domingo, 15 de janeiro de 2012

Carregar a cruz

Mais um grande «escândalo», mais uma grande «polémica»: foram reveladas e divulgadas imagens de soldados norte-americanos no Afeganistão a urinarem sobre cadáveres de talibãs que tinham abatido. Envergonhada, indignada, a actual administração norte-americana não tardou… a pedir desculpa. Hillary Clinton e Leon Panetta exigiram investigações às chefias militares e deram explicações a Hamid Karzai, esse tão grande «aliado» e «amigo» dos EUA…
Pelo que até agora foi possível observar, Barack Obama não é responsabilizado pessoalmente por este caso como George W. Bush o foi pelo de Abu-Ghraib. E não seria inteiramente despropositado se assim acontecesse: de facto, o Nº 44 retirou tropas do Iraque e reforçou-as no Afeganistão – esta tornou-se efectivamente a «sua» guerra. Mais um caso de dualidade de critérios? Que ideia! Aliás, nenhuma ligação com os presentes inquilinos da Casa Branca fora estabelecida aquando de outros dois casos recentes: o de (alegados) abusos sobre prisioneiros e o de assassinato de civis afegãos, por outros grupos de militares dos EUA. No segundo desses casos os envolvidos já foram julgados e condenados em tribunal, tal como haviam sido os da famigerada prisão de Bagdad. Enfim, é a hipocrisia em todo o seu esplendor: pode-se matar terroristas, cara a cara com balas ou à distância com drones, mas não se deve «desrespeitar» as suas carcaças. Porque, afinal, os talibãs são tão «dignos» de respeito…
… E, segundo Joe Biden, não são o inimigo! Como é que os secretários de Estado e da Defesa não tremeriam de medo da reacção à «profanação» de terroristas muçulmanos quando é o próprio vice-presidente a declarar que eles não são os «maus da fita» e merecem ser parceiros de negociação? É a «lógica» democrata de apaziguamento, demonstrada também por: John Kerry, ao encontrar-se no Egipto com representantes da Irmandade Muçulmana, tendo saudado os resultados das eleições naquele país que deram a maioria dos votos a fundamentalistas islâmicos; Jeffrey Feltman (adjunto de Hillary Clinton), ao declarar que o seu governo quer dialogar com todos os partidos islâmicos que tomarem o poder nos seus países na sequência da «Primavera Árabe»; Dalia Mogahed, conselheira (muçulmana) de Barack Obama para «assuntos árabes e islâmicos», ao cancelar um encontro do presidente com o patriarca maronita (cristão) do Líbano; Mike Quigley, representante do Illinois, ao pedir desculpa «em nome da América» numa conferência islâmica em Chicago (nada de especial, estava só a seguir o exemplo do «chefe»); Leon Panetta, de novo, ao ratificar a classificação de «violência no local de trabalho» atribuída ao massacre em Fort Hood pelos seus subordinados no Departamento de Defesa! E convém lembrar que até a NASA foi «reorientada» para um «intercâmbio cultural» com o Médio-Oriente          
Não se pode, pois, dizer que os homens e as mulheres em uniforme que combatem no Afeganistão contam com uma «retaguarda» consistente e credível em casa. E, fora, no estrangeiro, no terreno, estão constantemente à mercê de ataques traiçoeiros: na semana passada um soldado afegão disparou sobre «colegas» norte-americanos que… jogavam voleibol, matando um e ferindo três. Este caso (o mais recente de vários semelhantes) mereceu igual destaque na comunicação social? Hamid Karzai pediu desculpa e prometeu que iria investigar? Não custa a acreditar que, lá longe, o moral das tropas esteja em baixo, sintam dúvidas e fiquem mais furiosos e predispostos a cometerem actos… menos honrosos. E nem sequer são autorizados (aqueles que o são) a mostrarem que são cristãos: até uma simples cruz que adornava uma capela improvisada, numa das bases da NATO, foi retirada pouco tempo antes do Natal!          
Mesmo que metaforicamente, os soldados que se «aliviaram» de tanta insegurança terão de «carregar a cruz» de terem desrespeitado, sim, a instituição a que pertencem, e não os que mataram. Eles erraram, «pecaram» (um pouco…), mas quem é que lhes pode «atirar a primeira pedra»? Os talibãs «bons» são os talibãs mortos: merecem, tanto na vida como na morte, serem tratados com violência e com desprezo; para eles não deve haver compreensão nem compaixão. E àqueles que disserem que tais sentimentos não são compatíveis com o Cristianismo, eu contraponho que no Afeganistão, e em outros países que têm o crescente nas bandeiras, trocar Maomé por Jesus pode traduzir-se numa execução. Há limites para «dar a outra face».
(Adenda: não são apenas os norte-americanos... quatro soldados franceses foram mortos por um soldado afegão.)     

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