sábado, 21 de outubro de 2023

O espaço, militarizado, privatizado

A 22 de Novembro de 2019, no meu artigo «Dias de um passado futuro» saído no jornal Público, referi e comentei alguns exemplos de «previsões» feitas em alguns famosos filmes de ficção científica que poderiam ou não ter-se concretizado nas datas apontadas que, entretanto, se tinham materializado - «2001», «2019, Novembro» («tempo» da acção de «Blade Runner»), e outros. Antes, a 20 de Julho do mesmo ano, data em que se assinalaram e celebraram os 50 anos da chegada dos primeiros homens (Aldrin, Armstrong e Collins) à Lua, no meu artigo «E se eles não tivessem conseguido?» recordei e realcei a importância daquela viagem e do que foi preparado para se dizer e fazer na hipótese – felizmente não concretizada – de a missão fracassar…
… E agora, como que numa confluência desses dois âmbitos, aborda-se o facto de, talvez sem muitos darem por isso (mas eu dei), dois conceitos mais ou menos «clássicos» da FC relativamente à exploração espacial se terem tornado realidade em pouco mais de três anos. Mais concretamente, e pelo lado norte-americano, a militarização e a privatização do espaço, correspondentes, a primeira, à criação por Donald Trump, quando era presidente (e, em legitimidade, ele ainda o é), de um novo ramo das forças armadas americanas, a Força Espacial, e, a segunda, ao (bem sucedido) primeiro lançamento pela SpaceX de um foguetão com destino à Estação Espacial Internacional transportando dois astronautas da NASA, o primeiro voo espacial tripulado com origem nos Estados Unidos da América desde o fim do programa dos vaivéns; e Trump esteve presente no lançamento da nave da SpaceX.  
Poder-se-á contra-argumentar que a entrada no cosmos da empresa fundada e dirigida por Elon Musk – o homem que também lidera outras companhias como a Tesla, a Twitter/X e a Neuralink – não constitui exactamente, não representa propriamente, o início de uma «privatização» do espaço porque há décadas que companhias não estatais financiam, fabricam e lançam foguetões para colocarem em órbita satélites artificiais de índole científica, comercial (em especial comunicações) e até militar. Porém, transportar pessoas é muito mais importante, sensível e perigoso do que transportar objectos. Então, em 2019, e previsivelmente, no lado esquerdo da política dos EUA houve quem preferisse, como forma de «comemorar» o meio século da chegada de compatriotas à Lua, o enaltecimento – consideraram-no superior, aliás – do programa espacial da União Soviética, e não faltaram comentários depreciativos e mesmo alarmados a este mais recente progresso científico e económico, como o de considerar o sucesso da SpaceX não histórico mas sim «trágico»! Não consta que estes mesmos «especialistas» tenham lamentado a decadência e até o retrocesso que a NASA sofreu durante a administração de Barack Obama – que, talvez como parte da «flexibilidade» que ele prometeu a Vladimir Putin, permitiu que os americanos passassem a ir à EEI em naves Soyuz e assim contribuindo para a economia russa. Com Donald Trump esta trajectória foi revertida e começou a falar-se seriamente, oficialmente, não só de um regresso à Lua mas também de uma primeira viagem tripulada a Marte; entretanto, e como depositário das conquistas e das glórias do programa Apolo criou-se um novo programa, o Artemis.
Tudo isso era antes. Mas agora, quase três anos depois de o Partido Democrata ter roubado a eleição presidencial e de ter iniciado uma campanha de perseguição policial, jurídica e política contra os seus opositores no Partido Republicano, a começar por Donald Trump, todas as forças armadas norte-americanas, nas quais se inclui a Força Espacial, enfrentam uma série de grandes e graves desafios – à semelhança, aliás, de praticamente todos os sectores da sociedade norte-americana – e correm mesmo riscos de aceleradas degradação e diminuição das suas capacidades operacionais, não só por causa da progressiva e agressiva infiltração e contaminação pelas ideologias woke, esquerdistas, comunistas, neo-segregacionistas, mas também por culpa das mais rasteiras e indesculpáveis incompetência e irresponsabilidade. Afinal, quando uma actual general da FE afirma publicamente que, no seu desempenho, dá mais prioridade às operações de mudança de sexo do que à contratação de pessoas qualificadas, que mais há a esperar desta «liderança castrense» dos EUA além da auto-aniquilação perante potências estrangeiras, se não melhor armadas certamente mais motivadas? Está difícil definir e decidir quais são as piores ameaças, as terrestres ou as extra-terrestres. Pelo que no presente momento não há motivos para optimismo nem justificação para lemas do tipo «para o infinito e mais além».