(Uma adenda no final deste texto.)
No passado dia 5 de Outubro Donald Trump voltou a
Butler, na Pensilvânia, para o que foi não tanto um novo comício mas mais,
talvez, a continuação do anterior, o de 13 de Julho, no mesmo local, em que o
líder do Partido Republicano esteve literalmente a milímetros de ser
assassinado a tiro. Tal regresso constituiu como que uma demonstração de
coragem, de persistência, mas igualmente de respeito para com os seus apoiantes,
muitos dos quais, talvez mesmo a maioria, voltaram a marcar presença do
primeiro para o segundo comício, e em especial para os que foram atingidos, o
que morreu e os dois que ficaram feridos (com gravidade, mas sobreviveram). Dos
outros oradores na ocasião para além do presidente-candidato um há que merece
sem dúvida um destaque deveras especial: Elon Musk. A sua presença naquele palco enquanto apoiante de DJT revestiu-se de um significado especial porque
havia sido, precisamente, a 13 de Julho, logo após o atentado falhado, que o
dono da Tesla e do Twitter declarara oficialmente o seu apoio – o seu voto e a
sua contribuição financeira – a Trump, algo que, na verdade, já se adivinhava
pelo evoluir das suas afirmações e posições públicas sobre as grandes questões
que se colocam aos Estados Unidos da América, no presente e no futuro.
Nas eleições presidenciais norte-americanas, e desde
há bastante tempo, os endorsements – de personalidades famosas não só da
política mas também da arte, cultura e espectáculos, da economia – constituem
um dos factores mais notórios, e quiçá folclóricos, das campanhas, embora nunca
tenha ficado assente que tenham um impacto decisivo no desenlace daquelas
apesar da fama e da influência das figuras públicas em causa. A eleição neste
ano de 2024 não é uma excepção, e tem-se assistido a um quase constante «desfile»
de notáveis tanto de um lado como do outro. Os democratas têm, entre outros,
Billie Eilish, Bruce Springsteen e Taylor Swift, o que demonstra mais uma vez
que talento para a música não significa necessariamente inteligência para os
assuntos de Estado; os «burros» também contam com supostos «republicanos» ou
«conservadores» como Adam Kinzinger, Jeff Flake e o duo pai-filha de Dick e Liz
Cheney, algo que até há relativamente pouco tempo não se imaginaria ser
possível – mas torna-se compreensível quando nos apercebemos de que todas as
«criaturas do pântano» tendem a juntar-se apesar das suas (aparentes?)
diferentes tonalidades. Quanto aos republicanos, e Donald Trump em particular, recolheram
por sua vez o apoio de diversos, distintos, democratas – uns que ainda se
assumem enquanto tal e outros que confessam que deixaram de o ser – dos quais
se pode realçar Robert F. Kennedy Jr. e Tulsi Gabbard, e Elon Musk, que, apesar
de eleitoralmente estar registado como independente, admitiu que votou
habitualmente em democratas anteriormente.
É também por este seu percurso enquanto votante, e
não apenas pelo facto de ser o homem mais rico do Mundo e também o maior
inovador e empreendedor tecnológico contemporâneo, que o apoio de Elon Musk a
Donald Trump pode e deve ser considerado especial e excepcionalmente
significativo. Mais de que outras, uma constatação fundamental – e correspondente
preocupação – levou-o a esta decisão: a de que os democratas são inimigos da liberdade de expressão. Ele cedo compreendeu isso quando adquiriu o Twitter
e descobriu que aquela plataforma havia sido previamente susceptível a todas as
pressões e pedidos de remoção – de textos e até de contas – feitos pelos «azuis»,
o que ficou provado inequivocamente com a iniciativa denominada «Twitter Files»,
por ele lançada pouco depois da aquisição; os seus receios neste domínio,
aliás, continuam a ter justificação porque não cessam os insistentes apelos à
censura feitos por alguns dos mais destacados membros do PD, nomeadamente, e só
para referir alguns nas últimas semanas, por Tim Walz, Hillary Clinton e John Kerry. Porém, existem outros factos que pesaram na sua mudança de orientação
ideológico-partidária, tomar a «pílula encarnada» e trazê-lo para a direita: a
consagração legal, e não só na Califórnia, da retirada dos filhos à guarda dos
pais quando estes não aceitam a «transição» deles para «géneros» diferentes; a
inexistência de uma verdadeira fronteira a sul e a consequente entrada de
dezenas de milhões de imigrantes – ou, mais correctamente, invasores – ilegais.
Musk não duvida de que a eventual – e indesejada – eleição de Kamala Harris resultará
num cenário quase apocalíptico ao estilo de «Mad Max» para os EUA.
Aos que provavelmente afirma(re)m que a participação
de Elon Musk a favor de Donald Trump na campanha desequilibra esta a favor do candidato
republicano eu contraponho que, apesar da sua imensa fortuna, o fundador da
Space X e da Neuralink proporciona(rá) menos dinheiro ao GOP do que todos os
bilionários que financiam os democratas e Kamala Harris, e tanto assim é que a «vice»
conta com um orçamento de um bilião de dólares (!), possível também pelos eventos
de angariações de fundos realizados na Califórnia, com celebridades de Hollywood
e inovadores de Silicon Valley, e em Nova Iorque, com banqueiros e investidores
de Wall Street. Além de que estes não correm quaisquer riscos com uma vitória
de Trump enquanto Musk efectivamente corre muitos com uma vitória de Harris, que poderia resultar, segundo ele, em prisão. Não se trata de um exagero porque os
democratas já demonstraram que não hesitam em perseguir judicialmente os seus
opositores, a começar por DJT, e, no caso de Elon, autoridades federais – FTC e
SEC – iniciaram em 2022 uma investigação à compra do Twitter, e, já neste ano,
uma comissão ambiental californiana recusou-lhe o aumento do número de lançamentos de foguetões citando como causa as suas posições políticas. Agora,
se Trump for (re)eleito, está praticamente garantido que ele desempenhará um
papel importante na próxima administração; não na função de secretário com um
pelouro e área de actividade específicos mas sim num cargo mais informal, líder
de um grupo de trabalho que terá como principal objectivo aumentar a eficiência
em todo o governo central a partir de Washington; DJT já alvitrou que ele será
o «secretário do corte de custos». De qualquer modo, e com Elon, o élan será
sem dúvida outro e certamente melhor.
(Adenda - Mesmo a (des)propósito, a doida de miolos «torrados» do Delito de Opinião decidiu... opinar sobre Elon Musk e os seus alegados «planos maléficos» - são também de ler as suas respostas aos comentários - de que resultou, sem surpresa, uma nova série de idiotices, mais constrangedora do que hilariante.)