sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Desmistificar JFK

(Uma adenda no final deste texto.)
Hoje assinalam-se (é incorrecto, e até insultuoso, dizer «celebram-se» ou «comemoram-se») os 50 anos da morte – do assassinato – de John Kennedy. Não têm faltado, nas últimas semanas e especialmente hoje, e em todo o Mundo, todo o tipo de peças mediáticas sobre a vida, a obra, a carreira do 35º presidente dos EUA, quase todas, previsivelmente, laudatórias, entusiásticas, encomiásticas. Porém, a bem da verdade, mesmo que tenha de se ser iconoclasta e fazer de «advogado do diabo», impõe-se igualmente desmistificar JFK…
… Referindo, recordando, revelando, aspectos menos conhecidos e/ou menos agradáveis da sua biografia. Antes de mais, e inevitavelmente, o facto de ter sido um adúltero inveterado e impenitente; mas também o de ter manifestado, durante a juventude, simpatia para com Adolf Hitler, o Partido Nacional socialista alemão e o nazismo; e de a sua eleição em 1960, com uma victória sobre Richard Nixon, ter estado envolvida em suspeitas e em irregularidades. Não faltou quem, posteriormente, desvalorizasse os fracassos e valorizasse os sucessos dos seus (menos de) três anos enquanto presidente, enfim, quem tentasse reescrever a História. No entanto, a verdade é que ele, como democrata, pouco ou nada teria a ver com os seus «camaradas de partido» de hoje: era a favor da diminuição de impostos (que efectuou) e de uma política externa e de defesa intervencionista (autorizou o ataque da «Baía dos Porcos» a Cuba e iniciou a presença norte-americana no Vietname), além de que, sendo católico, nunca concordaria com o aborto e com o «casamento» entre pessoas do mesmo sexo. E, para «cúmulo», foi membro da National Rifle Association!
Em última análise, John Kennedy acaba por destacar-se favoravelmente quando comparado com outros «grandes» presidentes democratas do século XX. Woodrow Wilson não só introduziu o imposto sobre o rendimento mas também, o que foi muito mais grave, practicamente anulou as políticas de integração racial e de não discriminação implementadas após a guerra civil. Franklin Delano Roosevelt não só dificultou, com o «New Deal», a efectiva recuperação económica do país após a Grande Depressão, mas também, o que foi muito mais grave, autorizou a construção de campos de concentração nos EUA e o internamento neles de cidadãos nipo-americanos; há inclusivamente quem alegue que ele era um anti-semita que não fez tudo o que podia e devia para salvar os judeus europeus. Harry Truman autorizou o lançamento de bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki – ou seja, sobre (duas) cidades, sobre populações civis. Isto quanto aos antecessores «azuis» de JFK. Quanto aos sucessores: Lyndon Johnson, para além de continuar a ser acusado, por alguns, de ter sido cúmplice ou até mandante no assassinato de Kennedy (e culpado de muitos outros crimes, incluindo corrupção, fraude eleitoral e outros homicídios), instituiu o conjunto de medidas contra a pobreza conhecido como «Grande Sociedade» que, pelo contrário, muito viriam a prejudicar as famílias afro-americanas; Jimmy Carter, que «evoluiu» de racista sulista «convencional» para adversário de Israel e apologista de palestinianos e outros muçulmanos; e Bill Clinton, que, pior do que ter dado várias «facadas no matrimónio» com Hillary, também teve o seu quinhão de escândalos, e não apenas de índole sexual. Tendo em consideração tudo isto, toda a história (mais ou menos) recente do país, mais ridículo se torna falar dos «escândalos» dos republicanos, e em especial, e repetidamente, de Watergate. Muito antes deste, e como ficou claramente demonstrado, a América já perdera a sua «inocência».
Entretanto, Barack Obama muito se tem «esforçado» por ser um «membro» de pleno direito do «clube azul da infâmia», através da suas sucessivas tentativas de destruição por dentro… perdão, de «transformação fundamental» dos EUA. Nesse processo ele não tem qualquer pudor em evidenciar as suas preferências, as suas prioridades… partidárias. A 19 de Novembro não teve tempo para se deslocar a Gettysburg, na Pensilvânia, e homenagear Abraham Lincoln nos 150 anos do famoso «address»; mas teve tempo no dia seguinte – e 48 horas antes da data exacta! – para ir ao cemitério de Arlington, na Virgínia, para homenagear John Kennedy a propósito dos 50 anos da morte daquele. Confirma-se o que eu escrevi: para o Sr. Hussein o comportamento é diferente consoante se tenha um «D» ou um «R» a seguir ao nome.
A circunstância, e a coincidência, de duas efemérides tão importantes terem ocorrido com tão poucos – dois! – dias de intervalo poderia ter constituído uma excelente oportunidade para o actual presidente promover a unificação do país. Todavia, ele prefere fomentar a desunião – os exemplos disso têm-se acumulado desde que tomou posse – e o diferente respeito para com dois antecessores já nem é o mais recente. A decisão, ontem, dos democratas do Senado, liderados por Harry Reid, de alterar regras, e uma tradição, com mais de 200 anos, ao eliminarem (com hipocrisia porque no passado criticaram esta hipótese) a possibilidade de «filibuster», ou seja, a necessidade de haver uma maioria qualificada (mais de 60 votos) para determinadas decisões, e substituindo-a por uma maioria simples, é, mais do que um atentado, do que um «tiro» à/na Constituição, uma autêntica declaração de guerra à oposição.
(Adenda - Ainda sobre John Kennedy, ler este artigo de Miguel Castelo-Branco.

2 comentários:

Fernando disse...

No passado, quando se veio a saber que o Obamacare retirava, contra a promessa de Obama, seguros de saúde a 15 milhões de pessoas em troca de 45 milhões que poderiam vir a ser (em teoria) beneficiados, o PÚBLICO louvou essa "permuta". O que irá dizer o PÚBLICO agora que se sabe que «Almost 80 million with employer health care plans could have coverage canceled, experts predict»

Fernando disse...

As verdades sobre o "erro histórico"

Not neutralized: Iran’s uranium only 'temporarily' converted, experts say

Six-month freeze on hold: Iran can continue nuke activities until details of deal are finalized