quarta-feira, 4 de maio de 2016

O «legado horrível»

(Uma adenda no final deste texto.)
Foi há mais de um mês – concretamente, a 21 de Março último – mas merece ser assinalado, e não só porque «mais vale tarde do que nunca»: então, entre o frenesim provocado pela visita a Cuba de Barack Obama e também pelos atentados terroristas em Bruxelas, não terão sido muitos os que se aperceberam do que Bill Clinton disse, e fez, num comício eleitoral da sua esposa em Washington: denunciou, e condenou, o «legado horrível dos últimos oito anos»; que, por «coincidência», são, foram, os da presidência de Barack Obama… e em que Hillary Clinton também participou, enquanto secretária de Estado, ou seja, chefe da diplomacia (… macia ;-)) dos Estados Unidos da América.
Uma semana depois, no Arizona, nova afirmação… surpreendente – ou nem tanto, porque é verdade – do Nº 42: a maioria dos trabalhadores norte-americanos não vê o seu salário aumentado desde 2008; quase ao mesmo tempo, e curiosamente, o principal conselheiro económico do Sr. Hussein como que (involuntariamente) concorda. Mais sete dias se passam, e um ainda mais notável acontecimento ocorre: o ex-presidente dos EUA confronta – e critica – membros do movimento «Black Lives Matter» que haviam penetrado outro comício de Hillary, em que ele participava, para protestarem (ruidosamente), e à semelhança do que já haviam feito em outras ocasiões, contra a ex-senadora de Nova Iorque. O ex-«primeiro presidente negro da América» não se conteve e acusou os manifestantes de serem cúmplices dos que, na comunidade afro-americana, leva(va)m os seus irmãos de etnia ao crime e à destruição familiar. É este o principal «problema» com Bill Clinton: por mais que o queiramos denegrir, detestar, definitivamente, não só, ou não tanto, por ser democrata mas também, e principalmente, por ser um adúltero e abusador sexual, de vez em quando ele sai-se com demonstrações de razoabilidade, de sensatez, como estas mais recentes. Na verdade, e estritamente enquanto político, ele não foi, não é, dos piores; não foi um mau presidente – embora, nunca é demais recordar, tenha para isso beneficiado muito da colaboração de um Congresso então dominado pelos republicanos e que tinha Newt Gingrich como speaker.     
Como seria previsível, depois do «arrufo» com os BLM «Slick Willie» veio de certa forma desculpabilizar-se pelo que disse, atenuar o impacto das suas acusações, retractar-se de algum modo. Tal terá, provavelmente, acontecido por pressão de Hillary, que não pode dar-se ao luxo de desperdiçar um único voto de racistas negros. Aliás, e como que para provar esta suspeita, logo depois de o marido ter falado do «legado horrível», ela veio «esclarecer» que a expressão era dirigida ao Congresso, actualmente e novamente controlado pelo GOP, e não a Barack Obama. Porém, os republicanos só são a força (maioritariamente) dominante há menos de dois anos, e não há oito… Entretanto, e ironicamente, se não é o pai (contra a vontade da mãe) a ouvir a boca fugir-lhe para a verdade, é a filha: Chelsea Clinton lamentou que os custos com a saúde sejam «esmagadores» apesar – ou melhor (pior), por causa – do «ObamaCare»; este, seis anos depois da sua aprovação, acumula falhanços. Virá a Sra. Clinton dizer que também neste caso a culpa é dos «elefantes», não obstante nem um só de entre eles então nas duas câmaras legislativas ter votado a favor da coisa?
Evidentemente, não seria preciso esperar pelas intervenções da família Clinton para se ter a certeza do tipo de «herança» que Barack Obama lega ao país e ao Mundo. O «testamento» é desolador em vários aspectos, como tenho vindo indubitavelmente a demonstrar, logo desde o primeiro dia, aqui no Obamatório. Ainda estão por avaliar completamente – mas tal já começou a ser feito – os estragos que a actual administração causou na (e com a) NASA e no (e com o) IRS, (maus) exemplos extremos do que as «bur(r)ocracias» podem causar. Na comunicação social o panorama é sem dúvida desolador: Brian Stelter é o mais recente jornalista… inclinado à esquerda a afirmar que a actual administração é «a menos transparente de sempre», e até os Repórteres Sem Fronteiras se pronunciam formal e negativamente sobre o que os seus colegas norte-americanos sofrem. Algo que, obviamente, não é divulgado pela «isenta» comunicação social portuguesa, com (lamentável) destaque para as «amestradas» RTP, SIC e TVI, que ao invés, e jovialmente, passam reportagens sobre o recente jantar anual dos correspondentes da Casa Branca, animado desta vez pelo «cómico» Larry Wilmore, que, entre outras inanidades, chamou de «nigga» ao Sr. Hussein… e este gostou! Como notou, e bem, Rush Limbaugh, este episódio demonstra até que ponto, com o Nº 44, a presidência foi «desvalorizada» (ao nível, digo eu, de um «reality-show»), e este é apenas mais um item do «legado horrível».  
Não que BHO, naturalmente (para ele), pense isso. Pelo contrário, ele está convencido da qualidade e da importância do que deixa para trás, e agora está decidido a aproveitar da melhor maneira, e até alegremente, o tempo (felizmente pouco) que lhe resta no Salão Oval. É ver as figuras... tristes que ele fez aquando da cimeira sobre segurança nuclear realizada em Washington a 1 de Abril último (pois…), e que incluíram adoptar poses… inadequadas nas fotografias oficiais e permitir que François Hollande fosse censurado. Não foi um «corte» qualquer, logicamente: o presidente francês «atreveu-se» a proferir a expressão «terrorismo islâmico», e isso continua a ser «tabu» para os democratas. Alguns dias antes, Obama insistia novamente que não se deve «estigmatizar os muçulmanos americanos»… ou quaisquer muçulmanos, o que Hollande deve ter sem dúvida «aprendido». E, não, ao contrário do que Ted Cruz exigiu, não parece que Barack vá deixar de dar «lições» sobre (contra) «islamofobia» aos seus compatriotas enquanto o ISIS continua a ser, literalmente, uma «ameaça existencial» (muitas vidas já deixaram de existir por causa dos infames jihadistas) para todos… mas não para o Sr. Hussein, que tem «muito (mais) no prato» para se ocupar (e comer?)…
… Como brincar com crianças durante uma festa da Páscoa na Casa Branca, e preparar-se para os «três a quatro meses» que passará a dormir depois de deixar o cargo. Sim, tanto golfe pode ser, e é, cansativo… tal como «ralhar» com os verdadeiros «inimigos», os republicanos, que insistem, ao contrário (diz ele) dos seus congéneres direitistas europeus, negar a existência de aquecimento global antropogénico, e que, além disso (diz ele), não mostram «respeito por esta incrível experiência democrática que os nossos fundadores criaram». É caso para dizer: olha quem fala…
(Adenda – O «legado horrível» também abrange, o que não é novidade, a mais descarada hipocrisia. O mais recente exemplo, após dezenas (centenas?) nos últimos anos? Barack Obama a afirmar, a propósito do… estilo de Donald Trump, que a corrida para a presidência dos EUA «não é um reality-show»… quando ele próprio já participou em vários desde que tomou posse. Porém, pior do que a hipocrisia é a mentira, em especial quando referente a assuntos de segurança nacional: Ben Rhodes, conselheiro naquela área do Sr. Hussein, admitiu ao New York Times que a actual administração mentiu à comunicação social quanto ao contexto e às características do «acordo» nuclear com o Irão…. E, ainda por cima, gabou-se disso! Não espanta, pois, que, emulando práticas tipicamente estalinistas e assim procurando evitar embaraços maiores, tentem não tanto «retocar» fotografias mas mais, sim, «apagar» de vídeos perguntas incómodas que lhes fizeram.       

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