sexta-feira, 12 de julho de 2013

A ver navios e a meter água

O Egipto passou – ou ainda está a passar – pela sua segunda revolução em pouco mais de dois anos. Na semana passada as forças armadas, em conjugação com milhões de cidadãos que protestavam nas ruas do Cairo e de outras cidades, destituiram Mohammed Morsi da presidência do país e practicamente ilegalizaram a Irmandade Muçulmana – muitos dos seus membros têm sido detidos.
Estas convulsões têm sido igualmente marcadas por um crescente sentimento anti-EUA, com Barack Obama a ser acusado por largos sectores da população – muitos cartazes nas manifestações mostravam isso mesmo – de apoiar «terroristas» (isto é, Morsi e os seus camaradas de partido); aliás, não foi assim há tanto tempo que Hillary Clinton, então ainda secretária de Estado, se deslocou à capital egípcia onde prometeu continuar a apoiar o regime que sucedeu à ditadura – pró-americana – de Hosni Mubarak, regime esse que preconizava, claramente, a islamização da sociedade através da imposição da Sharia, que muitos egípcios, precisamente, recusam. A embaixadora Anne Patterson, em especial, tem sido violentamente contestada, e muitos egípcios exigiram - e exigem - a sua expulsão do país.
A política da actual administração norte-americana para o Egipto (e não só) tem sido, na verdade, um «falhanço impressionante», como afirmou o senador Ted Cruz e muitos mais concordam. E provavelmente não existiu maior e melhor (ou pior…) exemplo deste desastre diplomático do que a dúvida sobre onde estaria John Kerry durante os dias culminantes desta mais recente crise na terra dos faraós. Muito simplesmente… estava a velejar no seu iate na costa do Massachusetts. Porém, mais grave do que o actual secretário de Estado não ter interrompido as suas férias para «estar no seu posto» em Washington, foi o desmentido inicial do seu departamento de que… ele andava a marear; depois, face às provas (fotográficas) irrefutáveis, foram obrigados a reconhecer… o óbvio. Ou seja, uma vez mais, e depois do ataque ao consulado de Benghazi no ano passado, o «ministério dos negócios estrangeiros» norte-americano foi apanhado a mentir. Até em Boston se admitiu que «isto parece mesmo mal».
Faltar sistematicamente à verdade há muito que se tornou o procedimento normal desta administração. E, a julgar por este último exemplo, a sua diplomacia já é mais do que macia… é líquida! Está, literalmente, a ver navios, e, figuradamente (por enquanto), a meter água. No entanto, e considerando que John Kerry, nas viagens ao estrangeiro que já efectuou, andou a falar e a prometer de mais, de tal maneira que se falou na necessidade de o «controlar», talvez o melhor seja mesmo ele continuar a passear de barco…     

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