segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Os (des)educadores do povo

Ontem decorreu mais uma cerimónia de entrega dos Óscares. E, como é habitual, houve vencedores e vencidos, e polémica quanto à justiça (ou não) na atribuição, este ano, de alguns dos que são, incontestavelmente, os maiores, mais importantes (e mais antigos) prémios do cinema mundial. Porém, do que nem todos se lembram é que, neste domínio, a maior derrota é, quase sempre, nem sequer ser nomeado.
E, em 2011, voltou a haver algumas «não nomeações» surpreendentes. Nomeadamente: «Incepção» pela realização e pela montagem; «Alice na Terra das Maravilhas» pela caracterização; «Tron – Legado» pelos efeitos visuais e pela banda sonora; «Burlesco» pela canção. Todavia, houve outra omissão tão ou mais inesperada do que aquelas, embora menos notória: a de «À Espera do Super-Homem» na categoria de documentário (longo). E porquê a surpresa? Porque o filme foi realizado por Davis Guggenhein, o mesmo que dirigiu «Uma Verdade Inconveniente»... e que recebeu, por ele, um Óscar em 2007! Porque vários críticos o consideraram o melhor documentário de 2010, e esperavam que ele fosse não só nomeado como ganhasse o troféu máximo...
... Só que isso não aconteceu. Terá sido porque a principal conclusão do filme é a de que o sistema escolar dos Estados Unidos da América apresenta muitas e graves deficiências e insuficiências, que, logicamente, prejudicam principalmente os alunos... e que foram e são causadas em larga medida pela intervenção dos sindicatos? Terá sido por fazer uma crítica, mesmo que discreta e indirecta, a um dos principais pilares do Partido Democrata? Terá sido por considerarem Guggenheim um «traidor»?
Não faltam, na actualidade dos EUA convertida em informações e em notícias, os «sinais» que indicam a existência, nas escolas, de problemas que têm de ser solucionados. Começando no Wisconsin, onde os professores têm estado na linha da frente da contestação a Scott Walker, mesmo que mintam para faltarem às aulas e manifestarem-se... mas onde muitos recebem salários elevados que não são, de todo, justificados pelos resultados medíocres que os alunos apresentam. No Michigan, onde metade das escolas deverão ser encerradas. No Idaho, onde um superintendente da instrução pública recebeu ameaças e teve o seu carro vandalizado depois de anunciar o seu plano de reforma da educação para aquele estado. E no Ohio, onde uma mulher foi presa por ter dado uma morada (da sua residência) falsa para que as suas filhas pudessem frequentar uma escola melhor. Entretanto, ao nível universitário, multiplicam-se os casos de desrespeito da liberdade de expressão; e a Associação para a Educação Nacional (o maior sindicato de professores dos EUA) prepara-se para apoiar Barack Obama na sua campanha para a reeleição.
Que fazer? Atente-se ao que disse Rand Paul, em entrevista recente no programa de David Letterman: (mais) dinheiro não é sempre a resposta; foi um erro tirar a educação da esfera local e passar a controlá-la a partir de Washington; é a competição que torna as coisas melhores. Sábias palavras de um senador novato... mas médico experimentado, que sabe qual é a «doença» e qual poderá ser a «cura».

Sem comentários: