Estreou
em Portugal no passado dia 7 de Abril o filme «Verdade» - «Truth», no original
– que tem Robert Redford e Cate Blanchett como protagonistas e James Vanderbilt
como realizador. Porém, seria mais apropriado ter-se estreado no dia 1 porque,
ao contrário do que o título indica, tem por base uma (enorme) mentira. E, 12
anos depois dos «factos» que lhe deram origem, continua a haver muitas pessoas
que acreditam nela – as suficientes, pelo menos e precisamente, para fazer um filme com um orçamento e um elenco consideráveis pelos actuais padrões de
Hollywood…
…
Mas que, no entanto, não foram suficientes para evitar que fosse um fracasso de bilheteira assim que estreou nos EUA, em Outubro do ano passado. Pior, além de
falhanço comercial foi também um falhanço crítico – até em órgãos de
comunicação social mais à esquerda, como Bloomberg, New York Times, Vox, e em
vários outros, entre os quais o Daily Beast e o Guardian, se sucederam as
apreciações desvalorizadoras, quando não arrasadoras. A CBS, estação de
televisão insuspeita de simpatias pró-republicanas e onde o «caso» em causa
originalmente ocorreu em 2004, recusou inclusivamente exibir qualquer publicidade ao filme – digamos que preferiram perder (algum) dinheiro a
colaborarem em algo que os incluía entre os «maus da fita» e os deixava –
injustamente, reconheça-se – mal vistos.
Para
os que não sabem e/ou que já se esqueceram, eis, em poucas palavras, o que aconteceu: aquando da campanha eleitoral para a presidência dos EUA em 2004,
Dan Rather, principal jornalista, apresentador, «rosto» da informação da CBS, e
a sua produtora Mary Mapes, decidiram realizar e difundir uma reportagem numa
emissão do programa «60 Minutos» sobre documentos que tinham obtido e que alegadamente
demonstrariam que George W. Bush – então a procurar a reeleição e um segundo
mandato contra John Kerry – teria sido beneficiado ilegítima e ilegalmente de
facilidades e de favores no seu serviço militar, cumprido n(a Guarda Aérea
Nacional d)o Texas e não no Vietnam. A palavra fundamental aqui é
«alegadamente»… porque os documentos foram desmascarados como falsos por vários
«cidadãos-jornalistas» na Internet, em especial no blog Powerline. O que
aconteceu depois? Rather e Mapes demitiram-se – ou foram demitidos – da CBS; as
suas carreiras praticamente terminaram. Desde então, ele aparece ocasionalmente
neste ou naquele canal mandando «bitaites» invariavelmente irrelevantes e
ocasionalmente ridículos – incluindo equiparar insultuosamente Barry Goldwater a George Wallace e, incrivelmente, aconselhar o GOP a «colocar-se em contacto com um Mundo baseado em factos»!..
…
E ela decidiu escrever um livro – de que o filme em questão é uma adaptação – em
que procura desculpar-se, desresponsabilizar-se, juntamente com Rather, do que
aconteceu; na sua perspectiva, ambos foram vítimas inocentes e manipuladas num
processo em que outros – políticos republicanos, executivos da CBS, indivíduos
indeterminados movendo-se na sombra – cometeram erros… ou crimes; não admitem
que o que aconteceu se deveu à sua falta de prudência, de profissionalismo, algo
à partida inadmissível e incompreensível em pessoas com os anos de experiência
deles… a não ser que dessem prioridade, como acabaram por dar, aos seus
preconceitos ideológicos, aos seus «bias», falta de isenção, e assim tentarem
destruir a candidatura, e a presidência, de um homem de quem não gostavam. Tal
como não gostavam do pai dele: outro ponto baixo da carreira de Dan Rather foi,
é, a entrevista que fez em 1988 ao então vice-presidente e candidato à presidência George H. Bush, e em que, tentando encurralar o Nº 2 de Ronald
Reagan com o escândalo «Irão-Contras», acabou por se aperceber de que tinha
«telhados de vidro».
Rather é tão desavergonhado que ainda hoje
continua a acreditar, e a afirmar, que era… verdade o que ele transmitiu
naquela famigerada emissão. Sem vergonha é também Mary Mapes, que, igualmente
em promoção de «Truth», inventou – isto é, mentiu – que o próprio pai tinha dado uma entrevista a Rush Limbaugh em que a criticava! E, enfim, tão ou mais
desavergonhado é Robert Redford, um dos maiores e mais patéticos liberais de
Los Angeles, que decidiu gastar o seu tempo e o seu talento com esta treta, com
esta teoria da conspiração, com esta tentativa de reescrita da História levada
ao cinema. Para ele tudo não passou de uma «tecnicalidade». Que distância, em
anos (em 2016 passam 40) e em qualidade, de «Todos os Homens do Presidente», de que ele também foi protagonista. Só
que Bob Woodward não é Dan Rather, e Richard Nixon não é George W. Bush.
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