quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

De pai para filho

Usemos a imaginação para nos colocarmos, por um momento, no lugar – na pessoa – de Mitt Romney. Como é que ele se terá sentido – ou ainda se estará a sentir – depois de ter perdido para Barack Obama a mais recente eleição presidencial?
Uma derrota na «corrida» para o cargo de Presidente dos Estados Unidos da América – em que, realisticamente, só há dois verdadeiros candidatos – é sempre devastadora. Porém, desta vez, em 2012, foi ainda pior para o vencido… porque havia a noção, a sensação, tida pelos (muitos, quase todos os) republicanos mas, acredito, também por bastantes democratas, de que o ex-governador do Massachusetts tinha grandes probabilidades, boas hipóteses, de triunfar. Não foi como em 2008, em que, a partir de certo momento, poucas dúvidas existiram de que BHO – injustamente, como agora – seria eleito: vários – e, aparentemente, credíveis - «sinais» comprovavam essa esperança, essa expectativa. Não só as sondagens, não só o – extraordinário! – desempenho no primeiro debate, não só a consciência de que o responsável pelos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 era o mais competente, experiente, habilitado, qualificado candidato que alguma vez se propôs alcançar a Casa Branca, pelo menos nos últimos 50 anos se não mais, habituado a (com um currículo de) dialogar e colaborar com adversários. Não só tudo isto, mas também o facto de o mandato do opositor, do incumbente (o total oposto em qualidades pessoais e profissionais), ter sido marcado por (maus, mesmo péssimos) indicadores sócio-económicos, bem como por controvérsias e escândalos em practicamente todas as áreas de governação, e que, normalmente, seriam impeditivos de uma reeleição.
Sim, a decepção, a desilusão, terá sido enorme. Mas há mais, e pior: se perder nestas circunstâncias presentes, neste contexto actual, já foi por si só terrível, tal foi agravado por algo que muito poucos nos EUA, e no Mundo, terão sabido… mas o Obamatório sabe: a 6 de Novembro último passaram igualmente 50 anos sobre a primeira victória de George Romney – o pai de Mitt – para o cargo de governador do Michigan. É de crer que o filho tenha sentido o seu fracasso aumentado pela efeméride; sem dúvida que teria sido perfeito poder alcançar o cargo público mais importante do país meio século depois do progenitor ter iniciado uma carreira política de sucesso, que o levou inclusivamente a procurar a nomeação presidencial, pelo GOP, em 1968… que não alcançou: Richard Nixon foi o preferido, e, já presidente, convidou o seu anterior rival nas primárias republicanas para secretário da Habitação e do Desenvolvimento Urbano. Portanto, de certa forma, e – ironicamente – simultaneamente, Mitt foi além do pai – conseguiu a nomeação – mas ficou aquém – não entrou no governo da nação.
George Romney foi um homem, um empresário (presidiu à American Motors Corporation) e um político notável; é de lhe elogiar, já enquanto governador, o seu apoio explícito – normal num republicano – à implementação efectiva das leis contra a discriminação racial: participou, inclusivamente, em manifestações promovidas por Martin Luther King e pela NAACP! Pode, pois, dizer-se que o «testemunho» - feito de (louváveis) atitudes, competências e valores – passou de pai para filho. De certeza que George se orgulharia (ainda mais) de Mitt por este, apesar da derrota, ter respondido ao desprezível «votar é a melhor vingança» do Sr. Hussein com um honroso «votem por amor ao país»…       
… E também de certeza que se envergonharia do… estado a que o seu Estado chegou, e em especial Detroit, onde Mitt Romney nasceu. Outrora a imagem da pujança, agora é o retrato da decadência. A criminalidade é tal que a necessidade da existência e da actuação de um verdadeiro «Robocop» - e não apenas de uma personagem de filme ou de uma estátua do mesmo – já não parece assim tão rebuscada, tão «ficção científica». E, além da violência, a «Motown», a metrópole do automóvel e da música enfrenta a falência – fala-se inclusivamente da sua «dissolução»! Anos, décadas, de despesismo e de desperdício, quiçá de corrupção, deram nisto. É o próprio mayor da cidade, David Bing, a admitir que os seus conterrâneos vivem num «ambiente de regalias» («environment of entitlement») que, previsivelmente, devido a tantos abusos, se tornou incomportável. E, como não podia deixar de ser, para alguns deles a solução não é mudarem de hábitos mas sim arranjarem alguém de «fora» que… pague as contas. JoAnn Watson, conselheira municipal de Detroit, pediu ajuda a Barack Obama: «votámos em você, agora resgate-nos». É (um)a demonstração de que Romney estava certo, inteiramente correcto, quando pelo menos em duas ocasiões que foram outros tantos encontros (reservados) com doadores – uma antes da eleição (o famigerado «vídeo dos 47%) e outra depois – explicou, lembrou, que o actual presidente poderia vencer… e venceu, por à partida já dispor do apoio de quase metade da população, ou dos eleitores, que trocam os seus votos por apoios governamentais – várias vezes concretizados em ajudas imediatas e directas, financeiras ou não, como, por exemplo, o «Obamaphone» - e pela promessa de esses apoios não serem terminados.
Porém, e como que confirmando mais uma vez que em política nada pode ser dado por adquirido, o Michigan tornou-se nesta semana o palco – inesperado – da primeira grande victória do Partido Republicano em particular, e do movimento conservador norte-americano em geral, desde o triunfo de Barack Obama; pouco mais de um mês foi suficiente para tudo voltar a estar em jogo novamente e serem afastadas (quase) todas as dúvidas quanto à viabilidade da oposição. Na verdade, e apesar de, tal como o Wisconsin, ter dado também o triunfo ao incumbente, o Michigan tem desde 2010 um governador do GOP – Rick Snyder – e ainda uma legislatura maioritariamente republicana, que na passada terça-feira aprovaram uma proposta consagrando no Estado o «right to work», ou seja, deixou de ser obrigatória a inscrição num sindicato como condição prévia para obter emprego. Os democratas só são «pró-escolha» na questão do aborto… Pelo que as organizações do «big labor», todas afectas ao (apoiantes do) Partido Democrata e operando com base em esquemas autenticamente mafiosos, extorsionistas, reagiram violentamente, tendo ido além das habituais e «normais» ameaças: partiram para a agressão física e para a destruição de propriedade, o que já não é novidade. Aliás, Douglas Geiss, representante estadual democrata, bem que avisara, antes da decisão, que «iria haver sangue» se a mudança se concretizasse…. e houve mesmo! Nem faltou (verdadeiro) racismo!
A Casa Branca, pela voz de Jay Carney, não condenou os incidentes ocorridos em Lansing nem os seus perpetradores. O que não surpreende… A «civilidade», pregada depois do atentado de Tucson, é só para os outros. No fundo, os rufias do Michigan limitaram-se a  concretizar em actos, mais uma vez, as palavras do Sr. Hussein, que em 2008 incitara os seus apoiantes a «ir à cara» («get in their faces») dos opositores ou «inimigos». Aliás, o Nº 44 esteve no «great lakes state» (na cidade de Redford) na véspera da votação, no que não pode deixar de ser considerado uma provocação, e uma intimidação, visando condicionar a votação… mas, se era essa a intenção, falhou. Não, Obama não tem boas maneiras, e disso já deu provas por várias vezes. Talvez por na sua vida nunca ter tido uma verdadeira, positiva e duradoura figura parental: o pai queniano (Barack Obama Sr.) abandonou-o, o padrasto indonésio (Lolo Soetoro) deu-lhe cão a comer, e teve um comunista militante como «mentor» (Frank Marshall Davis). Os «sonhos do pai dele» são os pesadelos da América de hoje. Que, a não se ter cuidado, poderá transformar-se numa imensa Detroit.   

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