Talvez
no futuro eu venha a olhar este caso de maneira diferente… mas a verdade é que,
presentemente, Kim Davis faz-me lembrar Rosa Parks. E não sou o único. Ambas
foram – e, no caso da funcionária pública do Kentucky, ela ainda está a ser –
vítima(s) de democratas segregacionistas, segregação essa que deixou de ser
feita apenas em função da cor da pele, da etnia, da raça, para incluir também a
(des)orientação sexual. Ambas foram presas por se recusarem a fazer algo que
considera(va)m errado e que, de facto, não tinha e não tem legitimidade. Ontem
o autocarro, hoje o cartório.
Um
texto de João Mendes sobre este assunto publicado no blog Aventar intitulado
«Fundamentalismo cristão» veio mais uma vez demonstrar, como se tal fosse
necessário, a elevada ignorância – quando não intolerância – sobre o que
acontece nos EUA, e que é causa frequente de disparates ditos e escritos. Pelo
que, em comentário, lhe respondi: «A união (casamento) entre homossexuais é
legal naquele Estado norte-americano (Kentucky)»? Só o é aparentemente, tal
como em quase todos os outros 49, por via de uma decisão ilegítima de cinco (em
nove) juízes do Supremo Tribunal dos EUA, dois dos quais deveriam ter sido
impedidos, por flagrante falta de isenção, de participar na decisão porque...
anteriormente tinham oficiado «casamentos» entre pessoas do mesmo sexo! Basearam
abusivamente a sua decisão – ilegítima, repete-se – na 14ª emenda da
Constituição dos EUA, redigida e aprovada especificamente para garantir aos
negros, depois da guerra civil, os mesmos direitos dos brancos. Cinco juízes,
cinco pessoas, que se atreveram a considerar inválidas as decisões tomadas
legítima e legalmente por muitos milhões de cidadãos em cerca de 30 Estados,
quer directamente (por referendo) quer indirectamente (através dos seus
representantes eleitos nos parlamentos estaduais) no sentido de só reconhecer
como válido o matrimónio entre um homem e uma mulher. No Kentucky isso aconteceu
em 2004, numa votação em que 75% dos eleitores se opuseram à redefinição do
casamento...
...
Pelo que Kim Davis - que, curiosamente, é democrata (e eleita para o cargo que ocupa)! - baseia a sua atitude não
só na sua fé religiosa mas também na própria decisão soberana dos seus
concidadãos. Os homossexuais que querem «casar-se» com outros podem fazê-lo
noutros cartórios, noutros condados e até noutros Estados, mas aqueles,
deliberadamente, identificam e tomam como alvo as pessoas e as instituições que
- justificadamente - se recusam a ceder perante o activismo e a tirania judiciais, tentando prejudicá-las pela desfavorável exposição mediática, por
processos em tribunal, pelo despedimento, pela falência. Tudo isto tem
acontecido nos EUA, mas ninguém tinha sido preso por se recusar a participar em
algo com o qual não concorda e, mais do que isso, que não tem qualquer validade
nem jurídica nem política... até agora: Kim Davis foi colocada numa cela esta semana, o que só vem confirmar a tendência totalitária da «revolução
arco-íris». Deixei, por último, um esclarecimento sobre bombistas reais e
potenciais: infelizmente, é relativamente fácil ter acesso a explosivos e às
técnicas da sua utilização. Porém, não há notícias (que eu saiba) de cristãos a
atacarem homossexuais, isoladamente ou em grupo, em «parada». Compare-se com os
(muçulmanos fundamentalistas) irmãos Tsarnaev, que em 2013 atacaram a maratona
de Boston... e nem foi com C-4; e com Bryce Williams, ex-jornalista,
homossexual e negro, apoiante de Barack Obama (chegou ao cúmulo de usar um pin do Sr. Hussein em estúdio, perante as câmaras) que na semana passada
assassinou a tiro dois ex-colegas - heterossexuais e brancos - da estação de
televisão da Virgínia onde trabalhou, enquanto estes faziam uma reportagem em
directo e filmando ele próprio o crime! Williams queixava-se de discriminação.
Afinal, quem é mesmo «troglodita»?
Do
outro lado do Atlântico as reacções ao «caso Kim Davis» foram o que era de
esperar. Da parte dos democratas a mais irritante hipocrisia: tanto Josh Earnest como Hillary Clinton afirmaram que ninguém deve estar «acima da lei» -
quando, desde Janeiro de 2009, os «burros» mais não têm feito do que isso mesmo,
desde as acções executivas de Barack Obama na imigração e na saúde ao servidor
de correio electrónico privado da ex-secretária de Estado, passando pela
perseguição do IRS a organizações conservadoras e pela criação de
«cidades-santuário» para criminosos foragidos e procurados… além de que claro,
não existe realmente qualquer lei federal, nacional, que permita o «casamento
gay». Da parte dos republicanos a divisão entre a firmeza das convicções e a
fraqueza das conjunturas: Ted Cruz, Mick Huckabee, Rand Paul e Rick Santorum
sabem bem o que significa ser membro do GOP e o que o partido de Abraham
Lincoln representa desde a sua fundação, mas Lindsey Graham, John Kasich e Donald Trump,
aparentemente, não sabem.
David Bunning, o juíz – nomeado por George W. Bush! – que ordenou a prisão de Kim
Davis – sem fiança, algo que muitos assassinos tiveram – tornou-se, com esta
decisão, a mais recente «adição» numa «lista» de magistrados que, começando com
Vaughn Walker na Califórnia, passando por todos aqueles que «anularam» os votos
populares nos respectivos Estados e acabando nos cinco do ST, deveriam ser não
só destituídos dos seus cargos mas também presos pelas afrontas que têm
cometido e que subverte(ra)m o sistema judicial norte-americano. Outra consequência,
e talvez a mais grave, da presidência de Barack Obama.
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