terça-feira, 19 de novembro de 2013

Matar Lincoln, outra vez

Hoje assinalam-se os 150 anos do denominado «Gettysburg Address», discurso, ou dedicatória, que Abraham Lincoln proferiu aquando da inauguração do cemitério onde foram enterrados os soldados que pereceram na batalha da guerra civil norte-americana travada, em 1863, na cidade com o mesmo nome, na Pensilvânia. Apesar da sua brevidade (menos de 300 palavras em menos de cinco minutos), é uma das mais famosas, influentes e notáveis peças de oratória da história dos Estados Unidos da América, contendo a famosa expressão «um governo do povo, pelo povo e para o povo», e está reproduzida integralmente numa das paredes do memorial em honra do 16º presidente em Washington.
Naturalmente, a efeméride foi evocada condignamente hoje, e a sua preparação já se prolongava há algum tempo. Porém, uma ausência marcou a cerimónia: a do actual presidente dos EUA. Aliás, há pelo menos mais de uma semana que se sabia, que estava anunciado, que Barack Obama iria faltar. O que não deixa de ser surpreendente em alguém que, mais do que uma vez, afirmou admirar Abraham Lincoln, e até utilizou (jurou sobre) o exemplar da Bíblia daquele nas duas vezes em que tomou posse. Logicamente, o Nº 44 não pode alegar ignorância da data – os assessores encarregados da agenda, se competentes, avisariam com a antecedência necessária; nem falta de mobilidade – o Sr. Hussein não hesita em viajar no Air Force One regularmente, quantas vezes em férias e/ou para iniciativas partidárias de angariação de fundos. Mais: ele foi uma de 61 «celebridades» que participaram, lendo as famosas palavras, na filmagem de um documentário sobre o tema, pelo que não restam quaisquer dúvidas de que ele sabia perfeitamente que o grande dia se aproximava!
É por tudo isto que a «desculpa» que veio hoje da Casa Branca se torna ainda mais ridícula: ele não foi por causa dos problemas com o «ObamaCare» e com o sítio na Internet respectivo! Na verdade, não foi a Gettysburg porque achou mais importante ocupar este dia encontrando-se com senadores para tentar que o Congresso não imponha mais sanções ao Irão, onde vigora um regime obscurantista e terrorista – ou seja, uma atitude contrária ao «espírito» do discurso do seu antecessor de há século e meio! No entanto, e em última análise, o motivo principal da sua não comparência poderá, provavelmente, ser este: Abraham Lincoln era republicano, e o seu opositor Jefferson Davis, líder da Confederação, cujo exército foi derrotado em Gettysburg, era democrata. Elogiar, homenagear o «honesto Abe» só não deslustra um «azul» quando não está em causa uma comparação imediata e inequívoca entre as «partes», e, em simultâneo, a celebração de uma e a condenação de outra. Que foi o que aconteceu também no evento de hoje. Barack Obama mais não fez do que confirmar de que «lado» é que está: daquele dos esclavagistas, dos segregacionistas, dos racistas; enfim, do seu partido. Reconheça-se-lhe a «coerência».
Não se está a afirmar que (algum)as pessoas não podem mudar, que não haja arrependimentos, correcções, mudanças de opinião, de posição. Mesmo que tal leve muito tempo… leve anos. Muitos. 150 anos, no caso do jornal Patriot News (antes The Patriot & The Union) de Harrisburg (cidade próxima de Gettysburg), que este mês, e finalmente, assumiu que errou, e por isso pediu desculpa, por em editorial da edição de 24 de Novembro de 1863 ter criticado e desvalorizado o discurso de Abraham Lincoln. No entanto, aquele periódico não deixou de, em 2012, apoiar Barack Obama e apelar à sua reeleição. Aparentemente, há ali uma «tradição» - de más avaliações – que é para manter…
Todavia, pior do que o jornal The Patriot News, comportou-se – e ainda se comporta – a Universidade de Illinois Nordeste, em Chicago, que tem num dos seus edifícios uma placa em que se afirma que o presidente Abraham era «democrata». Não se trata só de uma falsificação, de um revisionismo da História; trata-se de um vil, reles, insulto. É como que, simbolicamente, matar Lincoln, outra vez. Já chegou a primeira, a verdadeira, em 1865; em que o assassino foi John Wilkes Booth… um democrata.  

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