os soldados que pereceram na batalha da guerra civil
norte-americana travada, em 1863, na cidade com o mesmo nome, na Pensilvânia.
Apesar da sua brevidade (menos de 300 palavras em menos de cinco minutos), é
uma das mais famosas, influentes e notáveis peças de oratória da história dos Estados Unidos da América, contendo a famosa expressão «um governo do povo,
pelo povo e para o povo», e está reproduzida integralmente numa das paredes do
memorial em honra do 16º presidente em Washington.
Naturalmente,
a efeméride foi evocada condignamente hoje, e a sua preparação já se prolongava
há algum tempo. Porém, uma ausência marcou a cerimónia: a do actual presidente
dos EUA. Aliás, há pelo menos mais de uma semana que se sabia, que estava
anunciado, que Barack Obama iria faltar. O que não deixa de ser surpreendente
em alguém que, mais do que uma vez, afirmou admirar Abraham Lincoln, e até
utilizou (jurou sobre) o exemplar da Bíblia daquele nas duas vezes em que tomou
posse. Logicamente, o Nº 44 não pode alegar ignorância da data – os assessores
encarregados da agenda, se competentes, avisariam com a antecedência
necessária; nem falta de mobilidade – o Sr. Hussein não hesita em viajar no Air
Force One regularmente, quantas vezes em férias e/ou para iniciativas
partidárias de angariação de fundos. Mais: ele foi uma de 61 «celebridades» que participaram, lendo as famosas palavras, na filmagem de um documentário sobre o
tema, pelo que não restam quaisquer dúvidas de que ele sabia perfeitamente que o grande dia
se aproximava!
É
por tudo isto que a «desculpa» que veio hoje da Casa Branca se torna ainda mais
ridícula: ele não foi por causa dos problemas com o «ObamaCare» e com o sítio
na Internet respectivo! Na verdade, não foi a Gettysburg porque achou mais
importante ocupar este dia encontrando-se com senadores para tentar que o
Congresso não imponha mais sanções ao Irão, onde vigora um regime obscurantista
e terrorista – ou seja, uma atitude contrária ao «espírito» do discurso do seu antecessor de há século e meio! No entanto, e em última análise, o motivo
principal da sua não comparência poderá, provavelmente, ser este: Abraham
Lincoln era republicano, e o seu opositor Jefferson Davis, líder da
Confederação, cujo exército foi derrotado em Gettysburg, era democrata.
Elogiar, homenagear o «honesto Abe» só não deslustra um «azul» quando não está
em causa uma comparação imediata e inequívoca entre as «partes», e, em
simultâneo, a celebração de uma e a condenação de outra. Que foi o que
aconteceu também no evento de hoje. Barack Obama mais não fez do que confirmar
de que «lado» é que está: daquele dos esclavagistas, dos segregacionistas, dos
racistas; enfim, do seu partido. Reconheça-se-lhe a «coerência».
Não
se está a afirmar que (algum)as pessoas não podem mudar, que não haja arrependimentos,
correcções, mudanças de opinião, de posição. Mesmo que tal leve muito tempo… leve
anos. Muitos. 150 anos, no caso do jornal Patriot News (antes The Patriot &
The Union) de Harrisburg (cidade próxima de Gettysburg), que este mês, e
finalmente, assumiu que errou, e por isso pediu desculpa, por em editorial da
edição de 24 de Novembro de 1863 ter criticado e desvalorizado o discurso de
Abraham Lincoln. No entanto, aquele periódico não deixou de, em 2012, apoiar Barack Obama e apelar à sua reeleição. Aparentemente, há ali uma «tradição» -
de más avaliações – que é para manter…
Todavia,
pior do que o jornal The Patriot News, comportou-se – e ainda se comporta – a
Universidade de Illinois Nordeste, em Chicago, que tem num dos seus edifícios
uma placa em que se afirma que o presidente Abraham era «democrata». Não se
trata só de uma falsificação, de um revisionismo da História; trata-se de um
vil, reles, insulto. É como que, simbolicamente, matar Lincoln, outra vez. Já
chegou a primeira, a verdadeira, em 1865; em que o assassino foi John Wilkes
Booth… um democrata.
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