quarta-feira, 28 de outubro de 2015

«Hillarity» (Parte 4)

(DUAS adendas no final deste texto.)
À partida que fique desde já dito, e esclarecido, o seguinte: não, Hillary Clinton não saiu ganhadora, vencedora, «por cima», da (mais recente) audiência, tida na Casa dos Representantes no passado dia 22 de Outubro, sobre o ataque ao consulado norte-americano em Benghazi; não, ao contrário do que se escreveu em Portugal, ela não saiu «ilesa», e a sua tal «semana de sonho» é uma invenção dos seus apoiantes…
… Porque, principalmente, e como resumiu bem Megyn Kelly, ficou demonstrado que ela mentiu, e descaradamente, numa questão fundamental: a da causa do atentado na Líbia no dia 11 de Setembro de 2012. Enquanto, privadamente, tanto à filha Chelsea como ao então primeiro-ministro do Egipto, dizia que se tratara de uma acção terrorista planeada, publicamente ela anunciava que a causa havia sido uma demonstração espontânea em resposta a um filme alegadamente anti-Islão… de que poucos tinham conhecimento ou tinham visto; tudo isto para não prejudicar a campanha de reeleição de Barack Obama, que também participou activamente na mentira. Poucas ou nenhumas dúvidas restam de que a falsa narrativa começou, efectivamente, nela, por ela. As mensagens de correio electrónico que o demonstram foram mostradas no Congresso, e só isto deveria ser suficiente para a desqualificar da candidatura à presidência. Se depois e durante (d)o ataque o comportamento de Hillary Clinton foi incompetente, irresponsável e lamentável, antes não o foi menos, porque ignorou múltiplos – terão sido cerca de 600! –pedidos de reforço da segurança no consulado feitos pelo (ou para o) embaixador Christopher Stevens, que viria ser um dos quatro mortos, assassinados, em Benghazi.
A sessão da passada quinta-feira foi fértil, pródiga, em momentos desconfortáveis… para a ex-secretária de Estado. Em perguntas incómodas a que ela não respondeu ou fingiu que respondeu, em reacções embaraçosas àquelas. Como, por exemplo: porque é que, se ele era assim tão amigo dela, Chris Stevens não tinha o endereço de correio electrónico pessoal, principal, de Hillary Clinton, ao contrário de outros; ela não se lembrava de se, e quando, havia conversado com o embaixador nos meses anteriores à sua morte, mas acreditava que ele estava mostrar o seu «bom sentido de humor» ao referir-se à sua compra de gradeamentos aos britânicos (do – encerrado – consulado destes na cidade líbia, mas que se mostraram de reduzida utilidade); revelou desconhecer as funções de protecção que os marines desempenham em instalações diplomáticas; acabou por admitir que não respeitou (um)a lei (ao não assinar documentação necessária); porque é que ninguém foi despedido por ela na sequência do ataque; alegou que perdeu mais horas de sono do que todos os membros da comissão em conjunto; e aproveitou para promover o seu mais recente (e mal sucedido) livro…     
Para aqueles que insistem que a audiência de pouco ou nada serviu, que foi inútil, uma perda de tempo, Joel B. Pollak enumerou as nove principais revelações que saíram daquela; menos… diplomático, Ben Shapiro enumerou por sua vez as cinco maiores mentiras ditas por Hillary Clinton. Repare-se, e repito, que são «apenas» as cinco maiores, porque outras houve, e, com a esposa de Bill, antes ainda outras existiram e mais existirão… Não que isso preocupe os admiradores dela, incluindo os da comunicação social. Judy Woodruff, da PBS, não dá importância ao facto de a agora candidata, sobre a causa do ataque, dizer uma coisa a um grupo de pessoas e, ao mesmo tempo, dizer outra coisa a outro grupo; Jeffrey Toobin, da CNN, acusou o representante (obviamente republicano) Jim Jordan de ter sido o «pior», «menos profissional», «mais enganador» durante o interrogatório quando, na verdade, foi exactamente o oposto; David Brooks, do New York Times, que (des)classificou os republicanos de «obsessivos» e «psicóticos»; Carl Bernstein, ex-Washington Post, que (des)classificou os republicanos de «demagogos» que usam as tácticas de Joseph McCarthy, e que parecem «macacos» (!!); menos histérico e mais sensato do que o seu colega na investigação do caso Watergate, Bob Woodward admite que há semelhanças entre Richard Nixon e Hillary em termos de secretismo.
O que muitos dos «jornalistas» que são «membros» - assumidos ou não – do «clube de fãs» da Sra. Clinton raramente ou nunca fazem é falar com os familiares das vítimas, que não escondem a desconfiança e até o desprezo que ela lhes inspira. Como Patricia Smith, mãe de Sean Smith, cuja frustração antes de dia 22 passou a indignação depois; Ben Doherty e Kate Quigley, respectivamente pai e irmã de Glen Doherty, ele muito menos... diplomático do que ela; como Charles Woods, pai de Tyrone Woods, que escreveu no seu diário que Hillary lhe prometeu que iriam prender… o cineasta autor do tal vídeo. Também não é de esperar que os familiares passem a mostrar boa vontade para com a agora candidata depois de no seu sítio oficial um dos nomes das vítimas ter sido mal escrito… e, muito pior, de continuarem a vê-la – e a ouvi-la – a rir-se nos momentos, nas ocasiões menos oportunas, quando confrontada com questões sérias. Isso aconteceu mais recentemente… na própria audiência no Congresso, e foi imediatamente repreendida por isso; antes, gargalhara numa entrevista a Jake Tapper, e, antes disso, quando proclamara querer ser «a presidente das pequenas empresas» (o que, com efeito, não é para acreditar).  Não, não é por acaso que se faz (enfim, que eu faço) um jogo de palavras entre Hillary e «hillarity», hilaridade…
... E riso foi o que não faltou igualmente no primeiro debate entre os então cinco candidatos democratas à presidência dos EUA (entretanto, dois já desistiram), realizado em Las Vegas a 13 de Outubro. A esposa de Bill só o «venceu» porque os seus supostos «rivais» não a pressionaram, e os apresentadores e moderadores, da CNN, foram… moderados.  Porém, o destaque maior foi indubitavelmente para a afirmação de Hillary de que os «republicanos» - ela não especificou, pelo que se pode deduzir que ela se referia tanto aos eleitos como aos eleitores do GOP – são, ou estão entre, os seus maiores «inimigos». Não foi só dos círculos conservadores – candidatos e comentadores – que, previsivelmente, as reacções de repúdio irromperam; também, por incrível que isso possa parecer, David Axelrod criticou a afirmação e ainda, não uma mas sim duas vezes, Joe Biden, que, entretanto, declarou que não se candidata a Nº 1 (por agora?). No entanto, o reparo feito pelo vice soa a hipocrisia da parte de alguém que, em 2012, havia dito aos afro-americanos que os republicanos queriam acorrentá-los outra vez… A própria Hillary pareceu arrepender-se, e retractar-se, da – divisiva, nada bipartidária, nada consensual – afirmação mas, vindo de quem vem, de uma pessoa, e política, com uma longa história de contradições, mudanças de opinião, «virar casacas», o mea culpa (se o foi) não oferece grande credibilidade…
… Quanto mais não seja porque, qual camaleão, a Sra. Clinton adapta o discurso consoante as circunstâncias. Só durante o debate democrata Ben Shapiro detectou 27 mentiras ditas por ela. Até Martin O’Malley, que só pelos seus mandatos de mayor de Baltimore e de governador do Maryland deveria ser desqualificado de concorrer a presidente, e cuja estupidez o leva a dizer que as «alterações climáticas» estiveram na origem do ISIS, é capaz de perceber e de reconhecer que a sua rival na nomeação já efectuou «flip-flops» em todos os principais assuntos da campanha. E, na verdade: é vê-la fazer angariações de fundos com magnatas de petróleo… apesar da sua oposição à construção do oleoduto Keystone; é ouvi-la justificar, enquanto recém-convertida ao «matrimónio gay», a promulgação, há cerca de 20 anos pelo marido, do «Acto de Defesa do Casamento» como uma «acção defensiva»; enfim, é saber que não obstante a sua – ocasional e postiça – retórica anti-Wall Street e contra os «gatos gordos», recebeu mais donativos de CEO’s do que os candidatos republicanos.
Hillary abusa frequentemente do descaramento, da desfaçatez: anunciou o apoio de «camaradas» de partido… que, na realidade, (ainda) não o tinham feito; «estabeleceu» que existe um «padrão de republicanos a meterem-nos em sarilhos económicos, e presidentes democratas terem de vir e limpar» (o que é factualmente falso, pois não existem casos que sustentem a ocorrência de um tal «padrão»); elogiou Ellen Sirleaf e convidou-a a participar este ano no fórum anual da Fundação Clinton… apesar de a actual presidente da Libéria apoiar a punição e a prisão de homossexuais no seu país; e declarou que (alegad)as vítimas de abuso sexual «têm o direito de serem acreditadas»… algo, no entanto, que ela sempre negou às várias mulheres que acusaram o marido de comportamentos impróprios... ou pior do que isso.
Rand Paul é de opinião de que, estando as primárias democratas practicamente reduzidas a uma escolha entre Bernie Sanders e Hillary Clinton (porque Jim Webb e Lincoln Chafee saíram, Joe Biden decidiu não entrar e Martin O’Malley continua a não se afirmar como uma opção credível), isso significa escolher entre «socialismo e corrupção». Impõe-se corrigir o senador do Kentucky e candidato presidencial: trata-se, na verdade, de uma escolha entre dois tipos de corrupção.
(Adenda – Não é só Barack Obama que tem sido comparado com Richard Nixon… e não ao nível das – geralmente consensuais – realizações positivas do sucessor de Lyndon Johnson, em especial no campo da política externa; Hillary Clinton também, e, como Bob Woodward – o homem que, indubitavelmente, mais sabe sobre o escândalo Watergate – recentemente reflectiu e reconheceu, o caso das mensagens de correio electrónico da esposa de Bill – e, concretamente, das cerca de 30 mil (metade do total!)  que ela decidiu (tentar) eliminar – fazem-no lembrar o das gravações secretas feitas pelo Nº 37, das quais uma quinzena de minutos fora apagadas, um acto que tanto dano político viria a causar ao ex-Nº 2 de Dwight Eisenhower. Porém, o mais significativo neste domínio é que há, efectivamente, uma ligação directa de Hillary com Watergate: ela fez parte de uma comissão do Congresso envolvida nas investigações daquele, e dela foi expulsa por ter tido comportamentos e procedimentos não éticos e mesmo irregulares! Não, não data apenas da presidência do marido, há cerca de 20 anos, o envolvimento da Sra. Clinton em atropelos às leis… estes começaram bem antes, há cerca de 40!)
(Segunda adenda – Só pode ser «coincidência» que as doações à Fundação Clinton registem um aumento desde a entrada de Hillary na corrida à presidência; e também só pode ser outra «coincidência» que a esposa de Bill tenha pedido que se faça uma investigação à Exxon… depois de esta empresa ter deixado de financiar aquela fundação (adenda à adenda - a investigação já começou!). Entretanto, multiplicam-se os indícios de que existem mesmo motivos – isto é, mensagens de correio electrónico com conteúdo confidencial – para o FBI propor ao Departamento de Justiça que a ex-senadora e ex-secretária de Estado seja acusada e constituída arguida por ter utilizado uma conta e um servidor privados. Neste contexto, mais interessante se torna o seu lapso recente – o de afirmar que os presidentes (ela quereria dizer presidiários) não deveriam ter de revelar os seus registos criminais após cumprirem as suas penas e quando tentam reintegrar-se na sociedade.)  

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