Não é todos os dias que um português, ou
portuguesa, ou algo que ele ou ela disse e/ou fez é tema da notícia de maior
destaque, ou o objecto da maior controvérsia nos Estados Unidos da América…
nesse dia. Pois a 28 de Abril último isso aconteceu a António Antunes,
mais conhecido como simplesmente António, ou seja, o conhecido caricaturista do
jornal Expresso. Mas não deliberadamente: o desgostoso e insultuoso – e, sim, anti-semítico – cartoon que ele desenhou e «estreou» numa edição recente do semanário português
«retratando» Benjamin Netanyahu como um animal e Donald Trump como um cego
guiado por aquele foi utilizado – legalmente - numa edição internacional do New
York Times mas sem o conhecimento prévio do autor.
Nos EUA o choque e a condenação pelo/do desenho foram generalizadamente unânimes. E não se limitaram à direita, aos conservadores, aos republicanos – na verdade, pessoas como Alan Dershowitz e
Jake Tapper de modo algum podem ser classificados como simpatizantes do GOP. O
rabi Shmuley Boteach e o jornalista Bret Stephens (este um colunista do NYT!) chegaram
mesmo a afirmar que a caricatura de António está ao (baixo) nível da propaganda
feita pelos nazis durante o Terceiro Reich. Não tardou muito para que o New York Times, jornal que tem sido um crítico (e caluniador) consistente e insistente de Israel, assumisse o erro e por ele pedisse desculpa, retirasse –
ou tentasse «apagar» - o desenho e prometesse que situações semelhantes não voltariam a acontecer… algo que, vindo de onde e quem vem, seria sempre muito
difícil de acreditar, o que se confirmou pouco depois quando o pasquim da
«Grande Maçã», agora na sua edição «doméstica», publicou outro cartoon anti-semítico «disfarçado» de sátira ao actual primeiro-ministro israelita. Interessantemente,
e tanto quanto eu consegui verificar (mas, obviamente, a minha análise esteve
longe de ser abrangente), nas 72 horas seguintes ao rebentar do «escândalo» em
nenhum ponto do espaço mediático norte-americano (comunicação social
«tradicional» e redes sociais) foi revelada a identidade do criador do desenho e a
sua proveniência geográfica. Só a 1 de Maio isso finalmente aconteceu, (pelo
menos) num artigo no sítio da CNN, que referiu também o «pequeno jornal» para o
qual aquele costuma trabalhar…
… E que, como seria de esperar, o que
se confirmou no depoimento que deu ao Público sobre o assunto, não vê, não
compreende, como é que este seu trabalho pode ser ofensivo e até odioso. Para ele
trata-se unicamente de criticar o governo de Israel e em especial o seu líder actual,
e não os judeus em geral. Tudo tretas, obviamente. Naquela caricatura estão,
insidiosas, as calúnias que durante décadas – ou até séculos – os anti-semitas
de vários matizes nunca deixaram de propagar: o interesseiro e sorrateiro
judeu, aqui transfigurado em cão – animal repulsivo para os muçulmanos – e
devidamente adornado com a estrela de David, leva um insuspeito e invisual
(figurada ou até literalmente) ocidental por caminhos que ele eventualmente não
escolheria se não fosse enganado. No fundo, António mais não é do que um dos
muitos pobres de espírito, em Portugal, na Europa e no Mundo, que, em resultado
da profunda, prolongada propaganda esquerdista, marxista, uma aliada cada vez
menos circunstancial da propaganda islamita, acreditam acriticamente nas
«novas» mentiras sobre a nação judaica, (in)dignas herdeiras das «velhas» que
eram «reveladas» pel’«Os Protocolos dos Sábios de Sião» e que levaram Adolf
Hitler e os seus nacionais-socialistas a aplicar a «solução final» em campos de
concentração. Mentiras essas, aliás, que «partilham» a origem e a perfídia com
as que são pregadas relativamente ao panorama político dos EUA, que dão os democratas
como «bons» e os republicanos como «maus».
Note-se que não se defende aqui que António,
ou qualquer outro caricaturista, artista, comunicador ou jornalista deva ou
devesse ser penalizado de alguma forma pelo que fez. Há mais de quatro anos que
sou dos que afirma e que assume «Je suis Charlie», também porque eu próprio já
fui várias (demasiadas) vezes discriminado e censurado, a mais recente das quais
num espaço em que «delito de opinião» era suposto ser apenas um título irónico.
Que se diga, escreva, desenhe o que se quiser, desde que não se incite à
violência. E tendo presente sempre que, do outro lado, h(aver)á o direito e até
o dever de avaliar e de responder, de concordar ou de contestar. E mesmo de
sentir vergonha, que neste caso foi o que me aconteceu em relação a um
conterrâneo… não só de país mas igualmente de concelho.
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