domingo, 2 de dezembro de 2012

Culpas no cartório

(Duas adendas no final deste texto.)
A eleição presidencial de 6 de Novembro último serviu também para se fazer, em simultâneo, vários estudos, inquéritos e sondagens. E uma das mais irritantes – mas não das mais surpreendentes – é a que indica que cerca de metade dos norte-americanos atribuem a culpa dos problemas económicos dos EUA a George W. Bush. É a demonstração decisiva de como Joseph Goebbels estava certo: uma mentira, se repetida muitas vezes (sem ser efectivamente denunciada e desmentida) torna-se «verdade». A questão aqui não é só a de, (quase) quatro anos depois de ter tomado posse, o presidente em exercício (qualquer que ele seja) é obviamente, sempre, o principal responsável pelo estado da economia; é também, concretamente, a de que, tal como não é culpado pelos problemas em 2012, GWB não foi culpado pelos de 2008! Mas que importância tem isso? Há que (continuar a) culpar o homem, mesmo que se negue fazê-lo, e mesmo que seja para sempre!
A crise de há quatro anos foi causada pelo colapso do mercado imobiliário dito sub-prime norte-americano. Ou seja, quando se tornou insustentável a utopia (mais uma) da esquerda – isto é, dos democratas e liberais – de que qualquer pessoa, qualquer família do país, poderia adquirir e pagar casa própria. Através de directivas políticas e de acções judiciais, muitos bancos foram obrigados a conceder empréstimos hipotecários que, realisticamente, poucas ou nenhumas probabilidades tinham de ser reembolsados - e, de facto, muitos não foram. E Barack Obama tem – literalmente! – culpas no cartório por ter sido, enquanto advogado – e «(des)organizador comunitário» - em Chicago, promotor e protagonista de um dos maiores processos deste género, que opôs em 1995 o Citibank a quase 200 dos seus clientes, todos afro-americanos – e dos quais mais ou menos metade viriam a declarar, posteriormente, insolvência.
Quase 20 anos depois, o que aconteceu no Illinois (e em outros Estados) parece estar a acontecer, a uma escala muito maior, em todo o país. Este não está muito longe de entrar em bancarrota, resultado inevitável de quando a (má) ideologia se sobrepõe à racionalidade, económico-financeira e não só; de quando se gasta mais do que se deve, pedindo emprestado sem ter possibilidade de pagar. Porém, para os EUA, e devido à sua dimensão, não haverá «troika terrestre» que lhe valha – a haver uma, terá de vir de outro planeta, de outro sistema solar ou de outra galáxia!
Toda a «filosofia», todo o «pensamento económico-financeiro» de Barack Obama e do actual Partido Democrata pode ser resumido, condensado em duas afirmações feitas pelo Sr. Hussein em campanha eleitoral, uma em 2008 e outra em 2012. Do «when you spread the wealth around is good for everybody» ao «You didn’t build that! Somebody else made that happen!» vai, como se costuma dizer, todo um programa, que explica toda uma política, e todos os fracassos e todos os escândalos do seu primeiro mandato, traduzidos em indicadores, em números que são recordes… negativos. Paul Ryan, como habitualmente, resumiu e explicou melhor do que outros a situação, avisando que, com as «Obamanomics», o futuro é, seria, de «dívida, dúvida e declínio». Mas, enquanto candidato a vice-presidente, a maioria dos eleitores, infelizmente, não confiou nele… Aquelas afirmações de Obama, que até há poucos anos nunca se imaginaria que pudessem ser proferidas por um presidente norte-americano, por serem tão «socializantes» e… «marxizantes» (sim, do Karl, mas também do Chico, Groucho e Harpo) representa(ra)m o início e o fim de um ciclo, de um círculo (vicioso) que, infelizmente, tudo o indica, vai repetir-se…
 … Quando estão a ser discutidas as formas de se evitar o chamado «fiscal cliff» («falésia fiscal»), para onde os EUA se encaminham e cairão se não forem terminados – ou pelo menos atenuados – os maus hábitos instalados. Da parte dos democratas, as propostas são as habituais: aumentos de impostos para os «mais ricos» e poucos ou nenhuns cortes na despesa. O mesmo é dizer, «conversa fiada» a que não se deve dar credibilidade: se concretizados, esses aumentos de impostos para os «mais ricos» apenas serviriam para financiar o governo federal durante… oito dias (!) Ironicamente, os cinco Estados que mais seriam afectados por esses aumentos deram, todos, a victória a Barack Obama a 6 de Novembro! Então, que fazer? Timothy Geithner defende que se deve aumentar o limite da dívida até ao «infinito», e Jay Carney diz que seria «irresponsável» exigir cortes na despesa idênticos aos aumentos de impostos! Note-se que ambos são porta-vozes do «dono» Barack Obama… Nancy Pelosi, como não poderia deixar de ser, concorda que o poder de aumentar esse limite deve caber, exclusivamente, ao presidente! E Harry Reid, comentando as críticas de John Boehner à atitude e ao comportamento dos democratas (a começar pelo presidente) nesta matéria, disse que «não compreendo o cérebro dele». É «normal» que alguém cujo próprio cérebro parou de raciocinar há bastante tempo não perceba outro que ainda o faz… Tal como devem ter parado – ou são pouco utilizados – os cérebros dos que, nos EUA, consideram o socialismo como algo positivo e que, concomitantemente (provavelmente, são quase os mesmos), acreditam que são os republicanos os principais - ou únicos – culpados pelo «fiscal cliff». Afinal, se são do mesmo partido de George W. Bush, «só podem» ser culpados, não é verdade?
Assim sendo, se o GOP já tem a «fama», porque não ter também o «proveito»? Alguns comentadores conservadores, nomeadamente Charles Krauthammer e John Nolte, apelam a que não se ceda à chantagem democrata… e que se deixe o país cair no «fiscal cliff». Talvez assim a maioria dos norte-americanos, ou a maioria que reelegeu Barack Obama, se aperceba de que os «burros» não são sérios, nada têm de consistente nem de competente para oferecer, e que os problemas não se resolvem apenas através de uns – demagógicos, ideológicos e inúteis – aumentos de impostos. Porque eles sentem a sua confiança reforçada pelo recente triunfo presidencial – embora, recorde-se, por uma margem pequena, e inferior à de 2008 – estão ainda mais à vontade para fazerem exigências e estabelecerem condições absurdas, entre as quais, imagine-se, um novo plano de «estímulo» à economia! No que são acompanhados pelos sindicatos, seus tradicionais aliados, que, sabedores da importância que tiveram na reeleição do Nº 44, se mostram ainda mais à vontade para abusarem nos seus protestos e reivindicações, como se viu nas últimas semanas. E, claro, continuam a contar igualmente com o colaboracionismo de uma certa comunicação social: na NBC diz-se que, depois de a eleição ter terminado, «já é seguro outra vez falar da economia e dos empregos» (claro, porque o preferido ganhou... que «alívio»!); o NYT, que em 1992, com George H. Bush, considerava decepcionante um crescimento de 2,7% no produto interno bruto, agora, em 2012, considera uma «melhoria lenta mas sustentada» um crescimento de 2%!    
As coisas chegaram a um ponto tal que os socialistas franceses, novamente no poder, vêem em Barack Obama um modelo a imitar, um bom exemplo a seguir! Bem, pelo menos o Sr. Hussein ainda não se lembrou de querer aplicar aos «ricos» dos EUA uma taxa de IRS no valor de 75%... por enquanto. Há, entre os democratas, quem ameace que se está apenas no início. De quê? No horizonte de alguns poderá haver, eventualmente, um imposto sobre a riqueza, sobre o património. Mas, aí, o termo de comparação estaria não em Paris mas sim talvez em Havana ou em Caracas.
(Adenda - Harry Reid é um fala-barato, sempre com bazófias e bravatas, mas, nas horas da  verdade, encolhe-se e acobarda-se... Desafiado por Mitch McConnell a levar à votação, no Senado (onde os democratas continuam em maioria), o «plano fiscal» de Barack Obama, decidiu... não o fazer! Mas, então, as propostas do presidente não são as melhores para o país?!)
(Segunda adenda - Erskine Bowles, um democrata que integrou a administração de Bill Clinton e que co-dirigiu, com o senador republicano Alan Simpson, a Comissão Nacional para a Responsabilidade e Reforma Fiscal... empossada por Barack Obama, é... taxativo: «a despesa é a maior parte deste problema», e o aumento de impostos em que o presidente insiste não o vai solucionar. Que as suas palavras sejam recordadas sempre que um «burro» irresponsável vier acusar os republicanos de, entre outras idiotices, só quererem defender os «ricos».)     

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