sábado, 2 de março de 2013

«A coisa mais próxima de Nixon»

«Vai arrepender-se disto!» Sim, Bob Woodward a ser ameaçado (foi o que aconteceu, apesar de ele não ter utilizado a palavra), intimidado, por Gene Sperling, um «conselheiro» (consigliere?) de Barack Obama é grave, mas é, antes de mais, ridículo: será que o presidente e os seus «capangas» não sabem quem ele é, o que já fez e o que é capaz de fazer, o que representa? Porém, tal não surpreende numa administração norte-americana que já excedeu todos os anteriores limites de incompetência e de insolência; eles já mostraram que são capazes de tudo. E «avisar» o histórico, lendário (e liberal) jornalista do Washington Post para não os contrariar nem é o pior que a Casa Branca e os seus «anexos» fizeram recentemente.
Bob Woodward limitou-se, afinal, a revelar e a reafirmar a verdade: que a «sequestração» - isto é, cortes obrigatórios em programas (despesas) federais – que entrou em vigor ontem e que Barack Obama descreveu nas últimas semanas como uma catástrofe quase apocalíptica (que não é) cuja culpa – claro! – seria do Partido Republicano, afinal resultou de uma ideia, de uma proposta… dele próprio e da sua equipa! O actual presidente a mentir e a não assumir as suas (ir)responsabilidades? Que «surpresa»! Mais, aqueles cortes não serão mais do que 85 biliões de dólares de um total de 3,6 triliões no primeiro ano, e, em vez de serem aleatórios como os democratas apregoam, podem ser escolhidos e aplicados pelas entidades públicas de forma a atenuar, a diminuir, os seus eventuais efeitos prejudiciais. No entanto, os factos não interessam de todo a quem está apostado em criar e em manter um ambiente permanente de confronto e de medo. Para quem está constantemente a acusar os adversários políticos de tomarem os americanos como «reféns» e de exigirem «resgates», ou seja, de os… sequestrar, não deixa de ser irónico que finalmente seja revelado e provado «para além de uma dúvida razoável» quem está, de facto, a «apontar uma arma à cabeça» dos norte-americanos, em especial dos contribuintes: aqueles que se recusam a reconhecer, a começar por Obama, que os EUA têm um – assustador – spending problem. Há «males que vêm por bem», e talvez esta sequestração, este «pequeno» corte acabe por representar o início de uma inevitável e indispensável desaceleração, e de uma diminuição, dos gastos públicos que atingiram no primeiro mandato de Obama valores absolutamente inacreditáveis e insustentáveis.
Entretanto, quem não alinha na narrativa da Casa Branca, quem confronta a «versão oficial»… tem problemas; «quem se mete com o PD… leva!» E já é não só a Fox News a ser colocada em «ponto de mira». Para além de Bob Woodward, outros «alvos» inesperados vieram nos últimos dias denunciar coacções de que foram vítimas: Ron Fournier, director editorial do National Journal; Lanny Davis, democrata que foi conselheiro de Bill Clinton, enquanto colunista do Washington Times; Jonathan Alter, ex-editor da Newsweek. Nenhum deles pode ser considerado um conservador right winger, muito pelo contrário… E não surpreende que existam muitos «jornalistas» que, obedientes ao seu «dono», preferem usar a sua «voz» para duvidar e até troçar das alegações de Woodward, e de outros… enfim, não têm a coragem, as qualidades, do co-autor de «All the President’s Men». Justificam o incidente com o facto de todas as administrações terem tido episódios de confrontação com a imprensa. Mas então… não era suposto Barack Obama ser diferente (para melhor)? Não foi com base nisso que ele concorreu e venceu?
Esta administração já não se restringe a acusar tudo e todos excepto si própria, a desperdiçar (tempo e dinheiro), a mentir descaradamente… agora já está igualmente disponível para se deixar corromper abertamente. Prova disso é a revelação de que a Organizing for America, a nova forma institucional do movimento de campanha de Barack Obama, está a vender acesso ao Sr. Hussein, encontros trimestrais com o presidente, a doadores que despendam pelo menos 500 mil dólares. Deve ser este o montante da tantas vezes mencionada «fair share». Não é novidade esta predilecção selectiva pelo «vil metal»: os «milionários» só são os «maus da fita» quando não dão dinheiro a democratas. E percebe-se melhor a revelação que Al Sharpton fez de algo que o Nº 44 lhe disse: «(ainda) não consegui tudo o que quero dos ricos». Palavras de um comunista, como suspeita Harry C. Alford, CEO da Black Chamber of Commerce que votou em BHO em 2008 (mas não em 2012)? Provavelmente, não; é mais de um extorsionista de Chicago.
Patrick Caddell, outra figura insuspeita (é democrata e foi conselheiro de Jimmy Carter), não tem dúvidas e escreve preto no branco: «Obama é a coisa mais próxima de Nixon que vimos nos últimos 40 anos». É evidente que essa proximidade é aos (baixos) níveis da paranóia, da conflitualidade, da indiferença em practicar acções ética e legalmente condenáveis. Porque, ao nível das realizações, as diferenças – a favor do Nº 37, cujo centenário do nascimento se assinala este ano – são enormes. Entre outras, Richard Nixon, bem ou mal, teve de terminar, e terminou, o envolvimento dos EUA no Vietnam iniciado por John Kennedy e continuado por Lyndon Johnson; deu seguimento, e conclusão, ao programa Apolo de viagens à Lua iniciado por Kennedy e continuado por Johnson; criou a Environmental Protection Agency; e fez a viagem à China continental, reconhecendo o regime de Pequim e Mao-Tse-Tung, o que representou uma transformação fundamental nas relações internacionais e na ordem mundial. E quando, ainda por cima, Bob Woodward, um dos homens que desencadeou o caso Watergate que levaria à renúncia de «Tricky Dicky», se vê envolvido, é impossível não ver o paralelismo, não aceitar o prenúncio… de que a História se pode repetir, mas agora em sentido – partidário – inverso.
Enfim, a lista de motivos para uma impugnação – ou para uma demissão – está cada vez maior. A 18 de Novembro escrevi aqui: «Quem acredita em “movimentos cíclicos” na política, quem acredita que 2012 foi uma repetição “ao contrário” de 2004, então tem de aceitar que 2014 vai ser igualmente uma repetição “ao contrário” de 2006, e 2016 uma repetição “ao contrário” de 2008… Contudo, quem sabe se, a curto ou médio prazo, 2012 não acabará por parecer-se mais com… 1972?» E, consequentemente, quem sabe se, a curto ou médio prazo, 2014 não acabará por parecer-se mais com… 1974? 

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