quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Deveria ser... delito

Uma prova definitiva – mas deprimente – de que o desconhecimento e a desinformação sobre o panorama político nos EUA está a aumentar e não a diminuir em Portugal (e não só) é a de que até em meios de onde seria de esperar mais e maior rigor e seriedade neste âmbito (e em outros) começam a ocorrer surtos de estupidez, de idiotice, de parvoíce. Um exemplo recente foi dado pelo blog Delito de Opinião. Em apenas cinco dias, três (!) textos foram naquele publicados que, pelo seu teor, poderiam levar um mero observador moderadamente atento a perguntar(-se) se o DdO, que muitos considera(va)m, dado o seu historial, um espaço de centro-direita, havia sido «capturado», ou «clonado», pelo Esquerda.net. Veremos a seguir quais foram esses textos, e, ainda, alguns dos seus excertos mais significativos (no mau sentido).
Em «Os psicopatas americanos no Congresso», de 9 de Janeiro: «um discurso (de Donald Trump) de acusação e de incitamento directo contra a câmara legislativa (...) as palavras eram demasiado explícitas para que não se possa ligá-las ao que sucedeu a seguir»; «Trump flutua entre um instinto político eficaz e uma mitomania que se torna pública muitas vezes, era sem dúvida este último sentimento que o dominava naquele dia»; «discurso a meio caminho entre um ditador sul-americano e o general Custer lançando ordens contra os índios»; «discurso de raiva que levou aquela mole desvairada habituada a "informar-se" no Qanon a cometer um acto tão grotesco»; «gente mais proveniente do Midwest e do Deep South, menos cosmopolita e mais susceptível a propaganda»; «ao criar a personagem (de Patrick Bateman), (Brett Easton) Ellis pôs muito de Trump nela».
Em «Figura internacional de 2021 (Joe Biden)», de 12 de Janeiro: «(Biden) procurou apaziguar as tensões na sociedade norte-americana»; «decente, apaziguador e fonte de esperança»; «(EUA) que, à data da votação, estava ferida de morte pelos crimes, vilanias e atropelos à democracia do antecessor do democrata»; «os EUA voltaram a ter um Presidente».
Em «Facto internacional de 2021 (assalto ao Capitólio nos EUA)», de 14 de Janeiro: «nunca se tinha visto algo assim, uma turba enfurecida subia as escadarias do Capitólio, em Washington, e invadia o histórico edifício, perante a impotência das forças de segurança, colocando em risco senadores e congressistas»; «estes milhares de insurrectos, apoiantes declarados de Donald Trump, invadiram e vandalizaram a sede do poder legislativo dos EUA»; «cinco mortos registados, entre eles quatro polícias». 
Todas – sim, verdadeiramente todas! – as afirmações transcritas nos três parágrafos anteriores são mentiras, invenções, falsidades. E isto num blog onde, não raras vezes e ironicamente, o seu fundador e principal redactor se arroga dar «lições» de bom jornalismo. A mesma pessoa mais não fez do que aumentar (piorar?) as contradições hoje, 24 de Fevereiro, com um texto intitulado «O tigre de papel», (des)qualificativo aplicado, enfim correctamente, a Joe Biden, «patético “comandante supremo” em Washington», que, com a debandada desastrosa do Afeganistão no ano passado assinalou à Rússia, e ao resto do Mundo, que os EUA já não estariam em condições de contrariar a invasão da Ucrânia também neste dia iniciada por ordem de Vladimir Putin. O que é «estranho» porque o demente do Delaware era, supostamente, e há pouco mais de um mês, um presidente a sério e uma «fonte de esperança». Haja paciência... Acumular tantas asneiras, e em tão pouco tempo, deveria ser... delito.

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