Uma prova definitiva – mas deprimente – de que o
desconhecimento e a desinformação sobre o panorama político nos EUA está a
aumentar e não a diminuir em Portugal (e não só) é a de que até em meios de
onde seria de esperar mais e maior rigor
e seriedade neste âmbito (e em outros) começam a ocorrer surtos de estupidez,
de idiotice, de parvoíce. Um exemplo recente foi dado pelo blog Delito de
Opinião. Em apenas cinco dias, três (!) textos foram naquele publicados que,
pelo seu teor, poderiam levar um mero observador moderadamente atento a
perguntar(-se) se o DdO, que muitos considera(va)m, dado o seu historial, um
espaço de centro-direita, havia sido «capturado», ou «clonado», pelo
Esquerda.net. Veremos a seguir quais foram esses textos, e, ainda, alguns dos
seus excertos mais significativos (no mau sentido).
Em «Os psicopatas americanos no Congresso», de 9 de
Janeiro: «um discurso (de Donald Trump) de acusação e de incitamento directo
contra a câmara legislativa (...) as palavras eram demasiado explícitas para
que não se possa ligá-las ao que sucedeu a seguir»; «Trump flutua entre um
instinto político eficaz e uma mitomania que se torna pública muitas vezes, era
sem dúvida este último sentimento que o dominava naquele dia»; «discurso a meio
caminho entre um ditador sul-americano e o general Custer lançando ordens
contra os índios»; «discurso de raiva que levou aquela mole desvairada
habituada a "informar-se" no Qanon a cometer um acto tão grotesco»; «gente
mais proveniente do Midwest e do Deep South, menos cosmopolita e mais
susceptível a propaganda»; «ao criar a personagem (de Patrick Bateman), (Brett
Easton) Ellis pôs muito de Trump nela».
Em «Figura internacional de 2021 (Joe Biden)», de 12
de Janeiro: «(Biden) procurou apaziguar as tensões na sociedade norte-americana»;
«decente, apaziguador e fonte de esperança»; «(EUA) que, à data da votação,
estava ferida de morte pelos crimes, vilanias e atropelos à democracia do
antecessor do democrata»; «os EUA voltaram a ter um Presidente».
Em «Facto internacional de 2021 (assalto ao Capitólio nos EUA)», de 14 de Janeiro: «nunca se tinha visto algo assim, uma
turba enfurecida subia as escadarias do Capitólio, em Washington, e invadia o
histórico edifício, perante a impotência das forças de segurança, colocando em
risco senadores e congressistas»; «estes milhares de insurrectos, apoiantes
declarados de Donald Trump, invadiram e vandalizaram a sede do poder
legislativo dos EUA»; «cinco mortos registados, entre eles quatro polícias».
Todas – sim, verdadeiramente
todas! – as afirmações transcritas nos três parágrafos anteriores são mentiras,
invenções, falsidades. E isto num blog onde, não raras vezes e ironicamente, o
seu fundador e principal redactor se arroga dar «lições» de bom jornalismo. A mesma
pessoa mais não fez do que aumentar (piorar?) as contradições hoje, 24 de Fevereiro,
com um texto intitulado «O tigre de papel», (des)qualificativo aplicado, enfim correctamente,
a Joe Biden, «patético “comandante supremo” em Washington», que, com a debandada
desastrosa do Afeganistão no ano passado assinalou à Rússia, e ao resto do
Mundo, que os EUA já não estariam em condições de contrariar a invasão da
Ucrânia também neste dia iniciada por ordem de Vladimir Putin. O que é «estranho» porque o demente do Delaware era, supostamente, e há pouco mais de um mês, um
presidente a sério e uma «fonte de esperança». Haja paciência... Acumular tantas
asneiras, e em tão pouco tempo, deveria ser... delito.
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