sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Passar o ano atrás das grades

Se quiséssemos exagerar de um modo caricatural, diríamos que existem três tipos de democratas: os que estiveram presos; os que estão presos; e os que ainda não estão presos. Pode-se e deve-se contrapor, e perguntar: mas não existem também republicanos – políticos, militantes, simpatizantes, apoiantes – que têm ou que tiveram problemas com a lei? Sem dúvida, e disso já demos um exemplo (entre outros possíveis) aqui no Obamatório. Porém, a propensão dos «azuis» para a ilegalidade é claramente superior à dos «encarnados»…
… E este ano de 2011 ficou marcado, entre outros casos, pela condenação a (pesadas) penas de prisão de dois homens, ambos por crimes de corrupção e de extorsão, que foram aliados muito próximos de Barack Obama, e não só no início da sua carreira pública e política: Rod Blagojevich (14 anos) e Antoin «Tony» Rezko (10 anos e meio). Este, «empresário» nas áreas do imobiliário e da restauração, já estava encarcerado e vai passar o ano atrás das grades, enquanto o ex-governador do Illinois vai aguardar em liberdade o resultado de um recurso. Entretanto, começa já em Janeiro – a não ser que o pedido de adiamento seja aceite – o julgamento de mais um grande nome dos «burros»: John Edwards, ex-senador e ex-candidato a presidente e a vice-presidente (com John Kerry em 2004), que é acusado de conspiração e de violação da lei das finanças eleitorais, e que, se condenado, poderá passar 30 anos (!) na prisão. Outro democrata proeminente cujo julgamento em tribunal é uma possibilidade cada vez maior: Jon Corzine. O ex-governador de Nova Jersey – derrotado em 2009 por Chris Christie – tentou explicar numa audiência no Congresso, mas sem grande sucesso, o que aconteceu a mais de um bilião de dólares que desapareceram das contas de clientes da companhia de investimentos MF Global, de que ele foi CEO.
Não se pense, no entanto, que entre os democratas a vontade de deitar a mão a valores e a votos alheios se restringe aos «peixes graúdos»: os «peixes miúdos» também mostram amiúde vontade de «progredir na carreira». Dois exemplos: Mary Hayashi, representante autárquica na Califórnia, foi detida em flagrante e acusada por roubo (de roupa) – ironicamente, um dos seus pelouros é a defesa do consumidor (!); Michael Loporto, também representante autárquico, mas em Nova Iorque, que admitiu ser culpado num caso de fraude eleitoral (falsificação de documentos de inscrição de eleitores), juntamente com três cúmplices.
Enfim, há aqueles cuja ausência numa prisão ou num tribunal provoca espanto. Como James Hoffa Jr. e Richard Trumka, que são talvez os mais poderosos líderes de confederações sindicais dos EUA, organizações que, naquele país, têm um perfil quase para-criminal: extorsão, intimidação e até agressão são prácticas a que recorrem regularmente para atingir os seus objectivos, que envolvem normalmente o apoio a políticos democratas e a oposição a republicanos. E como Barney Frank, representante do Massachusetts que, finalmente, decidiu «reformar-se» da política; incrivelmente, nunca foi judicialmente acusado pela sua (ir)responsabilidade no colapso do mercado imobiliário sub-prime que, por sua vez, causou a crise financeira mundial de 2008… nem pela sua cumplicidade no negócio de prostituição homossexual masculina montado por um dos seus «namorados» na sua própria casa! Foram mais de 30 os anos em que Frank serviu no Congresso, e cada um deles representou como que um annus… horribilis. Boas saídas e melhores entradas é o que (não) lhe desejamos.    
Que 2012, na política norte-americana, não seja «horrível» é o voto do Obamatório. Mas disso só poderemos ter a certeza a 7 de Novembro…          

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