sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

… E o futuro não lhes pertenceu

(Uma adenda no final deste texto.)
As palavras têm significados, têm causas, e podem ter consequências. Em 2012, pouco antes de ser reeleito em Novembro daquele ano, e depois de ter concordado com (e eventualmente causado) a prisão de um cineasta que realizou um (obscuro) filme que alegadamente ofendia os muçulmanos e que, segundo a actual administração norte-americana – pelas vozes, nomeadamente, de Hillary Clinton e de Susan Rice – teria causado o ataque ao consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia em que morreram quatro compatriotas, incluindo o embaixador naquele país, Barack Obama declarou durante um discurso na assembleia geral da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, cenário (não exclusivo) dos atentados de 11 de Setembro de 2001: «O futuro não deve pertencer àqueles que insultam o profeta do Islão
No passado dia 7 de Janeiro, em Paris, terroristas islâmicos levaram aquelas palavras aos actos ao atacarem a sede do jornal Charlie Hebdo e ao assassinarem dez membros da redacção do jornal (e dois polícias então no local) que, efectivamente, e repetidamente, haviam insultado Maomé, Alá, o Islão… e também Jesus e o Cristianismo, Maomé e o Judaísmo, o Deus destas duas religiões, e muitos, muito mais indivíduos e instituições; para eles deixou de haver futuro, este deixou de lhes pertencer. A liberdade de expressão, valor fundamental das sociedades ocidentais democráticas e desenvolvidas, é isso mesmo: o direito – e até o dever – de, se for isso que se quiser, insultar tudo e todos. Bill Maher – ironicamente, um grande apoiante de Barack Obama – sabe isso, entende isso. E tem razão ao dizer que não é suficiente para os muçulmanos «moderados» condenarem este ataque na França em particular e todos os outros cometidos pelos seus irmãos «radicais» em todo o Mundo: é necessário que eles aceitem, e reconheçam, que a sua religião pode ser satirizada sem haver o perigo de represálias. E, já agora, que reconheçam também que as mulheres são pessoas com igual dignidade e regalias, que os apóstatas não devem ser executados, que os adúlteros não devem ser apedrejados, que os homossexuais não devem ser enforcados…
Neste âmbito, qualquer manifestação de pesar, qualquer comunicado de condenação, por parte do Sr. Hussein e dos seus comparsas não deve, pois, ser tomado (inteiramente) a sério. Por mais do que uma vez eles mostraram dar mais importância ao apaziguamento de muçulmanos do que à defesa da liberdade de expressão. Aliás, também já em 2012 a Casa Branca, pela «voz do dono» Jay Carney, havia criticado o Charlie Hebdo! Mais: a presidência de Barack Obama tem sido apontada – por jornalistas da esquerda à direita – como a mais hostil à comunicação social na história contemporânea dos EUA, e não faltam os exemplos (ameaças, escutas, processos judiciais, restrições de acesso) disso mesmo. Porém, muito dos detentores do «quarto poder» do outro lado do Atlântico provaram que não merecem muita solidariedade porque demonstraram novamente, sem surpresa, a sua cobardia e a sua hipocrisia, agora perante o massacre de colegas seus ocorrido em França: não mostrando as caricaturas do Charlie Hebdo, dando mais importância a «represálias» imaginadas ou empoladas contra as comunidades muçulmanas, invocando supostas atrocidades equivalentes cometidas por cristãos… Além da Fox News, o Washington Post é (desta vez), nos média mais importantes, uma excepção à regra seguida pela ABC e pela NBC, pela MSNBC, pelo New York Times - uma e outra vez; e pela Associated Press e pela CNN, que não mostram imag(inaçõ)e(n)s de Maomé mas que mostram (e até vendem reproduções de) imagens de uma «obra artística» que consiste num crucifixo dentro de um recipiente com urina…
O atentado em França nem foi, no entanto, o mais mortífero ocorrido no dia 7: no Iémen cerca de 40 pessoas foram mortas e cerca de 60 foram feridas por outros terroristas muçulmanos – uma designação que, entre muitos outros no «eixo transatlântico» Washington-Bruxelas, Howard Dean se recusa a utilizar, apesar de eles invariavelmente gritarem «Alá é grande!» aquando dos ataques. Mas, sim, embora (muito) maus, eles são muçulmanos, e verdadeiros. Quase tão perigosa quanto a afirmação homicida de uns é a negação suicida de outros.   
(Adenda – Antes de, tal como o irmão, ter levado com uma bala na testa que infelizmente impediu uma punição mais lenta e dolorosa, Chérif Kouachi ainda conseguiu falar para um canal de televisão e revelou que atacaram o Charlie Hebdo por indicação da Al Qaeda. Então esta, segundo Barack Obama, não tinha sido destroçada, destruída, «decimada»? Não estavam os seus elementos «em fuga»? Pelos vistos estavam… para a Europa. Mais: os Kouachi receberam treino de armas no Iémen… o país em que o Nº 44 afirmara terem sido concluídas com sucesso operações antiterroristas. Considerando tudo isto, e ainda o facto de o Sr. Hussein ter vindo a libertar recente e regularmente terroristas de Guantánamo, até se compreende que ele tenha decidido não comparecer à grande marcha de 11 de Janeiro em Paris – ao contrário de outros líderes mundiais, como o primeiro-ministro israelita e o presidente palestiniano, que desfilaram lado a lado.)  

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