sábado, 9 de abril de 2016

Não é «Verdade»

Estreou em Portugal no passado dia 7 de Abril o filme «Verdade» - «Truth», no original – que tem Robert Redford e Cate Blanchett como protagonistas e James Vanderbilt como realizador. Porém, seria mais apropriado ter-se estreado no dia 1 porque, ao contrário do que o título indica, tem por base uma (enorme) mentira. E, 12 anos depois dos «factos» que lhe deram origem, continua a haver muitas pessoas que acreditam nela – as suficientes, pelo menos e precisamente, para fazer um filme com um orçamento e um elenco consideráveis pelos actuais padrões de Hollywood…
… Mas que, no entanto, não foram suficientes para evitar que fosse um fracasso de bilheteira assim que estreou nos EUA, em Outubro do ano passado. Pior, além de falhanço comercial foi também um falhanço crítico – até em órgãos de comunicação social mais à esquerda, como Bloomberg, New York Times, Vox, e em vários outros, entre os quais o Daily Beast e o Guardian, se sucederam as apreciações desvalorizadoras, quando não arrasadoras. A CBS, estação de televisão insuspeita de simpatias pró-republicanas e onde o «caso» em causa originalmente ocorreu em 2004, recusou inclusivamente exibir qualquer publicidade ao filme – digamos que preferiram perder (algum) dinheiro a colaborarem em algo que os incluía entre os «maus da fita» e os deixava – injustamente, reconheça-se – mal vistos.
Para os que não sabem e/ou que já se esqueceram, eis, em poucas palavras, o que aconteceu: aquando da campanha eleitoral para a presidência dos EUA em 2004, Dan Rather, principal jornalista, apresentador, «rosto» da informação da CBS, e a sua produtora Mary Mapes, decidiram realizar e difundir uma reportagem numa emissão do programa «60 Minutos» sobre documentos que tinham obtido e que alegadamente demonstrariam que George W. Bush – então a procurar a reeleição e um segundo mandato contra John Kerry – teria sido beneficiado ilegítima e ilegalmente de facilidades e de favores no seu serviço militar, cumprido n(a Guarda Aérea Nacional d)o Texas e não no Vietnam. A palavra fundamental aqui é «alegadamente»… porque os documentos foram desmascarados como falsos por vários «cidadãos-jornalistas» na Internet, em especial no blog Powerline. O que aconteceu depois? Rather e Mapes demitiram-se – ou foram demitidos – da CBS; as suas carreiras praticamente terminaram. Desde então, ele aparece ocasionalmente neste ou naquele canal mandando «bitaites» invariavelmente irrelevantes e ocasionalmente ridículos – incluindo equiparar insultuosamente Barry Goldwater a George Wallace e, incrivelmente, aconselhar o GOP a «colocar-se em contacto com um Mundo baseado em factos»!..
… E ela decidiu escrever um livro – de que o filme em questão é uma adaptação – em que procura desculpar-se, desresponsabilizar-se, juntamente com Rather, do que aconteceu; na sua perspectiva, ambos foram vítimas inocentes e manipuladas num processo em que outros – políticos republicanos, executivos da CBS, indivíduos indeterminados movendo-se na sombra – cometeram erros… ou crimes; não admitem que o que aconteceu se deveu à sua falta de prudência, de profissionalismo, algo à partida inadmissível e incompreensível em pessoas com os anos de experiência deles… a não ser que dessem prioridade, como acabaram por dar, aos seus preconceitos ideológicos, aos seus «bias», falta de isenção, e assim tentarem destruir a candidatura, e a presidência, de um homem de quem não gostavam. Tal como não gostavam do pai dele: outro ponto baixo da carreira de Dan Rather foi, é, a entrevista que fez em 1988 ao então vice-presidente e candidato à presidência George H. Bush, e em que, tentando encurralar o Nº 2 de Ronald Reagan com o escândalo «Irão-Contras», acabou por se aperceber de que tinha «telhados de vidro».
Rather é tão desavergonhado que ainda hoje continua a acreditar, e a afirmar, que era… verdade o que ele transmitiu naquela famigerada emissão. Sem vergonha é também Mary Mapes, que, igualmente em promoção de «Truth», inventou – isto é, mentiu – que o próprio pai tinha dado uma entrevista a Rush Limbaugh em que a criticava! E, enfim, tão ou mais desavergonhado é Robert Redford, um dos maiores e mais patéticos liberais de Los Angeles, que decidiu gastar o seu tempo e o seu talento com esta treta, com esta teoria da conspiração, com esta tentativa de reescrita da História levada ao cinema. Para ele tudo não passou de uma «tecnicalidade». Que distância, em anos (em 2016 passam 40) e em qualidade, de «Todos os Homens do Presidente», de que ele também foi protagonista. Só que Bob Woodward não é Dan Rather, e Richard Nixon não é George W. Bush. 

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