Há
cerca de três meses escrevi aqui no Obamatório que, quanto ao «balanço» da
actividade deste meu blog, a fazer no próximo ano, seria pouco provável que a avaliação final resultante
desse balanço não fosse «de desilusão, de fracasso, de “missão não conseguida”:
a minha meta de influenciar, de alterar, mesmo que ligeiramente, a perspectiva
predominante em Portugal sobre a realidade política norte-americana, não foi
alcançada; a desinformação, a omissão, e por vezes a pura e simples mentira,
beneficiando “burros” e prejudicando “elefantes”, ainda são constantes e até
ridiculamente hilariantes. (…) Consequência habitual e quase inevitável: a
multiplicação de leitores-consumidores-cidadãos ignorantes, iludidos, pouco
exigentes, prontos a ceder aos seus preconceitos, e capazes de escreverem – e
de acreditarem – em imbecilidades.»
Se já é grave
que isto aconteça com alguém mais ou menos anónimo e não muito atento a estes assuntos (e facilmente manipulável), que dizer
quando acontece com pessoas já com algum estatuto e perfil público, que estimamos e de quem esperaríamos muito mais e melhor?
Foi essa a situação com que me deparei quando li – e me espantei – com o texto
«Saudades antecipadas de Obama», escrito por Pedro Correia no seu blog Delito
de Opinião no passado dia 30 de Março. Tal como eu um jornalista que «cresceu»
no papel mas que encontrou no digital o seu espaço preferencial, PC não é um
comentador qualquer mas «apenas» um dos mais atentos, conhecedores, lúcidos, multifacetados e sensatos da blogosfera portuguesa. Tal como eu um opositor incansável do
AO90, quase sempre me revejo no que escreve e faço minhas as palavras dele… e
não só em questões de ortografia. É por isso que a desilusão foi muita quando
li… «inexactidões» como: «Barack Obama não foi o santo milagreiro que alguns
desejavam. Mas prepara-se para deixar um país melhor do que encontrou ao tomar
posse, em Janeiro de 2009. Os Estados Unidos, embora longe da prosperidade de
outrora, registam crescimento económico, o desemprego foi reduzido para metade,
a inflação situa-se a níveis residuais e nunca tantos
americanos beneficiaram de medidas de protecção social como no seu
mandato. No plano externo, o Presidente agiu com prudência no vespeiro do Médio
Oriente, enfrentou com firmeza as tentativas de expansionismo russo e pôde
anunciar ao mundo a captura (na verdade,
foi a morte) de Bin Laden. (…) Venha quem vier depois dele, pressinto que
não tardaremos a ter saudades de Obama. Do seu gesto inspirador, da sua palavra
eloquente, da sua apaziguadora bonomia. Em suma: da sua decência, que parece um
pouco fora de moda e muito deslocada no tempo.»
Estava
dado o «mote» para uma discussão virtual (porque não presencial mas à
distância, electrónica) intensa mas cordial. Respondi ao texto notando que «nada nele corresponde à verdade; pelo contrário,
e como demonstro há mais de sete anos em blog próprio, Barack Obama deixa(rá)
os EUA e o Mundo piores do que os encontrou. Por arrogância, cobardia,
incompetência, inexperiência, extremismo ideológico. “Apaziguadora bonomia”?
Sim... para inimigos e ditadores estrangeiros, não para aliados e opositores
domésticos. “Decência”? Não a tem quem é a favor do “late term abortion” e
considera o (inexistente) “aquecimento global” uma ameaça mais grave do que o
terrorismo islâmico. “Saudades”? “Tantas” vou ter que, provavelmente, darei uma
festa no dia em que ele sair da Casa Branca, mesmo que seja substituído (“vade
retro, Satanás”!) por outro democrata.» Pedro Correia justificou a sua
avaliação: «Comparo os EUA de 2009 com o país actual. E verifico que no mundo ocidental
são uma ilha de prosperidade - o que basta para constituir um sinal de
esperança. Tímida prosperidade, é certo, mas tomáramos nós aqui na Europa
termos a dinâmica de crescimento deles aliada à baixíssima taxa de desemprego
lá existente. (…) Dizer que o actual inquilino da Casa Branca cortejou
ditadores estrangeiros é ignorar décadas de política externa norte-americana. Roosevelt
reuniu-se em três cimeiras com Estaline - e é difícil conceber pior
interlocutor para o chamado líder do mundo livre. Nixon visitou Mao e Brejnev.
Na altura recebeu críticas muito mais duras do que aquelas agora escutadas por
Obama nesta deslocação a Cuba.»
Eu
reafirmei qual é a minha perspectiva permanente nesta área (e em outras) e
esclareci que não se deve comparar, ou mesmo confundir, o que é diferente, factual
e/ou contextualmente: «O Pedro não
consegue “raciocinar - ou escrever - sobre política com base em ódios ou
animosidades viscerais”, é “absolutamente incapaz disso”. Eu também: raciocino
e escrevo com base em factos. E, no que se refere a Barack Obama e à sua
presidência, repito que observo, registo e comento... factos (afirmações,
atitudes, comportamentos, acções, decisões) há mais de sete anos. Não só se
pode como se deve “retirar mérito à administração Obama na gestão da economia.”
Se esta melhorou (pouco) tal aconteceu apesar dele, e não por causa dele. Sobre
o desemprego, existem muitos norte-americanos - segundo os últimos dados, mais de
93 milhões (!) - que desistiram de procurar trabalho. Além de que o
intervencionismo estatizante da actual administração causa estagnação e mesmo retrocesso
nos EUA: na saúde, o “ObamaCare”, autêntica (tentativa de) nacionalização do
sector da prestação de cuidados médicos, tem causado o aumento dos preços dos
seguros, afastado utentes dos seus médicos e diminuído a liberdade de escolha,
enquanto as empresas diminuem as horas de trabalho e até despedem para reduzir
as despesas de saúde dos seus funcionários; no ambiente, a EPA, apenas para “demonstrar
liderança” (a sua directora admitiu-o recentemente), está empenhada em destruir
as indústrias assentes na utilização de carvão e em sustentar (artificialmente)
as ditas “energias renováveis”, despendendo milhões em projectos que depois não
revelam eficiência... ou entram em falência. Quanto à política externa, as
épocas e os protagonistas não são propriamente comparáveis. Franklin Roosevelt
encontrou-se com Josef Stalin... porque havia que derrotar Adolf Hitler. E
Richard Nixon e Ronald Reagan visitaram a China e a União Soviética em
contextos de “arrefecimento internacional”. Moscovo, com Brejnev, aceitara
reduzir o número de armas nucleares, e, com Gorbatchov, iniciara mesmo, com a “Perestroika”,
um processo de incipiente democratização. Pelo contrário, agora, Barack Obama
nada de concreto, nenhuma melhoria efectiva, consegue de Cuba e do Irão, tendo
inclusivamente facultado aos “ai-as-tolas” 150 biliões de dólares em fundos “descongelados”
que o próprio John Kerry admitiu que serão canalizados, em parte, para apoiar
terroristas! Mais: nenhumas dúvidas existem de que Roosevelt, Nixon e Reagan -
aliás, todos os presidentes até 2008 - eram anticomunistas. Porém, com BHO não
há essa certeza; não só por ter sido educado por esquerdistas, marxistas,
comunistas; também por, há dias na Argentina, ter dito a uma audiência de
jovens que, entre o capitalismo e o comunismo, escolhessem o que funcionasse (“choose from what works”)! Digamos que não é (não era) suposto, mais de 25 anos depois
da queda do Muro de Berlim, o suposto “líder do Mundo livre” dizer isto.»
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