Nos
quase 17 anos do Obamatório foram muito poucas, raríssimas, as ocasiões –
talvez duas, no máximo – em que mencionei portugueses que, por sua vez,
haviam sido mencionados na comunicação social norte-americana por motivos de
índole política. A primeira, em Maio de 2019, teve como protagonista o notório
(em Portugal) caricaturista António Antunes, a propósito do seu rasco desenho,
publicado no Expresso, com Benjamin Netanyahu como «cão» que conduzia um «cego»
Donald Trump, divulgado no New York Times. A segunda, muito mais recente,
em Setembro deste ano de 2025, teve como protagonista Marcelo Rebelo de Sousa,
a propósito da suas risíveis declarações na «Universidade de Verão» do PSD e
difundidas também do outro lado do Atlântico (e não só) designando o actual
Presidente dos Estados Unidos da América como um «activo russo».
Há,
porém, outro português que, devido ao cargo cimeiro que desempenha numa
importante entidade internacional, é referido regularmente nos media, não só
dos EUA mas ainda de todo o Mundo: António Guterres. Neste espaço nunca abordei
um episódio ou incidente concreto em que o actual (aliás, desde 2017)
secretário-geral da Organização das Nações Unidas, ex-primeiro-ministro de
Portugal e ex-secretário-geral do Partido Socialista estivesse envolvido, mas
escrevi o seguinte em Junho de 2023: «Há que reconhecer que a actuação de
Tedros Ghebreyesus e dos seus “camaradas” acabou por se revelar bastante
consentânea com o que tem sido o panorama geral na ONU durante as últimas
décadas, em que várias ditaduras – em especial as muçulmanas – conseguem ser
eleitas para integrarem agências e comités (porque é “normal” ter o Irão a
pontificar sobre direitos das mulheres), nessas campanhas aproveitando, com o
maior descaramento, para aumentar ainda mais a pressão sobre Israel com
sucessivas e revoltantes moções condenatórias. Tudo isto quando é
secretário-geral um António Guterres cada vez mais ridículo, histérico e
execrável, agora uma personificação não nacional mas internacional do “pântano”,
expelindo intervenções públicas e oficiais que alternam entre o catastrofismo
climático – e que, não se duvide, incitam os actos praticamente
terroristas de “activistas” como o bloqueio de ruas e de estradas e o
vandalismo de obras de arte – e o apelo constante ao alargamento da censura sob
o pretexto do combate à “desinformação” e ao “discurso do ódio”, este tendo ou
não “dois minutos” de duração.» Quantos são os portugueses que ainda não sabem
que, em Outubro de 2024, Israel baniu AG do seu território em resultado da
contumaz e desprezível conduta do «tuga» para com aquele país?
Já
é suficientemente mau quando um(a) compatriota comenta, com ignorância e mesmo
com estupidez, invariavelmente a «olhar para o burro» e a «inclinar» para a
esquerda, as notícias alusivas à política e/ou à sociedade nos EUA, e disso já
dei muitos (maus) exemplos, aqui, ao longo dos anos. No entanto, é pior quando,
precisamente, se trata de um português a estar na, ou constituir a, (desagradável,
infeliz) notícia. Neste âmbito, é difícil descer mais baixo do que Cláudio
Valente, culpado não de um mas sim de dois dos crimes mais chocantes ocorridos
este ano no outro lado do Atlântico: primeiro, o tiroteio na Universidade Brown,
em Providence, no Estado de Rhode Island, a 13 de Dezembro, que causou dois
mortos e nove feridos; segundo, o homicídio do também luso Nuno Loureiro, em
Brookline, no Estado do Massachusetts, a 15 de Dezembro. Não é, de facto, a
situação mais agradável saber e ver-ouvir-ler constantemente, regularmente, ao
longo de um período considerável de tempo, e numa perspectiva tão negativa, um
nome de um cidadão nacional em praticamente todos os principais (e ainda os
secundários) órgãos de comunicação social norte-americanos (e ainda os de um
pouco por todo o Mundo) – ABC, CBS, CNN, Fox News, NBC, NPR, New York Post, New York Times, Wall Street Journal, Washington Post, entre outros. Um pormenor
quase omnipresente nestes relatos é a referência inevitável a Lisboa e ao
Instituto Superior Técnico, onde tanto Loureiro como Valente estudaram e se
terão conhecido. Entretanto, e infelizmente, outro português ganhou notoriedade por estar do lado errado da lei: menos de duas semanas depois – foi na véspera
de Natal, 24 de Dezembro! – de Cláudio Valente ter assassinado e se suicidado,
Tiago Martins, imigrante ilegal nos EUA desde 2008, foi atingido a tiro e detido em Baltimore, no Estado de Maryland, por agentes do Immigration and Customs
Enforcement após ter tentado fugir e atropelar aqueles agentes; uma vez mais o
nome de Portugal foi mencionado, mas não pelos melhores motivos.
O contraste
não podia ser maior com outro compatriota que se distinguiu pelo que disse e/ou
fez nos Estados Unidos da América neste ano de 2025 que agora termina: Cristiano
Ronaldo, que a 18 de Novembro esteve em Washington para um jantar na Casa
Branca por ocasião da visita oficial de Mohammad bin Salman, príncipe herdeiro
da Arábia Saudita. O jogador e capitão do Al Nassr teve ocasião de, finalmente,
conhecer pessoalmente Donald Trump e de com ele conversar e posar para fotografias, algo que ele manifestara vontade de fazer numa entrevista dada ao jornalista britânico Piers Morgan e difundida a 7 de Novembro. Todavia, a verdadeira origem do
encontro entre os dois ícones globais terá sido provavelmente a cimeira do G7 realizada
em Junho no Canadá, em que António Costa, presente naquela por ser Presidente
do Conselho Europeu, ofereceu a Trump uma camisa da selecção nacional com o
nome e o número de CR7, por este autografada. Marcelo Rebelo de Sousa havia
sido o anterior português a estar com DJT na Sala Oval, pelo que a honra dada
ao futebolista foi de facto especial e mesmo extraordinária. Trata-se de algo de
que todos os portugueses se orgulhariam, certo? Errado! Não faltaram as vozes
críticas do madeirense, de que são exemplos: Pedro Henriques, alegado
especialista em futebol da SIC que disse que «ser convidado de Trump não é motivo
de orgulho para quase ninguém»; e Maria Castello Branco, suposta comentadora de
política na CNN Portugal, que disse se envergonhar de «um símbolo nacional que
se comporta como um cão de mão». As «cadelas» podem «ladrar», mas isso não é necessariamente um
problema: importante é que a «caravana» do bom senso passe.
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