sábado, 19 de outubro de 2024

Um outro élan com Elon

No passado dia 5 de Outubro Donald Trump voltou a Butler, na Pensilvânia, para o que foi não tanto um novo comício mas mais, talvez, a continuação do anterior, o de 13 de Julho, no mesmo local, em que o líder do Partido Republicano esteve literalmente a milímetros de ser assassinado a tiro. Tal regresso constituiu como que uma demonstração de coragem, de persistência, mas igualmente de respeito para com os seus apoiantes, muitos dos quais, talvez mesmo a maioria, voltaram a marcar presença do primeiro para o segundo comício, e em especial para os que foram atingidos, o que morreu e os dois que ficaram feridos (com gravidade, mas sobreviveram). Dos outros oradores na ocasião para além do presidente-candidato um há que merece sem dúvida um destaque deveras especial: Elon Musk. A sua presença naquele palco enquanto apoiante de DJT revestiu-se de um significado especial porque havia sido, precisamente, a 13 de Julho, logo após o atentado falhado, que o dono da Tesla e do Twitter declarara oficialmente o seu apoio – o seu voto e a sua contribuição financeira – a Trump, algo que, na verdade, já se adivinhava pelo evoluir das suas afirmações e posições públicas sobre as grandes questões que se colocam aos Estados Unidos da América, no presente e no futuro.
Nas eleições presidenciais norte-americanas, e desde há bastante tempo, os endorsements – de personalidades famosas não só da política mas também da arte, cultura e espectáculos, da economia – constituem um dos factores mais notórios, e quiçá folclóricos, das campanhas, embora nunca tenha ficado assente que tenham um impacto decisivo no desenlace daquelas apesar da fama e da influência das figuras públicas em causa. A eleição neste ano de 2024 não é uma excepção, e tem-se assistido a um quase constante «desfile» de notáveis tanto de um lado como do outro. Os democratas têm, entre outros, Billie Eilish, Bruce Springsteen e Taylor Swift, o que demonstra mais uma vez que talento para a música não significa necessariamente inteligência para os assuntos de Estado; os «burros» também contam com supostos «republicanos» ou «conservadores» como Adam Kinzinger, Jeff Flake e o duo pai-filha de Dick e Liz Cheney, algo que até há relativamente pouco tempo não se imaginaria ser possível – mas torna-se compreensível quando nos apercebemos de que todas as «criaturas do pântano» tendem a juntar-se apesar das suas (aparentes?) diferentes tonalidades. Quanto aos republicanos, e Donald Trump em particular, recolheram por sua vez o apoio de diversos, distintos, democratas – uns que ainda se assumem enquanto tal e outros que confessam que deixaram de o ser – dos quais se pode realçar Robert F. Kennedy Jr. e Tulsi Gabbard, e Elon Musk, que, apesar de eleitoralmente estar registado como independente, admitiu que votou habitualmente em democratas anteriormente.
É também por este seu percurso enquanto votante, e não apenas pelo facto de ser o homem mais rico do Mundo e também o maior inovador e empreendedor tecnológico contemporâneo, que o apoio de Elon Musk a Donald Trump pode e deve ser considerado especial e excepcionalmente significativo. Mais de que outras, uma constatação fundamental – e correspondente preocupação – levou-o a esta decisão: a de que os democratas são inimigos da liberdade de expressãoEle cedo compreendeu isso quando adquiriu o Twitter e descobriu que aquela plataforma havia sido previamente susceptível a todas as pressões e pedidos de remoção – de textos e até de contas – feitos pelos «azuis», o que ficou provado inequivocamente com a iniciativa denominada «Twitter Files», por ele lançada pouco depois da aquisição; os seus receios neste domínio, aliás, continuam a ter justificação porque não cessam os insistentes apelos à censura feitos por alguns dos mais destacados membros do PD, nomeadamente, e só para referir alguns nas últimas semanas, por Tim Walz, Hillary Clinton e John Kerry. Porém, existem outros factos que pesaram na sua mudança de orientação ideológico-partidária, tomar a «pílula encarnada» e trazê-lo para a direita: a consagração legal, e não só na Califórnia, da retirada dos filhos à guarda dos pais quando estes não aceitam a «transição» deles para «géneros» diferentes; a inexistência de uma verdadeira fronteira a sul e a consequente entrada de dezenas de milhões de imigrantes – ou, mais correctamente, invasores – ilegais. Musk não duvida de que a eventual – e indesejada – eleição de Kamala Harris resultará num cenário quase apocalíptico ao estilo de «Mad Max» para os EUA.
Aos que provavelmente afirma(re)m que a participação de Elon Musk a favor de Donald Trump na campanha desequilibra esta a favor do candidato republicano eu contraponho que, apesar da sua imensa fortuna, o fundador da Space X e da Neuralink proporciona(rá) menos dinheiro ao GOP do que todos os bilionários que financiam os democratas e Kamala Harris, e tanto assim é que a «vice» conta com um orçamento de um bilião de dólares (!), possível também pelos eventos de angariações de fundos realizados na Califórnia, com celebridades de Hollywood e inovadores de Silicon Valley, e em Nova Iorque, com banqueiros e investidores de Wall Street. Além de que estes não correm quaisquer riscos com uma vitória de Trump enquanto Musk efectivamente corre muitos com uma vitória de Harris, que poderia resultar, segundo ele, em prisão. Não se trata de um exagero porque os democratas já demonstraram que não hesitam em perseguir judicialmente os seus opositores, a começar por DJT, e, no caso de Elon, autoridades federais – FTC e SEC – iniciaram em 2022 uma investigação à compra do Twitter, e, já neste ano, uma comissão ambiental californiana recusou-lhe o aumento do número de lançamentos de foguetões citando como causa as suas posições políticas. Agora, se Trump for (re)eleito, está praticamente garantido que ele desempenhará um papel importante na próxima administração; não na função de secretário com um pelouro e área de actividade específicos mas sim num cargo mais informal, líder de um grupo de trabalho que terá como principal objectivo aumentar a eficiência em todo o governo central a partir de Washington; DJT já alvitrou que ele será o «secretário do corte de custos». De qualquer modo, e com Elon, o élan será sem dúvida outro e certamente melhor.        

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